Notícias da Noruega chegam-nos habitualmente uma vez por anos, pelas Calendas do Nobel, mas este ano, o pais nórdico deu-nos uma figura muito pouco silly para figurar como a vedeta da nossa silly season. Um senhor de seu nome Anders Breivik levou demasiado à letra a expressão "passar o Verão a bombar", e ainda acrescentou o massacre em estilo de serviço completo. Breivik tentou justificar-se. Confesso que quando alguém usa o verbo justificar numa situação dessas, os meus ouvidos, habitualmente desligam-se e preferem ligar a Antena 2, de modo a abstrair-me de quanta crueldade o mundo supostamente moderno tem. No entanto, a minha Antena 2 interior não se pode comparar ao domínio que a minha engrenagem de raciocínio tem; e foi assim que penetrei no glorioso mundo da extrema-extrema direita (por respeito à outra, que em vez de matar gente, prefere deixá-la morrer no mar alto). Breivik anunciou que era seu plano criar uma guerra santa contra o Islão e os emigrantes e devolver a Europa aos genuínos europeus.
Não vou aqui andar a dizer o que muitos blogs falaram desde que tais eventos se sucederam. O que quero ressalvar aqui é isto: Breivik, ao contrário de todo e qualquer estadista europeu pós- década de 60, tinha uma ideia para a Europa. Não deixa de ser uma ideia incrivelmente idiota, cheia de ódio e absolutamente desprezível por qualquer pessoa com valores adequados, mas era, ainda assim, uma ideia. Para mais, possuía também um plano, que se entreteve a urdir entre uma leitura do Mein Kampf e uma vista de olhos pelo catálogo da revista "Guns and ammo". Que um homem claramente desequilibrado, e cuja profissão nem sequer tem nada a ver com política, tenha dedicado esforço mental e tempo a pensar naquilo que um conjunto se senhores e senhora já deviam ter solucionado por esta altura é, talvez, um sinal de uma falência política que já não se via há anos. Breivik é o herdeiro de um conjunto de psicopatas no espaço europeu, mas terá sido dos únicos pan-europeus, numa época onde a Europa perdeu um rumo. Obviamente, não defendo que que Breivik é uma vítima destes tempos em que vivemos. Se ele é vítima de algo, é a da sua própria máquina ideológica, que existe noutros países, graças a uma certa retórica de direita e anti-imigração, lançada por políticos que desconhecem claramente os mecanismos da mente humana. Os políticos, que raramente levam a sério as ideias que anunciam, nunca pensam que aqueles que os ouvem não têm a mesma apatia política.
Por muito que nos assuste, o clima político e económico europeu foi criando mais "Breiviks" que pululam por aí, em países tão insuspeitos como a Noruega. Da mesma maneira que a instabilidade norte-americana das décadas de 60 e 70 criou uma série de dementes serial-killers, a crise (não só económica, mas acima de tudo moral) da Europa vai gerar mais dementes que vêem em actos extremos uma solução e uma justificação em si mesma. Onde a crueldade começa a ser sinónima de banalidade; e não estou só a falar de Breivik.
2 comentários:
Meu, sabes que dia é hoje?
Sabes em que dia escreveste pela última vez?
Shame...
quase 2 meses sem escrever...vou cancelar a minha assinatura deste blog.
JP
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