Acho que não sou só eu que considero Julian Assange, um James Bond de secretária, um drama, ahm, queen (sim, sei que ele é um homem, e duas senhoras suecas poderão garantir que ele não terá grande coisa de "queen"). O indivíduo tem anunciado aos sete ventos que o perseguem, que é um megafone da liberdade e que a principal razão pela qual ele divulga documentos classificados (quão espectacular seria se ele tivesse decidido divulgar estes documentos não na Internet, mas nas próprios "Classificados"?) é pelo prazer que tem em esmagar os poderosos. Nobres motivos e designações, mas será que o que tem sido divulgado é assim tão secreto e bombástico?
A questão dos vôos da CIA é tão há dois anos que dei por mim a bocejar quando se confirmou que países como o nosso tinham dado luz verde aos senhores do outro lado do Atlântico (ou falcões da guerra, na terminologia bloquista). Não é segredo para ninguém que a Europa estendeu uma passadeira para Guantanamo. Quanto às opiniões e relatórios que os embaixadores e analistas fazem de determinadas figuras políticas (onde ouvimos novidades como o facto de o nosso primeiro-ministro ser muito telegénico e de o nosso Presidente da República servir muitas vezes de força de bloqueio ao Governo) parece a secção de fofocas e coscuvilhices de uma revista de sociedade. Na verdade, penso que é mais nesta lógica que se pode encarar a reacção dos governos mundiais: quando alguém descobre o que andamos a dizer nas costas dos outros, a reacção natural é zangarmos, amuarmos, acusarmos e cruzarmos os braços. Ou, como no caso de certo senador republicano, apelidar toda esta situação de "11 de Setembro diplomático".
Se no entretanto vier a público um documento onde se desvenda que Camarate foi orquestrada por sionistas em conluio com extraterrestres e Joaquim Letria, ou eventualmente a descoberta de que, oh céus, foi o capitão Nascimento a alvejar John F. Kennedy, não me parece que Assange se posso vangloriar de ser um mártir ou uma figura perigosa. Mas isso sou eu, que vivo numa ilha onde leaks e Alberto João Jardim têm muito pouco a ver com documentos classificados.