segunda-feira, maio 24, 2010



Esperei uma semana para escrever sobre isto, para não estar emocional.Mas não consigo. Nem sei por onde começar quando chega este momento de descrever o que foi "Lost" para mim nos últimos. Posso começar por letras; e assim sendo, foi um mistério; foi uma tábua de salvação; foi mais um motivo para chatear os outros; foi um gozo; foi um vício; um divertimento; e uma razão para o meu gosto pessoal ser questionado ocasionalmente.
Por tudo isto, tenho de concordar com um amigo meu que, perante o último episódio de "Lost", desprezou a sua fé e renegou a ilha. Nada mais em consonância com o espírito de uma série que não admitiu os meios-termos na sua labiríntica viagem por um mundo que nunca se chegou a compreender completamente. Avisados por este facto, recebam aminha opinião sobre o final da série: eu gostei bastante. Talvez porque é o final adequado a pessoas como eu, que seguem a série há anos, desde os seus inícios, e que se afeiçoaram a estes personagens como se fossem pessoas a sério. Para mim, "Lost foi sempre mais uma história de pessoas do que uma história de mistérios, embora entenda porque há uma franja imensa de gente para quem estes últimos são fundamentais em absoluto. São aquilo que tornou um seriado que parecia um derivado mal amanhado do reality show "Survivor" em algo que se tornou no maior fenómeno de pop culture televisiva deste início de século.
Para mim, tornou-se numa causa pessoal. Espalhei-a por vários amigos, divulguei a palavra. Fui como Locke: acreditei na ilha e embora tenha apanhado alguns percalços (sim, Rodrigo Santoro, falo de ti), nunca perdi a minha fé. No final, fui recompensado. "Lost" nunca me desiludiu, o que é mais do que posso dizer de boa parte das pessoas que conheço. Em determinada altura, como disse aqui no blog, foi a única coisa para a qual olhava num tempo futuro e que me fazia dizer "Não, viver não pode ser assim tão mau, enquanto houver um episódio de Lost para ver". Felizmente, hoje tenho mais uma ou outra coisa, mas sei que vou sentir a falta de "Lost"; ou talvez me vá faltar sentir esta série, da mesma maneira que preciso de doses de "The X-Files" ocasionalmente.
Uma amiga minha disse-me que achava estranho como conseguia sentir mais emoção com séries de ficção do que com a vida real. Se calhar, é outro mistério da ilha que vai ficar sem resolução.Que se lixe! A maior lição que "Lost" me deu é que o mistério está, de facto, nas pessoas. Tudo o resto que há de misterioso é um cenário que torna a vida mais complexa e saborosa.
E continuo a sentir a falta...

sexta-feira, maio 14, 2010


A visita do Papa levou a um fenómeno que acho curioso, e a cujo desenrolar assisto principalmente em redes sociais. De súbito, as pessoas descobriram a sua posição no que toca à religião; e uma grande parte assume com orgulho um certo ateísmo ou uma coisa que acho algo idiota que é a do catolicismo não-praticante (já explico porque acho idiota, até porque tnata porradinha vou levar, ai Jesus... pimba, blasfémia! Este homem não pára!). Boquinhas à Igreja abundam; Deus não existe e há dúvidas sérias sobre se Jesus Cristo não será tão real quanto os 3 porquinhos e o Lobo Mau; e de repente, Bento XVI é o grande responsável pelos males do mundo.

Na televisão, as pessoas acorrem em magote para ver passar um homem que simboliza não uma religião que prega o Amor como principal virtude, mas sim uma organização granítica e cheia de artrose, que se orgulha de ser a intermediária entre uma entidade divina superior e todos nós que somos a ralé e a escumalha do mundo, que será apenas remida se acreditar nela e seguir, claro, o que aquele senhor de branco diz.

Acho isto profundamente engraçado, porque vivo entre estes dois mundos. Sou um agnóstico assumido. Ainda não me conformei ao materialismo duro, e ainda procuro algo que façla sentido dentro de mim. Já percebi que não o encontrarei na Igreja Católica, ou em nenhuma variante do Cristianismo. Por outro lado, tenho de dar a cara pelo rumo desta instituição que acho ridícula, pois faço parte de um movimento católico que cada vez mais afirma a sua fé e se coloca ao serviço das entidades eclesiásticas. A minha consciência não sobrevive bem com flip flops de atitude. Infelizmente, como tenho descoberto ultimamente, ela vai-se habituando. Isto não me é muito gravoso no geral. Considero-o até um sacrifício de carácter que muitos católicos fiéis não desdenhariam.

Uma coisa que me supreende é o abespinhamento que certos sectores têm a atitudes da Igreja. Já aqui o fiz neste blog, mas quanto mais penso, mas tenho a atitude "Para quê chatearmo-nos?". Gays, porque é a hipocrisia católica relativamente ao vosso casamento vos chateia? Se a lei permite, o que interessa a opinião de velhos raquíticos? Têm o pássaro, cuidem dele; e porque andar a protestar por causa da recusa em aceitar que o preservativo não é um instrumento de Satã? Querem um bom protesto? Peguem na vossa cara-metade (melhor, para chatear, peguem em alguém que não seja a vossa cara-metade), metam uma carapuça e catraquem à vontade.

O que nos conduz à observação do primeiro parágrafo: o católico não-praticante. Um católico não-praticante é um agnóstico, basicamente: crê numa entidade superior, aceita uma existência mística, espiritual ou transcedente e recusa o materialismo. Isto pode ser polémico, mas uma parte importante do catolicismo são os ritos e as crenças dogmáticas. Não falo de crer no que a Igreja diz (é uma comunidade de homens), mas sim no que diz a Bíblia, que sendo certo que é um livro escrito e eleccionado por seres humanos, é assim de caras a base uma fé. É o defeito de ser uma religião do livro, mas quem aceita as regras do jogo e se vê como membro da equipa, deve jogar segundo as regras.
Pelo que referi no terceiro parágrafo, não sou o melhor arauto destas coisas, obviamente. Mas a minha ligeira hipocrisia não faz dos outros coerentes. Faz deles o que são por natureza: indecisos.

No cômputo geral, girinha a visita do Papa. Linda, para quem foi só vê-la; um pesadelo, para quem viu a sua vida alterada por causa dela. Mas esse é um dos clichés de razões da Igreja para as maldades que acontecem na nossa vida: os caminhos do Senhor são misteriosos e ele coloca-nos testes de fé. Mas da úlima vez que verifiquei, os testes eram demónios a sério, não agentes da PSP; e os primeiros são de certeza muito mais credíveis.

sábado, maio 08, 2010

Promoção 1

Associamos a promoção mais ao cinema do que ao pequeno ecrã. Normalmente, somos brindados, neste segundo médium, por fotos simples com o cast principal e o suficiente para sabermos ao que vamos: mistério, romance, o que raio é aquela xaropada de "Grey's anatomy". No entanto, de quando em vez, a arte e o sentido de humor chegam à publicidade das séries de televisão. Ficam aqui alguns exemplos.







A excitação da vida militar

Uma verdadeira tragédia


Na semana passada, estreei-me em plenas funções na capacidade de actor trágico. Tivera, há uns bons anos, uma ligeira aventura por tais territórios, mas muito basicamente, limitava-me a ser humilhado em palco, e morto fora dele. Tendo tudo em conta, acabava por não ser um grande esforço de fingimento de actor, pelo que me acontecia nessa altura.
No entanto, este ano, meti na cabeça que queria fazer algo de diferente. Eu sou espectacular quando essa ideia me começa a escarafunchar o cérebro. Da última vez que isso aconteceu, acabei com uma putativa tese no colo, que nunca mais consigo despachar. Tenho a capacidade de planeamento de uma harpa e isso acaba sempre por me sair caro. No caso de que falo neste post, saiu-me do corpo e do próprio orgulho. Um papel dramático envolve, claro está, drama; e este, o de um rei que (SPOILER ALERT)encontra a mulher morta quando chega a casa, expulsa o filho e depois, acaba por matá-lo e ter de lamentá-lo, ( FIM DE SPOIELR) obriga-me a exercitar certos músculos do meu coração que estão povoados de mini-aneurismas vários: tristeza, luto, dor, evitar cantar a mim próprio "Bitches ain't shit". Eu não sou muito bom a exprimir tristeza de qualquer tipo. Sou mais sorumbático e chateado, não tanto "ai ai ai, choro e ranger de dentes". O que este papel me obriga a fazer, de actuação para actuação, é ser um fingidor. Sei que não sinto completamente aquilo, por isso faço figura de urso, umas caras de tristeza, embasbacamento e raiva, e tento que a plateia à minha frente acredite naquilo. Ou pelo menos, não pense "Meu, aquele Diogo Morgado é mesmo bom actor comparado com este gajo!".
A noite de estreia foi um exercício de fingimento perfeito. À minha volta, gente tremendamente nervosa, a perguntar-me se também estava.; eu, o centro estóico em mundos a tremelicar, dizia que não, que nunca ficava nervoso, e parecia o Mourinho no centro do relvivado em Milão, a olhar o medo nos olhos. No entanto, por dentro, depenava-me todo. Quando me junto com a tristeza, as probabilidades de espectáculo deprimente aumentam tão vertiginosamente quanto o decote da Scarlett Johansson. Havia excelentes hipóteses de aqui o menino entrar em palco, vestindo uma roupa que se assemelha ao bibe da primária de um garoto transmontano, e descarrilar uma peça que vinha a correr bem até então, pelo simples motivo de ser simplesmente mau. É o tipo de coisas que pode fazer pessoas mais impressionáveis fazer esculturas de matéria fecal nos joelhos.
A coisa, vá lá, nem me correu mal. Ao que parece, ninguém ficou a pensar que estava a apertar flatulência em palco, e isso só pode ser bom. Apesar de ter sido numa tragédia, foi engraçado sobreviver a um certo arrepio de medo que me atravessou a espinha durante algumas semanas; e ter de beijar uma rapariga em palco, ainda por cima com os meus pais a ver (pergunta de pai no jantar do dia seguinte: "Ouve lá, mas tu beijaste mesmo aquela rapariga? Está bem, está...") e de trabalhar com um grupo de pessoas que achincalho todas as semanas, mas que no fundo, até nem são más de todo.
A sério: isto não sou eu a fingir. Disfarço, mas não sou assim tão bom.