Acabei de ler aquela que considero ser uma obra científica de enorme qualidade, importante nos tempos que decorrem, e que será, evidentemente, ignorada. Falo da trilogia "Dimensions/Confrontations/Revelations", porventura o testamento do astrónomo francês Jacques Vallee no que diz respeito à investigação da temática OVNI. Tentando resumir muitíssimo brevemente, "Dimensions" aborda a presença quase eterna do fenómeno na história humana e traça paralelos entre folclore universal e relatos actuais (incluindo milagres religiosos), para além de retratar vagas de observações de dirigíveis e outras veículos aéreos em épocas onde seria impossível tal acontecer; "Confrontations" é o relato das investigações no terreno feitas pelo Dr. Vallee, nomeadamente casos que se destacam pela sua impossibilidade e alguns acontecimentos na bacia do Amazonas no final da década de 80; "Revelations" aborda o lado negro do fenómeno, ou seja, a manipulação humana do mesmo, que ser seja através de cultos, quer da estratégia de descredibilização feitas por algumas entidades públicas e privadas.
A razão pela qual esta trilogia é essencial prende-se com um aspecto muito simples: intelecto. Vallee, que se classifica dentro da ovnilogia como um "herético entre heréticos" age como um cientista real e procede a uma recolha de provas no terreno, em vez de mandar bitaites do seu cadeirão ou laboratório. Quem, perante a barragem de provas que ele apresenta, ainda se atrever a dizer que todo este fenómeno é mania ou má interpretação por parte de sujeito, deve ser automaticamente designado de absolutamente idiota. Não é uma boa sensação, sei-o por experiência, mas é realmente a única maneira possível de classificar tal estupidez. O cientista gaulês não teme ninguém, crentes e não crentes. Limita-se apenas a pegar nos dados existentes e a analisá-los directamente, como se estivesse a tratar do assunto mais credível do mundo. É essa falta de medo, e consequente presença de espírito e seriedade, que falta em muitos campos da ciência actual. Vallee procede a trabalho de campo, fala com testemunhas e demonstra uma saudável curiosidade, e necessária dose de cepticismo, essencial quando se navega num terreno tão pantanoso como é a ovnilogia. Em suma, não fica num cadeirão a fazer dos outros parvos, e dizer que o planeta Vénus é a explicação a dar quando alguém diz que viu um objecto sólido e metálico a umas dezenas de metros dos olhos.
Aconselha-se a leitura para interessados e não interessados. Os interessados poderão prosseguir na certeza de que estamos realmente perante uns dos fenómenos científicos mais fascinantes dos tempos recentes; os nãop interessados poderão confrontar sem complexos os próprios preconceitos relativamente a este campo. Quando a ciência se retira voluntariamente de uma área de conhecimento, dá espaço a que lunáticos a tomem como sua e lancem as sua sloucas teorias, colocando em risco a segurança da sociedade. Só por isso, Jacques Valle mereceria ser mais conhecido do que é. Como no caso de Tony Judt, é pena que intelecto verdadeiro tenha um câmbio tão baixo nos dias que correm.