terça-feira, março 23, 2010

Omedetou, mestre Akira


Perfeccionista para lá do aceitável, intratável, arrogante, mas acima de todos os seus defeitos, um realizador genial. Imperador Kurosawa faria 100 anos, se fosse vivo.Bruno de Figueiredo, a secção de comments é tua para escreveres o post que sou incapaz de lavrar.:)

The fog of war


Estreou há uma semana um dos grandes eventos de media deste ano: "The pacific", a mini-série da HBO que vem com a recomendável chancela "Dos mesmo produtores de "Band of brothers". É como quem diz, Steven Spielberg e Tom Hanks."Band of brothers", para quem sofreu de privação sensorial nesta última década, ou simplesmente não liga a boa televisão, é a extraordinária criação de dez episódios que retrata as desventuras da Easy Company, desde que entram na recruta, passando pelas suas deambulações no teatro de operações europeu da 2ª Guerra Mundial, e acabando no último dia da guerra. É um marco do género, é a guerra como ela é, na sua dureza e violência, mas também camaradagem e espírito de sacrifício. Ficou certamente na memória de quem a viu. Por isso, "The pacific" era aguardada com grande ansiedade.

Depois de ter visto o segundo episódio hoje, estou mais à vontade para fazer uma apreciação. Em primeiro lugar, tenho visto gente a cair na facilidade da comparação com "BoB". É natural fazê-lo, mas apesar de virem as mesmas mãos, são dois tipos de besta muito distintas. "BoB" acaba por ser, à distância, o feel good da guerra: permanecemos com o mesmo grupo de personagens a série toda (camaradagem), conhecemos razoavelmente a história desta Guerra na Europa (identificação pessoal) e é um facto que a guerra na Europa foi de um tipo diferente, com combates em moldes tradicionais, de espera e avanço.Para além disso, havia uma noção da importância daquilo que se conquistava: eram países, logo alvos que compreendemos.

"The pacific" não tem nenhuma destas vantagens. Acompanha maioritariamente três personagens (John Basilone, o herói de guerra; Robert Leckie, o escritor metido nas trincheiras; Eugene Sledge, o rapaz doente que quer desesperadamente servir o seu país) e por isso, é muito mais esporádico e subtil na camaradagem; passa-se no espaço do Pacífico, que é praticamente desconhecido para o espectador comum de séries e filmes de guerra, envolvendo um inimigo muito diferente dos nazis em mentalidade e que envolveu táctias de guerrilha e resistência; e o que os soldados fazem é basicamente conquistar... calhaus. Nâo parece tão apelativo.

Mas é, pelo menos para mim. "The pacific" é a fusão possível entre dois dos melhores filmes de guerra de sempre: "Saving private Ryan" e "The thin red line". Envolve a brutalidade e realiasmo violento de um, e a meditação sobre o que é a guerra e porque parece tão natural à condição humana de outro. O espaço de selva, no regresso ao que é mais primitivo e despojado no ser humano, acentua essa reflexão. O tema é o da resistência do espírito humano, contra os elementos, as doenças e a pressão de numa questão de dias, um leiteiro ser confrontado com a obrigação de se tornar uma máquina assassina no outro lado do mundo. Por isso,passa tempo com os soldados antes de estes serem mobilizados. É menos sobre ser herói e mais sobre relações humanas.

Para os amantes de adrenalina, o primeiro episódio tem apenas uma escaramuça (e uma in-joke muitoóbvia para quem se habituou à visceralidade e tiques de "Saving private Ryan", maso segundo apresenta uma longa sequência que mostra a particular brutalidade e carnificina que se desenrolaram em Guadalcanal,o primeiropalco de batalha abordado na série. É todo um desenrolar de morte e tiros e confusão que nos deixa tal e qual como aqueles soldados: verdadeiramente abananados. E, se numa época em que quase tudo o que vemos na televisão nos quer dar o conforto de estarmos numlugar seguro, algo nos consegue fazer sentir realmente qualquer coisa, para mim já vale muito a pena. Mal posso esperar pelas restantes oito partes de "The pacific"!

segunda-feira, março 22, 2010

Dêem um prémio ao homem!


Dizer que esta carta do Papa, a condenar os padres irlandeses que cometerem pedofilia e assumindo vergonha, mostra coragem é tão lógico como afirmar que os alemães que reconheceram que Hitler até matou uns quantos judeus durante a 2ª Guerra Mundial são uns gajos com um par de tomates imenso.
Quando a coisas mais lógica parece um acto de coragem, parece-me um certo sinal de bater no fundo moral. E o pior é que este posto vem logo a seguir a um anterior que abordava o mesmo tema.

quinta-feira, março 18, 2010

Admiração


Os jornais dizem em parangonas "Oliveira e Costa vai mesmo a julgamento". Eu penso que é realmente triste quando o facto de um criminoso ser realmente julgado virar notícia.

sexta-feira, março 12, 2010

Óbitos


O meu avô morreu de segunda para terça. Isto em termos técnicos, se entendermos a morte de um ponto de vista biológico como o fim dos trabalhos do corpo e transformação do respectivo em cadáver. Na verdade, o meu avô morreu há alguns anos, quando o seu cérebro, devido a complicação de um acidente de mota que ele teve há algumas décadas, lhe pregou a partida definitiva e enterrou aquilo de que eu me lembro dele no pior cemitério de todos: a própria mente. Roubado de si próprio, incapaz de funcionar por si mesmo, o meu avô estava num lar e de cada vez que o visitava, procurava nos olhos dele qualquer coisa que se pudesse assemelhar ao passado. Mas o passado, quando queremos recuperá-lo, acaba sempre por fugir-nos. Só aquele que não interessa é que cai sobre nós aos trambolhões.
Os olhos são um pormenor que me liga ao meu avô. De facto, e recuando três ou quatro gerações, eu e ele somos as únicas pessoas do lado familiar da minha mãe a não ter olhos castanhos. Acho que sempre senti que, de certa forma, algo dele tinha entrado em mim, geneticamente falando. Conseguiu desviar-se de quatro filhos, e encaixou em mim, o seu primeiro neto. Nada mais apropriado, pois vivi equilibradamente entre os meus pais e os meus avós maternos até aos dez anos. Com a morte da minha avó há três anos, e com a dele agora, a infância parece ainda mais longínqua. A memória ainda é a única defesa que temos contra o tempo, mas quando se perdem as referências, parece que também se perde a memória. Ainda mais quando a pessoa que conhecemos já não existe no cadáver que vemos num caixão há algum tempo.
Ainda assim, sem sabê-lo, o meu avô acabou por confortar-me na morte. Há algum tempo que venho a duvidar que o que quer que gere os meus sentimentos está irremediavelmente partido. Há alturas em que devia ser suposto sentir algo e simplesmente pareço um bloco de calcário, mas menos giro quando sujeito a transformação. Mas quando eu vi o caixao do senhor Carlos Albino a descer para a cova, uma arreliação qualquer começou a nascer e de facto, o avô Carlos confirmou que sim, que ainda sou humano. Até quando? Não sei. De qualquer forma, é bom que descubra. Ou então a ausência de eu mesmo é outra coisa que terei de partilhar com ele.E de certeza que, mesmo debilitado da mente, ele teria compaixão suficiente para querer que isso me acontecesse.
Uma coisa é morrer obrigatoriamente; outra é por opção. Esta última é muito mais cadavérica.

segunda-feira, março 08, 2010

O desmancha-prazeres


Entro já a pés juntos e digo que acho que o mulheres a celebrar o dia da Mulher é algo de tão, tão engraçado! Falarem do feminismo e das conquistas das mulheres, nesse mundo onde os homens são vilões saídos de filmes de capa e espada, e no final de contas, saltam aos pinotes com um gesto de paternalismo e condescendência. É giro, isso.
Gosto de ouvir falar do "ser mulher" nos dias de hoje. É basicamente o mesmo que sempre foi, mas com salários. É triste, mas é verdade. Poucas mulheres conseguem escapar ao seu próprio ghetto, e fazem-no porque, normalmente, percebem que ninguém quer ouvir falar de guerra de sexos. Olhem Kathryn Bigelow, por exemplo, que se tornou ontem na primeira mulher a ganhar o Oscar de melhor realização: ela não ganhou o Oscar por ser mulher, ou por querer ser feminina. Ganhou porque construiu o melhor filme dos nomeados, numa área que tem muito pouco de gaja. Foi bem sucedida, porque é competente e não anda a fazer alardes feministas. Como o dia da Mulher.
Enfim, mulheres... Diz-se que são enigmas, e é adequado, porque têm várias semelhanças com a série "Lost": oferecem mais perguntas do que respostas, suhjeitam-nos a uma experiência intensa num ambiente selvagem e a sua ausência de clarificação diexa-nos frustrados, mas quando é bom, há poucas coisas no mundo que me deixam mais aos saltinhos como se tivesse acabdo de comer peta-zetas. Embora as peta-zetas me sejam mais acessíveis.

domingo, março 07, 2010

Previsões: parte 2


Melhor actor secundário e actriz secundária: Na verdade, são duas categorias tão óbvias que prevê-las é perder tempo. Christoph Waltz, por "Inglourious Basterds", e Mo'nique, por "Precious", são os dois vencedores mais óbvios da noite

Melhor actor: Em teoria, Jeff Bridges tem este na sacola. Tem tudo a seu favor: é admirado por todos, há o sentimento que lhe devem um prémio e a sua interpretação é mesmo boa. Quem poderá estragar a festa é Colin Firth, por "A single man". Mas não contem com isso...

Melhor actriz: Ora cá está o primeiro imbróglio da noite; e quem diria que chegávamos ao dia da cerimónia a escrever a expressão "Sandra Bullock é a principal favorita à vitória"? Mas é verdade! Sozinha, conseguiu meter um filme banal nos dez nomeados e tem um charme que resulta estrondosamente com os votantes, superando mesmo Meryl Streep. No entanto, Sandra Bullock a ganhar um Oscar parece ainda algo de demasiado estranho para aceitar de repente. E embora tenha um apoio considerável, é prciso não esquecer que do outro lado há "la Streep". Sim, já ganhou dois Óscares, mas o último foi há quase 25 anos. Os Óscares são mais admiração do que outra coisa. Bullock está nomeada só à conta disso. Mas será suficiente para poder ganhar? Bullock tem alguma vantagem, mas suspeito que Meryl Streep poderá dar a volta. Num terceiro cenário, os votos podem dividir-se e uma terceira opção surgirá. Aí, Gabby Sidibe, em Precious", está muito bem posicionada

Melhor realizador: Por muito que queiram retorcer esta categoria, não me parece que haja grande escapatória e Kathryn Bigelow fará história, ao tornar-se na 1ª mulher a ganhar este Oscar. Lee Daniels, o realizador de "Precious", e Jason Reitman, por "Up in the air", estão logo fora. Tarantino e Cameron são os adversários óbvios, mas ninguém curte muito Cameron, e Tarantino está predestinado a tornar-se no Scorsese do século XXI. Bigelow ganhou o DGA e mesmo os seus adversários dizem: "Dêem o Oscar à mulher". Ajuda que o filme seja extraordinário e que o trabalho de Bigelow seja o principal responsável por isso.

Melhor filme: Ora aqui está a grande discussão da noite. A lógica aponta para o navio no qual irei até ao fundo, mas confusões de secretaria lançaram a confusão na última semana de votações e posição do meu "The hurt locker" parece frágil quando entramos neste domingo decisivo. Campanhas negativas por parte das equipas que gerem "Avatar" e "Inglourious Basterds" (os malvados Weinstein) abanaram o pequeno David, que enfrenta sucessos comerciais e mastodontes comerciais. A luta nesta categoria é essencialmente entre o filme de Kathryn Bigelow e Avatar. Na minha opinião, é um confronto pela alma do cinema. De um lado, um filme tecnicamente revolucionário, que muda as regras do jogo cinematográfico, fazendo rios de dinheiro com novas tecnologias; por outro, um filme sobre a guerra do Iraque, muito bem feito, excelente naquilo que faz dos filmes obras de arte: argumento, realização e realização. "Avatar" não tem nomeações em categorias de interpretação, nem de argumento. Tem uma base de suporte técnico. "The hurt locker" é levado pela crítica. Tem ganho prémios em argumento e realização e há uma noção de que é um dos melhores filmes do ano. No entanto, o seu baixo box-office é um grande handicap naqueles que são os prémios dados por uma indústria.
Por isso surgem dúvidas, mas eu aposto no meu cavalo até ao final: "The hurt locker" vencerá melhor filme. Num mundo perfeito para quem realmente gosta de cinema.

Previsões: parte 1


Os Óscares deste ano são, ao mesmo tempo, os mais fáceis de prever na generalidade(aparentemente... porque ninguém sabe de nada) e aqueles que mais convulsões têm sofrido. Nos últimos anos, tem acontecido aparecer um filme que lidera a matilha durante toda a temporada de prémios, para depois chegar aos Óscares e ganhar com naturalidade o de Melhor filme, e tornar-se o filme mais ganhador da noite. Este ano, tal não tem acontecido. A liderança tem rodado entre vários filmes, em diversas alturas cruciais (nomeadamente entre "Avatar", "The hurt locker" e "Inglourious Basterds") e é um facto que chego a este fim de semana sem certezas de quem levará o galardão máximo.
Como em tudo, terei de me guiar pelo meu instinto. Ele não é muito confiável, mas numa altura em que todos os cenários parecem lógicos, é uma medida tão certa como qualquer outra. Na verdade, tomarei uma atitude de carácter e irei ao fundo com o meu barco. Mas lá chegaremos
Passar-se-á o seguinte: deixarei os meus palpites em categorias técnicas, de filme de animação e documentário, numa primeira parte, e demorarei um pouco mais nas principais, mas essencialmente nas duas grandes incógnitas da noite. Vamos à primeira parte.

Melhor curta-documental: "China's unnatural disaster: tears of Szichuan"
Melhor curta de animação: "A matter of loaf and death"
Melhor curta: "The door"
Melhor canção: "The weary kind" - do filme "Crazy heart"
Melhor caracterização: "The young victoria"
Melhores efeitos visuais: "Avatar"
Banda sonora: "Up" - Michael Giachinno
Melhor guarda-roupa: "Nine"- Colleen Atwell
Melhor montagem sonora: "The hurt locker"
Melhor som: "The hurt locker"
Melhor direcção artística: "Avatar"
Melhor montagem: "The hurt locker"
Melhor fotografia: "The hurt locker" - Barry Ackroyd
Melhor documentário: "The cove"
Melhor filme de animação: "Up"
Melhor filme estrangeiro: "El secreto de tus ojos" (Argentina)-alternativa: "Un prophet" (França)
Melhor argumento adaptado: "Up in the air" - Sheldon Turner e Jason Reitman
Melhor argumento original: "The hurt locker" - Mark Boal (mas iguais hipóteses tem Quentin Tarantino...)

sábado, março 06, 2010

People vs luminary


A pessoa que um dia quiser apresentar um caso em tribunal a favor de me tornar o maior inepto em conhecer raparigas que jamais existiu tem excelentes hipóteses de contsurir um sólido caso nesse sentido. Lembrei-me hoje disto enquanto me mediam a tensão arterial. Yes, random thought...