terça-feira, outubro 30, 2012
Bobines e bobines e bobines
Ainda existe um estigma em ir ao cinema sozinho. Não conheço praticamente ninguém que não me revire os olhos quando afirmo, e sem qualquer tipo de constrangimento, de que gosto do acto de ir em solitário para o interior de uma sala de cinema. Penso que isso deve ao lado social do cinema, e à maneira como encaramos o mesmo mais como entretenimento do que como arte. Se afirmasse, por exemplo, que me queria sentar no Louve, a ver a Mona Lisa em total solidão ninguém estranharia. Afinal, é uma obra de arte. É pintura, certo? Se é pintura, é arte; o cinema é uma actividade que envolve pipocas e refrescos. O mais próximo que temos de comparação será um piquenique; e é sabido que a não ser que as mãos de Monet estejam envolvidas, um piquenique jamais será arte.
O solitário do cinema tem tudo contra si, a não ser que seja, de facto, um eremita cuja mente se formatou nos planaltos ermos da solidão. Ao cinema, vai-se em grupo. Pares de namorados, magotes de amigos, famílias.. A ida ao cinema é uma experiência comunal, e no entanto, lá vai ele, de certa maneira corajoso, sabendo que não vai simplesmente ver um filme: enfrentará, pois claro, os mesmos espectros que, de todas as maneiras, lhe escapam costumeiros.
Eu gosto de ir ao cinema só, honestamente. Na verdade, tenho descoberto que, tirando uma ou outra ocasião, até me permite analisar melhor o que estou a ver. Tenho uma tendência para me distrair que é lendária, no mesmo sentido em que o desequilíbrio de Alexandra Solnado é lendário, e ter alguém ao meu lado no cinema pode ser o começo de uma bela relação de amizade com a minha verborreia. Tenho gostosos mecanismos de raciocínio instalados na minha cabeça que me tornam um opinador razoavelmente bom; no entanto, também existem em mim outros mecanismos, de auto-sabotagem, que equilibram a balança e me impedem de ser o Kal-El de Ceira.
Reparem bem que comecei por falar em como se tornou infame ir ao cinema sozinho, e onde eu vim parar na torrente da conversa. O melhor é parar.
Ou daqui a pouco, ainda me ponho a discorrer sobre beterrabas.
segunda-feira, outubro 15, 2012
Cordeiros
Reli palavras que te escrevi há alguns meses, e não sei quando fui mais parvo: se na alturas em que as pus num papel, se no momento antes em devia ter sido concreto e achei que um caderno era a melhor forma de mostrar o fogo de artifício de chinês que me deixa a mente embicada quando te olho. Esperar é um trapézio, mas escrever é uma rede de segurança que torna longa a espera. Eterna, mesmo. As palavras não são um atalho, apenas uma longa rotunda que prolongam a circulação, com duas faixas, e cuja saída pode ser muito, muito perigosa pelo trânsito numeroso e persistente.
É mais confortável sentar-me e ler o que te queria dizer. O que pensei que te quis dizer, e o que guardei por adorar jogas às escondidas comigo mesmo. À espera que me marques.
Um dois três Bruno.
sexta-feira, outubro 12, 2012
Acordo com o Diabo
Paulo Portas e a presença dos CDS-PP no Governo lembram-me a lenda sobre o acordo de Roger Bacon com o Diabo, onde em troca de vasto conhecimento científico, o segundo ficaria com a alma do primeiro, excepto se o corpo de Bacon não morresse nem no interior, nem no exterior de um mosteiro. Assim sendo, o monge e cientista inglês passou os últimos dias numa sala construída nas paredes do mosteiro onde professava. A esquizofrenia de Paul Portas é essa mesma sala da parede.
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