Tive uma educação razoavelmente tradicional. Sou, nas minhas raízes, um menino da aldeia, mesmo que as minhas neuroses sejam dignas de quem vive na urbe. Os meus pais ensinaram-me coisas simples e valores ainda mais simplificados. Não me tornei agnóstico por causa dele, e todo o tipo de filosofias de vida que tomei a partir da idade em que pensamos que sabemos tomar decisões sozinhos (seja ela qual for) só muito indirectamente deles deriva.
Uma coisa que me ensinaram desde cedo foi: não tenhas negativas. Mas tive-as. Foi aí que percebi que só existem, duas razões para as pessoas se aplicarem na escola: gosto ou medo. O gosto vem do prazer que se retira em aprender e conhecer mais coisas; o medo vem de castigos, bordoadas ou de ficar retido um ano. Ainda sou do tempo em que chumbar era um papão, e os alunos realmente se esforçavam perante essa perspectiva. A natureza humana e os seus sucessos devem muito mais ao medo que à curiosidade, por muito triste que seja; e na escola, uma montra do que que cada um vai ser quando um dia tiver idade de juízo, não é excepção.
A ministra Isabel Alçada acha que isto é uma tolice, e que reter um aluno que não cumpre os objectivos está errado. Propõe acabar com este hábito, que é comum à maior parte dos sistemas e ensino europeus, e instaurar aulas de reforço, estudo acompanhado e quiçá, uma fé ingénua de que os alunos vão desejar aprender por vontade própria. Isabel Alçada escreveu claramente livros juvenis, pois só um optimismo tonto pode fazê-la acreditar neste plano. Existem várias razões assim óbvias, e sem ter de se perceber muito de educação (grupo onde me incluo sem vergonha), para esta minha opinião: a falta de matéria humana docente (já esticada com avaliações, outras aulas de apoio, exposições, substituições e reuniões); a gradual falta de interesse que os alunos têm pela escola; a falta de qualidade do nosso ensino ((lá porque é uma coisa é dada em maior quantidade, não deixa de ser má); o culto da falta de meritocracia, cultivado desde que somos pequenos, e que atinge o auge com esta medida.
Se a ministra faz má figura com esta ideia, que dizer da Confederação de Associações de Pais, poposamente chamando a esta ideia a maior revolução educativa desde o 25 de Abril. Pais a querer ver os seus filhos semi-analfabetos a serem bem sucedidos? É sempre boa pedagogia.
Na sua colecção "Uma aventura", Isabelinha criou o forte Chico; o astuto João; as perspicazes gémeas; o inteligente Pedro; o fiel Faial; e o Caracol, que servia de arma de arremesso. Isabel Alçada podia ser o caniche, mas nem para arma de arremesso me parece ter talento.
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