segunda-feira, dezembro 28, 2009
A maçonaria com GPS
Desde o dia sete de Julho deste ano que me iniciei numa espécie de irmandade secreta, que em nada contribui para a minha ascensão social. Fui desviado por amigos, pois até participara nas suas iniciativas sem ser membro, e fiquei fascinado em como uma coisa tão simples e mesmo infantil podia enfeitiçar tanto homem feito adulto. Eles têm códigos próprios, nomes específicos de irmandade e até cumprimentos especiais, como DNF ou FTF. Têm objectos de adoração, chamados geocoins e travelbugs, que guardam como os Templários guardavam Jerusalém. Tratam os não iniciados de forma diferente, apelidando-os de muggles, mas raros são aqueles que usam de preconceito contra eles, preferindo tentar convertê-los à sua causa. Andam por aí com aparelhómetros da mão à procura de tupperwares, invólucros de rolos fotográficos e outras embalagens que designam como containers.
São gente estranha.
Eu, como gajo estranho, tinha de aderir, pois claro. Criei para mim um desses nomes próprios da irmandade e agora saio ocasionalmente em aventuras por sítios e lugares, ocasionalmente olhando a morte nos olhos (como descrevi há uns dias), conhecendo pessoas e acima de tudo, recuperando um certo sentido de mistério de deslumbramento que só se alcançam viajando e conhecendo sítios novos. Faz até lembrar escutismo, mas aquele que fazia quando era bem mais novo, em caças ao tesouro.
Esta coisa chama-se Geocaching. Rouba tráfego de satélite que até pode servir para salvar vidas só para encontrar umas vulgares caixinhas. Quanto mais penso, mais me lembra a Maçonaria. Mas duvido que alguma vez tipos de barrete, frontal e impermeável venham a influenciar os destinos de Portugal
quinta-feira, dezembro 24, 2009
Não há cá boas festas para ninguém...
...mas se eu tivesse um grama de espírito natalício no meu corpo, seria algo tipo isto.
terça-feira, dezembro 22, 2009
domingo, dezembro 13, 2009
O Geocaixão
Tornei-me já há algum tempo aficcionado do geocaching, uma brincadeira/desporto/maluqueira/substituto de droga (riscar o que não interessa) que me levou a comprar um GPS que não me servirá para mais nada que não isto. Investimentos que dão frutos: esse era o meu nome do meio até o meu pai ter sugerido Simões.
O geocaching consiste em caixas que uns escondem e outros procuram através de coordenadas GPS. Alguns geocachers (o nome das criaturas que brincam a isto) colocar-me-ão em fogueirs por reduzir o jogo a esta simplificação, mas é exactamente o que a coisa é. Eu fazia disto nos escuteiros, chamava-se "Caça ao tesouro". Aqui, juntamente com uma maior elaboração dos esconderijos, não tenho é de andar fardado nem pretender que tenho crenças que não possuo.
Costumo praticar isto com uns amigos e vamos por aí cachar. Bela vida. Só que há uns dias, ia-se transformando, numa bela morte.
Estávamos nós a percorrer um trilho pelo meio do mato, quais sete anós (só que sendo cinco), num final de tarde que já parecia noite cerrada, quando a coisa se deu. Um passo dado em segurança que rapidamente se transformou numa queda livre barreira abaixo.
Não sei se me apercebi do que estava a acontecer, honestamente. Sei que apesar de estar a mergulhar para uma morte certa, não gritei, disseram-me mais tarde. Apenas me viram desaparecer, e pensaram que era brincadeira. Eu também devo ter pensado isso.
Uns quatro, cinco metros depois, aterrei em algo que me pareceu folhagem. Como disse, era de noite, estava escuro. Mas sei que havia mais espaço para preencher até ao chão. Passara lá de dia e tinha essa memória. Aquele colchão estava parado ali, em pleno ar, como uma mão estendida para apanhar as minhas costas. Uma pessoa mais impressionável teria sido obrigada a reconsiderar a sua falta de fé. Trepei barreira acima e encontrei os meus companheiros incrédulos, a perguntar-me se estava bem. Não tinha um arranhão e na minha cabeça, aquilo fora tão anormal como acordar de manhã.
Isso foi o mais estranho. O não sentir nada de anormal. Aliás, eu não senti o que quer que fosse durante o tempo de queda: não senti medo, raiva, tristeza. Nem sequer senti que podia morrer e isso ter grande consequência nop meu estado de consciência. Era como se me fosse indiferenre morrer ou viver. Talvez tenha sido choque, não sei. Mas essa é a coisa que guardo desta experiência: será que não tenho não vontade de viver? Sei que não quero morrer. Devo estar num limbo entre estas duas coisas.
Enquanto não descubro a solução disto, faço caixas. Pode ser que nalgumas delas esteja a solução do enigma.
quinta-feira, dezembro 03, 2009
A década dos zeros - Televisão, 1
A década que finda agora em 2009 marca um renascimento da televisão como meio de entretenimento. Assistimos a uma idade de ouro da ficção televisiva, principalmente na ficção dramática. A quantidade de boas séries desta década parece uma improbabilidade estatística. O mais impressionante é que podemos encontrar qualidade não só em programas criados e desenhados para serem obras de arte em si, mas também naqueles que,procurando audiências, não descuram o seu valor como objectos artísticos.
Não sendo minha especialidade teorizar largamente sobre media e afins, é melhor passar ao que este post quer tratar: as séries em si. Nesta primeira parte, deixam-se quatro séries que, na minha opinião, definiram a década que passou. Não serão necessariamente as melhores, por isso calma lá com os cavalinhos. São apenas pistas que marcaram os 2000´s, lançando modas e tendências.
"24" - A série criada por Joel Cochran e Joel Surnow foi a primeira vítima do 11 de Setembro. Uma das histórias que se desenrolava no episódio piloto retratava a queda de um avião no deserto de Mojave,e à conta da brincadeira, a sua estreia foi adiada um mês. Foi um prenúncio para o que "24" simbolizou: o drama televisivo em maior sintonia com o espírito político do seu tempo. Aparte a sua estrutura dramática revolucionária (cada temporada são 24 horas de um mesmo dia, cada episódio uma hora em tempo real), teve em Jack Bauer o reflexo da administração Bush: um homem patriota até à medula, que acredita que na altura de parar o "mal", os meios justificam os fins e que quem comete um crime, atira os seus direitos pela janela. No entanto, foi a primeira a preconizar um presidente negro, um presidente mulher e na mudança dos tempos, a vilanizar um presidente totalmente bushiano em espírito. Sem ela, o cinema de acção seria diferente do que é hoje, e a adrenalina televisiva das séries de acção não existiria com a mesma pujança.
"CSI" - Da lavra de Anthony E. Zuiker e Carol Mendhelsson, "CSI" abriu uma caixa de Pandora, que parece inesgotável na sua fartura de criar ficções em redor da ciência forense aplicada a investigação criminal. O pai de todos os "procedurals" da década que agora finda é muito simples e tem uma fórmula intemporal: crime cometido, investigação realiza-se, criminoso apanhado. A sua diferença reside no foco que existe no trabalho que habitualmente era subentendido em séries policiais, ou seja, o de laboratório. "CSI" junta a fórmula antiga e a moderna de forma eficaz, utilizando um estilo de realização apelativo e a beleza sinistra de Las Vegas para se criar e criar um sucesso que gerou duas spinoff (em Miami e Nova Iorque, cada uma com um estilo independente, nomeadamente a versão capitaneada pelo inenarrável Horatio Caine), mas nenhuma superior à original, e Gil Grissom continua a ser a razão pela qual tantos espectadores se sentem atraídos pelo original. "CSI" apela ao nosso instinto básico de vermos os malvados sempre punidos e sem ela, não haveria toda um década de crimes por resolver por dezenas de polícias ficcionais.
"House" - Hoje já não é novidade, mas quando surgiu, "House" era uma série irreverente. Seis anos já deram para nos habituarmos ao rezingão da bengala, mas em 2004, haver um personagem arrogante e abrasivo a liderar uma série era diferente. Não é que fosse a primeira vez que tal acontecia: "Profit", uns anos antes, usara este esquema, mas fora um fracasso. Nas comédias, o esquema é habitual. "Seinfeld" utiliza 4 personagens principais cheiinhas de defeitos e picuinhices, mas a comédia lida melhor com estes personagens como fonte de riso. Agora, o drama televisivo, e ainda por cima hospitalar, a ser varrido por sarcasmo e ridicularização? Parecia blasfémia! Mas vingou, provando que o nosso gosto como espectadores mudou bastante. "House" tem também alguns dos one-liners mais inspirados pós-Woody Allen e em Gregory House/Hugh Laurie um das melhroes combinações personagem/actor da década, numa fusão estranha entre comédia e construção dramática que resulta estrondosamente. Sem "House", não haveria "Lie to me", "Mental" ou mesmo "Dexter".
"Lost" - Uma série que mistura uma ilha bizarra, viagens no tempo, ursos polares, ficção científica, foca 14 personagens e ainda por cima segue um esquema de serial, nunca por nunca poderia dar um produto de sucesso em televisão. Isto seria verdade, se não tivesse surgido "Lost" para subverter a lógica de que uma série de grandes audiências tem de ser obrigatoriamente simples, episódica e com episódios com história contida. A criação de Damon Lindeloff e J.J Abrams surgiu do nada, com a adrenalina dos melhores thrillers, a complexidade de um enigma bem esgalhado e um tratamento dramático de personagens que nunca é esquecido por todas as reviravoltas da história. Este equilíbrio entre o apelo da nerdland e aquilo que faz o gosto do espectador comum fez com que "Lost" tivesse uma média de 15 milhões de espectadores na primeira season e apesar de o número ter vindo sempre a decair, foi gerindo o culto com o arrojo de quem sabe estar a contar uma história e não cede perante ninguém. É preciso tomates para isto. Sem "Lost", não existiriam "Heroes", "Flashforward", ou a nova versão de "V".
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