sexta-feira, outubro 17, 2008

Criar ódios - parte 1


Quero assumir duas coisas que aparentemente toda a gente gosta e eu, com toda a honestidade, não suporto. Ambas fazem parte da esfera musical e como tal, chicoteiam-me os tímpanos, que, parece, são coisas frágeis e sensíveis. Logo, são facilmente estimuláveis, para o bem e para o mal. Ainda estamos a falar de música, certo?
A primeira: os Delinda. Não me venham com a história de renovação do fado, da junção entre música popular e um toque de pop. Aquele grupo não é nada disso. São dois gajos com uma guitarra, miúda vestida de Floribela, a armar-se ao popular e com paleio intelectual e muita pose. Na canção "fon fon fon", anunciam alegremente que detestam erudição e adoram o popularucho; e no entanto, enunciam as variações Goldberg, de Glen Gould, frequentam o CCB e a Gulbenkian só para passear (a razão pela qual alguém vai a um destes sítios para ver obras de arte e é qualificado de erudito é algo que me escapa) e têm grande parte da sua base de apoio nos críticos, que se entretêm a descrevê-los em termos que o próprio Foucault não desdenharia. Em suma, são hipócritas; tudo aquilo que, por exemplo, os Gogol Bordello não são. Tocamos instrumentos populares? Tocamos, sim senhora; aproveitamos a tradição de música balcânica? Ora pois aproveitamos!; temos algum preconceito contra o intelectual? Claro que não. Hoje em dia, parece vigorar o princípio "Paliniano" de que o que é intelectual é mau e inimigo da verdade, como se os intelectuais fossem monstros inacessíveis que desprezam a maralha e ditam o bom gosto. Os bons intelectuais não; os pseudo-intelectuais sim. Como os Delinda.
A segunda coisa é a música "The story", de Brandi Carlile, a tal que parece ter sido fruto de uma limpeza da garganta da vocalista através de um piaçaba. Ideal para quem viveu ou gosta de histórias de amor assolapadas. Da última vez que fui ao cinema, uma mulher fez o favor de a cantar em plena sala durante os anúncios. Esta não sei explicar porque não gosto. Mas há qualquer coisa na voz da mulher que me irrita e na ideia de dramatismo que a música parece transmitir.

Pronto; e agora, batam-me.

4 comentários:

Post-It disse...

:D
Ahahah!
Muito bons, os Gogol Bordello!
(Como foste perder a estreia do último filme do Kusturica, hã? :P)

Anónimo disse...

boa noite, Fiona mais uma vez.
para já devo dizer-te isto: a banda de que estás a falar, presumo eu, é Deolinda e não Delinda, como insistes em chamar. De resto, respeito a tua opinião e não te vou bater (até porque pelo menos por essa foto isso seria imbecil da minha parte, já que nem de canivetes eu disponho. e sabes bem como eu não sou uma pessoa robusta, que até podia ir lá pela pancada.) posto isto: gostei muito da imagem ilucidativa que me transmitiste conjugando a musica "the story" e a palavra "piaçaba" numa mesma frase. parabens!
(por acaso no inicio esse berro da cantora provocava em mim um inexplicavel bom arrepio, agora entendo o irritante em que se pode tornar.) os melhores cumprimentos da tua sempre adorada
nao vou repetir o nome. se te esqueceste volta a primeira frase.

Anónimo disse...

o que eu não gosto é a espécie de onda de dar nomes a bandas assim tão comuns, tão rurais.

quando souber cantar ou tocar algum instrumento formarei uma banda chamada saca-rolhas, avental, estendal da roupa ou até pode ser enchada sei lá.

ah e também não gosto de deolinda, não querendo dizer que são maus.

ah e gosto muito de gogol bordello, mas por favor deixem de os chamar 'gipsy punks'. O vocalista disse isso uma vez e agora todos os críticos usam a mesma expressão como se fosse algo original.

JP

Ela disse...

Bruno, pára lá com isso, po~e a arma para baixo, sempre fomos amiguinhos....