quinta-feira, abril 29, 2010

"Kick-ass"


"Kick-ass" é um filme em cuja palavra "demência" pode ser usada para explicar basicamente o que nos inspira, enquanto o vemos. Porquê? Poderão ler em várias críticas coisas que envolvem palavras como "meta-diegética" e "desconstrução". São giras, mas claramente uma tentativa de intelectualizar o parzer culpado de se gostar de um blockbuster. A BD de Mark Millar e John Romita na qual o filme é baseado presta-se a isso, a essa análise. Mas quem é honesto, admite que o filme é demente, porque tem uma miúda de onze anos a matar mauzões como se não houvesse amanhã.
Mas lá chegaremos. O filme conta em traços gerais a ideia parva que um adolescente nerd tem de se transformar um super-herói. Para ele, basta vontade e um fato parolo enviado pelo correio. Claro que o primeiro pensamento é "Oh não, mais um daqueles filmes em que não damos nada pelo herói e afinal, ele sempre teve os poderes dentro dele", mas o filme rapidamente afasta essa ideia e enquanto se entretém a satirizar os fenómenos de popularidade internética, mostra-nos que o adolescente, Dave Liszewski, é mesmo tótó. É quando os verdadeiros heróis do filme surgem que a coisa passa do mundo adolescente para o dos super-heróis a sério. Big Dady e Hit-girl, um pequeno prodígio da matança que com a sua katana dupla, entra realmente a matar no filme, têm, ao contrário de Kick-ass, capadidades para deter criminosos. Mas também muito pouca sanidade. rapidamente os três entram em rota de colisão com o mafioso da cidade, Frank d'Amico, e também o seu filho, Chris.
A mensagem do filme é simples: "Sem grande poder, vem uma grande responsabilidade", um riff aos filmes do Homem-Aranha. Matthew Vaughn, o realizador, é um cruzamento bizarro entre o John Woo de Hong-Kong e um Michael Bay com juízo: aproveitando habilmente um orçamento relativamente magro, ele transforma "Kick-ass" num pequeno concentrado de loucura visual e de história, com Nicolas Cage a imitar o Batman de Adam West e Hit-girl, a miúda acima referida. Ela mata gente, diz palavrões à bruta e aceita a destruição como brincadeira. No entanto, nunca nos esquecemos de que ela é realmente uma miúda, como se fosse a filha perdia da noiva de "Kill Bill" e a Mathilda de "Léon". Isto pode abespinhar moralistas e gente que considera que sempre que se mostra uma arma num filme, as pessoas correm a matar algué, mas é no fundo um espelho da nossa própria identidade fílmica, de aceitar a violência nos filmes como algo de normal e natural. Nesse sentido, o filme é mais paródia ao cinema violento do que ao cinema de super-heróis. Mas consegue ser bem sucedido em ambos os esforços. Louva-se também o retrato mais ou menos natural do que é a vida de um nerd numa escola, sem exageros. Há apenas uma sub.-intriga envolvendo homossexualidade que achei meio cliché... Mas que ainda assim, tem a sua piada.
É um filme que se recomenda a quem gosta de entretenimento delirante e não tem uma sensibilidade particular a um ou outro tabu. Ah, e não fica revoltado quando vê isto:

http://www.youtube.com/watch?v=BGxLHyk6_h4

terça-feira, abril 27, 2010

Mariquinhas


Ao que parece, um vulcão islandês decidiu tossir o catarro cá para fora, atrapalhar a vida dos europeus e passar por uma coisa assustadora e perturbante, capaz de alterar as vidas quotidianas das pessoas. Este blog,apenas para colocar as coisas na sua devida perspectiva, tem o prazer de apresentar cinco erupções vulcânicas ocorridas nos tempos recentes (os últimos 2000 anos) que arreliaram bem mais do que este escarrinho de nada.

Tambora, 1815 - Um festival. Apenas e só, a maior erupção registada desde a invenção da escrita. 160 quilómetros cúbicos de cinzas explidas, no total. Em 1816, não houve Verão em todo o mundo, porque as cinzas ainda se encontravam em suspensão na atmosfera. Ah, e o pormenor de terem ficado 71.000 mortos pelo caminho, entre os resultantes da erupção propriamente dita e os restantes em consequência de efeitos derivados da mesma. Ah, e Tambora fica na Indonésia, o que não impediu que fosse o principal causador da pior fome do século XIX no Hemisfério Norte europeu e norte-americano. Uma jóia de vulcão.

Krakatoa, 1883 -Continuamos na Indonésia para mais um festival de destruição.Uma erupção tão poderosa que destruiu todo o vulcão e a ilha onde este se encontrava. Explosões tão violentas que foram ouvidas em Perth, Austrália, a 3500 km de distância, e nas Ilhas Maurícias, a 4800 km. A pressão causada pela poderosa explosão final rebentou com tímpanos de marinheiros no estreito de Sunda, Indonésia e foi registada em barómetros por todo o globo, inclusivé cinco dias depois do evento, oq ue não é admirar, visto que a velocidade calculada da onda foi de 1086 km/h. O vulcão expeliu cinza a uma altura de 80 km. Parte dessa cinza, ainda ardente, caiu numa ilha próxima e matou perto de 1000 pessoa,s num fenómeno raríssimo. O resultado mais evidente desta erupção é a existência de Krakatau, uma ilha mais pequena do que Krakatoa, completamente formada pela lava desta erupção.

Hatepe, 180 - Na Nova Zelândia, este brincalhão achou que seria espectacular expelir 120 kuilómetros cúbicos de material piroclástico e assim, transformou os céus de Roma numa vermelhidão brilhante. A coluna da erupção tinha 50 km de altura, o que a transforma numa das maiores erupções dos últimos 5000 anos.



Monte Pelée, 1902 - Na Martinica, arquipélago de ilhas paradisíacas no Pacífico, houve show de bola: a erupção mais detsruidora do século XX; mais de 30.000 mortos; uma cidade destruída por completo apenas à conta de piroclastos; na rota directa do vulcão, sobreviveram apenas dois indivíduos.

Nevado del Ruiz, 1985- Um dos principais cuspidores do grupo de vulcões andeanos, esta coisinha colombiana com nome fofo entrou em actividade séria, derretendo as calotas glaciares que estavam no seu topo. O resultado foi uma avalanche de lama e lava que soterrou por completo a cidade de Armero, no sopé do vulcão. 23000 mortos, na segunda maior tragédia vulcânica do século XX, e a quarta da História.

sábado, abril 17, 2010

Pequenino


Gosto de sentir uma música a tamborilar dentro de mim. Como se tocassem isto num piano que está algures entre os meus queixos e o meu umbigo.

terça-feira, abril 13, 2010

Como descarrilar um país

Trailer Cinema "Pare, Escute, Olhe" from Pare, Escute, Olhe on Vimeo.



Uma das minhas actividades preferidas na minha carreira de escuteiro desenrolou-se para as bandas de Trás-os-montes. Alguém achou que seria uma ideia danada percorrer a pé as margens do rio Tua. Bendita a pessoa e a ideia. Tive a oportunidade de visitar aquela que continua a ser, para mim, uma das mais belas zonas de Portugal, e percorrer um pedaço de caminho único: a linha de caminho de ferro do Tua. As suas curvas sinuosas a contornar montes, os seus carris estreitos onde não parece caber um comboio e a vista sobre o rio que lhe dá o nome são três razões, entre mais, que levam quem por lá caminha (e na altura em que o fiz, ainda não era ilegal) a julgar que passou um portal qualquer e entrou num dimensão à parte.
Li há algum tempo no jornal que esta expressão que utilizei, "pedaço de caminho único", poderá deixar de fazer sentido literalmente: planos de construção de uma barragem ameaçam submergir esse pedaço único de história portuguesa. Não estou a exagerar. A contrução da linha do Tua fez parte de um plano, que alguns chamaram ambicioso, de acabar com a desertificação do interior transmontano e criar assim uma ligação com o resto do país, evitando o envelhecimento populacional. Como parece que esse problema está mais do que resolvido, resolveu-se em primeiro desactivar a Linha e agora querem ver-se livres dela metendo-a debaixo de água. É assim que s eplaneia o rumo e o futuro de um país.
Pode-se chamar a isto de crime. Um crime ambiental, social e de roubo de identidade. Mas tem sido prática em Portugal desactivar esta linhas ferroviárias de média e pequena dimensão e apostar em ferrovias de alta velocidade e grande dimensão. Como se ligar Portugal ao país vizinho fosse mais importante do que manter as pequeunas comunidades nacionais interligadas. Quase como se no slato para a Europa, Portugal se esquecesse de si mesmo e de aquilo que o compõe.
Como já se viu, não sou nenhum especialista em reflexões. Por isso, recomendo o visionamento do documentário de que deixo o trailer neste post. O realizador é Jorge Pelicano, o mesmo de "Ainda há pastores?", e tem todo o ar de poder ser algo de muito interessante sobre esta matéria. Quando lhe puser a vista em cima, logo me alongarei sobre este assunto. Porque embora não seja fascinado por comboios, sou fascinado por beleza; e o betão não me faz cócegas do lobo frontal.

Um blog que tem andado a dormir

segunda-feira, abril 05, 2010

Ah, destes outra vez... Vou ali pôr Tokyo Hotel a tocar e já volto!


A minha visão do mundo assenta em pilares sólidos. Uns são jónicos, outros coríntios; alguns ainda são de mármore de Carrara. Um dos principais, porém, é feito de granito e nem sequer foi trabalhado. É um bloco bruto, puro, de orige,m não modificado e rijo. É feio como o caraças e ninguém gosta de vê-lo, mas ele por ali continua, pois nuncalevou uma marretada suficientemente forte para ir abaixo. Esse pilar tem um post-it escrito a dizer "Ninguém me curte".
Tem muitos anos, este pilar, e fundações imensas. Não sei de onde veio, e já várias vezes me perguntei quem o arrancou e de que formação rochosa surgiu ele, vigoroso, indestrutível e dominante. Muito tempo matutei nestas questões. Cheguei a pensar que num acesso de loucura, eu próprio fiz este pilar; ou que, num twist digno de "Fight lub", o pilar não existe e eu é que o vejo lá; que tal como o Jack do filme, se eu der um tiro no pilar, ele deixa de existir e posso cirandar por aí. A verdade não é essa. A verdade é que por cada ocasião em que penso "Esta merda tem de ir abaixo", aparecem logo vinte betoneiras de cimento a fixá-lo ainda com mais força. Gostava de percebê-lo e estudá-lo, para, enfim, tentar destruí-lo, ou pelo menos transladá-lo para um local mais discreto e menos importante que as minhas fundações. No entanto, é impossível.
Costumo chamar a este pilar o meu inimigo escondido. Porque o é. É um adversário contra o qual luto diariamente. Nunca sei se me diz a verdade, se me fala mentiras através dos buracos por onde o vento sopra e dá ilusões de vozes. O certo é que ele estálá: parado e imponente, inamovível e sem que possa fazer algo para desviá-lo. Houve tempos em que escrever me ajudava. Agora, nem isso. Ultimamente, pensei que conviver aliviava o fardo. Um pouco, mas não o suficiente para que não haja dias em que me apetece adormecer e acordar uns dias depois. Não sei se preciso de truques novos para lidar com este pilar ou simplesmente ignorá-lo. Porque de uma coisa sei: ele vai continuar, a cada dia que passa, com mais calhaus fixá-lo, um após o outro, enquanto se vai tornado a única coisa que consigo ver debaixo de mim. Tenho a certeza que não caio; mas andar sobre brasas nunca pode sr uma experiência agradável. A não se quer se seja um faquir havaiano; e eu tenho a certeza de que nunca estive em Honolulu.

P.S: Parte de mim sabe que mereço esta coisa de estar sozinho. Mas a outra parte de mim que é implicativa, pequena mas com força, não se quer conformar com isso. Acho que é aí que está a raiz do problema: o conflito entre aquilo que mereço e aquilo que parte de mim julga dever merecer. Apelo a mediadores de conflitos entre personalidade que intervenham em sugestões de solução para este conflito quase tão gravoso como os que decorrem no Corno de África.