quinta-feira, novembro 22, 2012

É por, ahm, ali


Nunca me deu para pensar nos trinta anos, e continuo a achar algo ridículo que se faça dessa idade um ponto de crise existencial profunda. No entanto, é um facto que foi poucos dias depois de ter ultrapassado essa marca de idade que se me aflorou a destruidora vontade de reflectir sobre o meu rumo. Foi um acto de idiotice superlativa, pois claro, pois quando se é neurótico na escala em que actuo, essa simples dúvida precipita semanas de sofrimento atroz apenas comparável ao dengue na Madeira. Para um neurótico, uma dúvida não é apenas uma lacuna de conhecimento: cria uma manada de gnus cegos a cavalgar pela nossa mente, em círculos, a pensar que um gato doméstico toma proporções de leão feroz.

Não é que a pergunta seja de pouca monta: qual o meu rumo? Neste momento, sou honesto e afirmo que desconheço por completo. Cheguei a um ponto de total desmotivação pela vida que orgulharia o Clube de Niilismo de Bremen, pois não lhe encontro qualquer sentido, nem qualquer objectivo. Acredito que somos nós que orientamos o nosso percurso de vivência, que críamos os objectivos e que as nossas lutas para cumpri-los, entretecidas, formam aquele tapete aladinesco a que vamos chamando vida. No entanto, os retalhos da minha vida não existem. Não consigo criá-los, porque simplesmente não me apetece. Tomara que fosse algo de pontual; infelizmente, espalhou-se para todos os campos da minha vida. Dou por mim a perder orgulho naquilo que fazia de mim Bruno, e a sentir a fuga dos talentos que me faziam pensar que não era vulgar. Ou seja, estou a perder-me, e àquilo que considerava eu.

Ora, a partir do momento em que nos perdemos, como é que nos julgamos capazes de encontrar o resto? É aqui que a minha reflexão pára. Por isso, estou disposto a voltar a mim, seja o que isso for. A reler-me, a descrever-me, a descobrir-me. Nada de reinvenções, que são uma treta. Apenas parar e olhar-me. Não será bonito, mas aplicando uma regressa básica do engate, às vezes, para se conseguir a miúda bonita, é preciso passar algum tempo com a amiga feia. Era nesta altura que pessoas com menos classe fariam um trocadilho com uma das minhas alcunhas de infância. No entanto, este é um recanto onde a classe é tão necessária quanto um esfregão de palha de aço nas virilhas.

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