Realizador: Tarsem
Elenco: Lee Pace, Catinca Untaru, Justine Wandell
Sinopse: Los Angeles, 1915. Uma criança romena, Alexandria, recupera num hospital, de uma fractura no braço. Aí, conhece Roy, um duplo de cinema que perdeu o uso temporário das pernas. Sob o pretexto de que ela lhe roube morfina, Roy conta-lhe uma história, que a menina visualiza através das sua prodigiosa imaginação.
Review: A última vez que um estúdio deu rédea solta ao talento visual de Tarsem, que se tem exprimido nos últimos anos em vários anúncios e videoclips (como "Losing my religion"), ambos deram ao mundo "A cela", um filme cuja horripilância nem se pode descrever. O estilo barroco do realizador indiano tornou uma história já de si bizarra acerca de serial killers uma coisa horrível.
"The fall" é exactamente o oposto. Sendo um projecto pessoal e que Tarsem financiou com o próprio dinheiro, a obra segue o jeito pessoal que o indiano tem: quanto maior, melhor. No entanto, o contexto de fábula acaba por ser o mais indicado para Tarsem deixar expandir o inegável talento que tem para pintar quadros de imagens em movimentos. Dificilmente encontrarão um filme visualmente fabuloso do que este. Sem efeitos por computador, jura o realizador. E quando virem o filme, percebem que este facto torna tudo ainda mais espantoso. A colaboração do fotógrafo Colin Watkinson é fundamental, e o exagero natural de Tarsem tem o seguimento devido com o guarda-roupa da grande estilista japonesa Eiko Ihsioka, que já tinha dado ao Dracul de Gary Oldman, no filme de Coppola, um look absolutamente excessivo, mas inesquecível. "The fall" tem o tipo de imagens que nos fazem esquecer de respirar por segundos, como se o prazer dos nossos olhos provocasse um qualquer problema nos pulmões.
Esse é, aliás, o ponto forte do filme. É um murro estético poderosíssimo, um objecto rarísimo e que devemos apreciar, pois nos tempos que correm, nenhum estúdio em Hollywood iria financiar um filme deste género, sem actores conhecidos no elenco. É uma das grandes belezas do filme: a cada momento, estamos a apreciar algo de perfeitamente irrepetível. Enquanto assistia a "The fall", sentia-me especial por isso mesmo. Tanto mais que esta obra teve pouca divulgação, e assim, mais especial me sinto por poder desfrutar do poder visual deste filme. Claro que "The fall" nunca consegue caminhar equilibradamente entre olhos e cabeça. O argumento deste filme é desprovido de arcos narrativos de personagens e estrutura, e o balanço entre a fábula que se conta e a vida real está feito de forma atabalhoada. Mas já "Moulin rouge" era assim e não é por isso que o acho um filme menor.
"The fall" é um objecto bizarro, numa história construída a três, entre Alexandria, Roy e nós próprios. Mesmo os problemas de co,unicação entre a menina romana e o duplo norte-americano se reflectem nas nuances da história (por exemplo, entendimento diferente que ambos têm da palavra "indian"). Está cheio de pequenos pormenores fantásticos tiradas engenhosas, que nunca se perdem num todo incoerente. Não sei se isto se deve à habilidade de Tarsem ou à força esmagadora das imagens que cria, mas é um facto que este é dos filmes mais extraordinários feitos no século XXI. Não necessariamente dos melhores, mas aquelas obras que saem fora do normal e que nos sabem dar cinema em grande escala e poderoso sem se armar ao pingarelho.Excessivo, magnificamente belo, raro. É a imaginação de um artista ao serviço do nosso prazer.
P.S: A sequência de créditos de "The fall" é uma curta-metragem à parte, que tem das melhores utilização do Alegretto da 7ª sinfonia de Beethoven que já vi.
1 comentário:
Um filme visualmente espantoso, mas o argumento fica algo aquém das expectativas. A estética é profundamente devedora dessa obra-prima que é "Baraka". Ainda esbocei alguns sorrisos de reconhecimento ao notar que algumas sequências de "The Fall" são quase decalcadas do poema visual de Ron Fricke.
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