quarta-feira, junho 16, 2010

Lição número...


Já é lugar comum dizer que Portugal é um país de analfabetos. Se isto deixou de ser verdade com o passar dos anos, ainda se mantém inegável o facto de um viveiro onde analfab rutos pululam. A nossa língua já não é a nossa Pátria; aliás, é apátrida, pois com acordos e acordozinhos ortográficos, depojámo-la das suas raízes e daquilo que a fazia verdadeiramente nossa, um pedaço de transformações históricas, uma marca inegável da passagem do nosso tempo cultural. No entanto, não é disto que venho falar. Serve este facto de sintoma de um mal muito maior de que padece Portugal. É um mal que se reflecte na polémica nova lei que permite a alunos do 8º ano de escolaridade saltarem o 9º através de um simples exame.
Antes de mais, não percebo de onde vem a polémica. Para haver polémica, era preciso surpreender, o que não acontece., É uma lei filha de dois pais: a noção de que passar de ano deve equivaler a uma idade limite, e também à utópica "ninguém pode ficar para trás, não há alunos burros". Este princípios moldam a noção de escola à portuguesa. O esforço dos que têm melhores notas é recompensado pelos resultados, mas o esforço dos alunos medianos é ignorado. São alunos que, apesar das suas limitações, acreditam que o trabalho os poderá compensar para serem bem sucedidos. O que esta lei faz, basicamente, é dizer: aguentem uns anos, relaxem, que fazem um testezinho e vão para o Secundário - não trabalhem. Promove-se o laxismo e castiga-se a competência de várias maneiras neste nosso cantinho, mas penso que estamos a tentar começar o mais cedo possível a fazer isso.
Reparem que consigo entender a famosa noção de "escola inclusiva", onde todos os alunos devem ser apoiados para progredirem pedagogicamente, mas na minha cabeça, isso fez confusão, proque o ensino é não só um direito, mas também uma aprendizagem em si. Ensinam-se conteúdos, mas também valores. Define-se o que é justo e o que não é. Professores injustos fizeram mais pelo desinteresse dos alunos do que qualquer programa escolar dito "secante". Muito alunos não se dedicam à escola, simplesmente por achar que não vale a pena.
Ora, é aqui que regressamos ao início. A Educação é tratada neste país como a Cultura: algo que se tem de garantir, mas sem grande esforço e planeamento. Há uma fórmula geral, que se considera certa, e não se mexe muito. Nem vale a pena. Esta lei vem, como disse, nesta corrente de pensamento. A de que "deixa andar, vamos passar este mal para outro" e o processo de ensino, que devia ser construtivo, é um vê se te avias e disperso. Num país onde se queixa que os miúdos não querem aprender, começa ser demasiado gritante o desnorte na hora de ensinar. Isto, em si, é uma lição para quem ainda acredita que tudo corre bem actualmente. Ou melhor, atualmente, como alguns senhores querem que se escrevba agora.

3 comentários:

Sebastian Flyte disse...

...O typo em "escreva" na última frase foi intencionalmente irónico ou foi só uma fatalidade do destino?

luminary disse...

Falha própria e mea culpa:)

Post-It disse...

E começares a corrigir as gralhas, para a coerência e tal... :p