quinta-feira, agosto 05, 2010

Uma aventura na escola


Tive uma educação razoavelmente tradicional. Sou, nas minhas raízes, um menino da aldeia, mesmo que as minhas neuroses sejam dignas de quem vive na urbe. Os meus pais ensinaram-me coisas simples e valores ainda mais simplificados. Não me tornei agnóstico por causa dele, e todo o tipo de filosofias de vida que tomei a partir da idade em que pensamos que sabemos tomar decisões sozinhos (seja ela qual for) só muito indirectamente deles deriva.
Uma coisa que me ensinaram desde cedo foi: não tenhas negativas. Mas tive-as. Foi aí que percebi que só existem, duas razões para as pessoas se aplicarem na escola: gosto ou medo. O gosto vem do prazer que se retira em aprender e conhecer mais coisas; o medo vem de castigos, bordoadas ou de ficar retido um ano. Ainda sou do tempo em que chumbar era um papão, e os alunos realmente se esforçavam perante essa perspectiva. A natureza humana e os seus sucessos devem muito mais ao medo que à curiosidade, por muito triste que seja; e na escola, uma montra do que que cada um vai ser quando um dia tiver idade de juízo, não é excepção.
A ministra Isabel Alçada acha que isto é uma tolice, e que reter um aluno que não cumpre os objectivos está errado. Propõe acabar com este hábito, que é comum à maior parte dos sistemas e ensino europeus, e instaurar aulas de reforço, estudo acompanhado e quiçá, uma fé ingénua de que os alunos vão desejar aprender por vontade própria. Isabel Alçada escreveu claramente livros juvenis, pois só um optimismo tonto pode fazê-la acreditar neste plano. Existem várias razões assim óbvias, e sem ter de se perceber muito de educação (grupo onde me incluo sem vergonha), para esta minha opinião: a falta de matéria humana docente (já esticada com avaliações, outras aulas de apoio, exposições, substituições e reuniões); a gradual falta de interesse que os alunos têm pela escola; a falta de qualidade do nosso ensino ((lá porque é uma coisa é dada em maior quantidade, não deixa de ser má); o culto da falta de meritocracia, cultivado desde que somos pequenos, e que atinge o auge com esta medida.
Se a ministra faz má figura com esta ideia, que dizer da Confederação de Associações de Pais, poposamente chamando a esta ideia a maior revolução educativa desde o 25 de Abril. Pais a querer ver os seus filhos semi-analfabetos a serem bem sucedidos? É sempre boa pedagogia.

Na sua colecção "Uma aventura", Isabelinha criou o forte Chico; o astuto João; as perspicazes gémeas; o inteligente Pedro; o fiel Faial; e o Caracol, que servia de arma de arremesso. Isabel Alçada podia ser o caniche, mas nem para arma de arremesso me parece ter talento.

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