sábado, janeiro 26, 2013
O amor perfeito é aquele que não existe: seis frases
Descasca-me as camadas, corta-as e ignoras-as. No teu colo, deita a minha cabeça e barra-a com o calor das tuas mãos. Mergulha os teus dedos por entre o meu cabelo e sorri com o corpo. Separa os meus cambiantes, invisíveis mas ao teu alcance, e peneira as minhas inseguranças até restar apenas a minha certeza em ti. Mistura-te bem comigo, aquece-me com o o vapor que os teus lábios transformam em cola e transforma-me. Estou pronto a ser servido derretido.
sexta-feira, janeiro 25, 2013
O amor perfeito é aquele que não existe: cinco frases
A caneta percorre o papel como eu gostava que os meus dedos desenhassem suspiros na pele que te reveste o brilho. Fixo na folha pequenas taquicardias que nunca aparecerão nos exames. De vez em quando, paro e tento acertar-me, mas deixas-me sempre errado. O pior é que me convenço de que estou certo, e que erro quando guardo os papéis na gaveta. É a minha vida, num papel químico estragado.
quinta-feira, janeiro 24, 2013
O amor perfeito é aquele que não existe: quatro fases
O relojoeiro deu-lhe corda e explicou que só começaria a trabalhar quando chegasse a hora. A hora de quê? De ele trabalhar. Saí da loja, e vi-te cinco minutos depois: o meu coração fez tique-taque.
sexta-feira, janeiro 11, 2013
Os "amigos" do amigo
A tolice pode originar fenómenos fascinantes. Nesta perspectiva, o princípio de "Vox Populi" é um dos fenómenos mais fascinantes de todos. Em grande ou pequena escala, a regra "a maioria decidiu, é o melhor" tem redundado em decisões incompreensíveis ou, a longo prazo idiotas. Podia citar um caso recente, que conduziu à confirmação daquele velho lema "BAS" (Vítor Hugo, onde quer que estejas... RTM), mas prefiro chamar a atenção um outro mais geral e que se senta agora nu cadeirão em S. Bento, a manipular os destinos do nosso país.
Nada contra a democracia, aliás. É o sistema de governação mais justo, se bem que pode ser dobrado, pois conta com a participação geral. No então, não se pode classificar a democracia de "inteligente", porque se baseia no nosso comportamento (e, em raros momentos, na nossa inteligência). Nem precisamos de ir às urnas para confirmar este facto: as redes sociais onde passamos uma boa parte do nosso tempo e gastamos bastante energia intelectual atestam-no. O caso particular que me tem despertado a atenção é o do Zico, um cão alentejano (que, pelo que leio, é mais simpático e imaculado do que a irmã Maria de "The sound of music"). Leio na diagonal textos de "amigos dos animais", gente que defende, no que escreve, que um animal pode ser equiparado a um ser humano, e que por isso Zico não deve ser abatido. Não está escrito, mas fica subentendido que Zico deve também receber miminhos e um prato com Pedigree Pal.
Esta gente é idiota que dói. Convém revelar, antes que estereótipos sejam brandidos, que fui o orgulhoso dono de um cão durante oito anos. Esse cão morreu há três meses e meio. Nesse espaço, não consegui pegar nas minhas mãos para escrever sobre ele ou sobre o facto. Gostava realmente dele, e lamento não ter feito suficientes coisas por ele e com ele.Ainda me dói lembrar-me da morte em forma canina nos meus braços, e vislumbrar-lhe nos olhos, momentos antes, essa certeza de que a vida tinha posto travão e nada mais havia a fazer. Partilhar esse momento esmurrou-me lágrimas dos olhos, mas fez-me entender melhor o que passa pelo ânimo de um cão. Logo, eu não odeio animais. Não posso. Adorava o meu cão, uma criatura idiota que lambia a sujidade e preferia a chuva à protecção de um telheiro. Uma coisa que tive sempre presente na minha relação com o bicho é que estávamos em patamares muito diferentes: ele é uma criatura pura de instintos, eu um ser que recebi uma educação que me permite dominar esses instintos quando estes representam um perigo para mim ou para os outros. Um animal não é uma propriedade ou um objecto; e por muito que nos apeteça, às vezes, não é um escape para as nossas frustrações emocionais. É imprevisível e pleno de natureza. Ter um animal é um risco, precisamente por isto: porque não somos iguais. Nós podemos ser responsabilizados, eles não. O meu cão mordeu-me, várias vezes, e arranhou-me. Ninguém cá em casa o treinou para ser feroz: é a sua natureza. Tolice é pensarmos que podemos contorná-la ou desligá-la apenas porque nos relacionamos com eles. A beleza de ter um animal é podermos ler nele e nas suas reacções o que quisermos. Pensarmos que sorriem e que se dispõem a amar-nos, quando o laço que nos une é um pouco mais complexo do que isso. Os animais estão connosco numa relação de dependência e confiança. Por um caso de extrema fidelidade canina, há noventa e nove de que ninguém fala de cães que foram à sua vida.
Não acho que o Zico mereça ser abatido. Mas daí a torná-lo um mártir ou fazer dele uma criatura inofensiva que nunca morderia ninguém é apenas uma ilusão em que vive uma série de gente que acha que humanos e animais são irmãos e vivem neste planeta em igualdade. Pensar isto não é ser amigos dos animais: é um exercício de animismo perigoso, falso e que quando repetido muitas vezes, se torna numa verdade que é difícil abanar. Os "amigos dos animais" têm razão, se calhar: animais e humanos estão em níveis diferentes; mas se calhar, não todos os humanos; e principalmente, não da maneira como estes "amigos" me querem pregar,
sábado, janeiro 05, 2013
O amor perfeito é aquele que não existe: três frases
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