Dize, que a União Europeia começa na solidariedade entre os seus cidadãos. Dizem também que a Alemanha é o paradigma da organização e da boa educação. Dizem também que sou extremamente bem dotado na zona das virilhas; mas na verdade, uso um par de meias dentro das calças.
Relativamente às duas primeiras verdades, devo relatar o que me aconteceu ontem, em pleno 2 (Linha verde, meus caros amigos...) dos Horários do Funchal. Desfrutava eu da brisa da tarde que me enchia de alento, através de uma janela aberta, quando uma manápula enrugada se atravessa no meu campo de visão e fecha a janela. O dono? Um senhor com ar de, no passado, ter servido como animal de estimação de Josef Mengele em Auschwitz. Nada de pedidos, nada de justificações, nadinha. Uma mão rude a desafiar o espaço alheio e toma lá, ó Bruno. Visto que nunca fui conhecido pela diplomacia (e muito menos por baixar a bolinha, mesmo quando isso é o mais certo e recomendável), voltei a abrir a janela. Estava calor, e aquela era, durante o tempo de viagem, a minha janela; e entre eu ter calor e o homem ter frio, a decisão pareceu-me fácil.
Novamente, a mesma manápula ossuda surge à minha frente e desta vez, nem chegou a tocar na janela. Virei-me de imediato e expliquei calmamente ao senhor que não, que não ia sequer tocar naquela janela, porque estava calor. O homem grunhiu durante alguns segundos. Experimentei o inglês, e recebi novos grunhidos. Finalmente, percebi que tinha encontrado o único cidadão alemão em todo o hesmifério norte que não falava inglês. Por fim, tentei a linguagem corporal, que é universal e toda a gente percebe. O senhor levantou-se do seu lugar, e foi sentar-se mais à frente, onde, e isto é bonito, uma janela ainda maior do que a minha estava aberta. Bonito.
Moral da História: Zé Sócrates, nunca me envies para pedinchar dinheiro à Ângela do Reno.