segunda-feira, janeiro 23, 2012

Previsões que só lembram ao careca... dourado


Chega aquela altura do ano em que lanço por aqui, para curiosidade de uns e suspiro aborrecido de outros, as minhas previsões relativamente aos nomeados para os Óscares. Serão anunciados amanhã, mas se quiserem ganhar dinheiro nu site de apostas, não vejam estas, que não quero ser responsável por perderem dinheiro.
Confesso que este ano me vai ser muito mais fácil assistir a todo este fenómeno. Ao contrário do ano passado, o meu investimento emocional será mínimo, visto que, mesmo com o filme de Deus metido ao barulho, as hipóteses de conseguir ganhar são remotas. Ainda assim, vai ser divertido, pois os candidatos deste ano poderão ser o conjunto mais old school dos tempos recentes. Vamos a isso! Deixo-vos as categorias principais, e deixo as técnicas para não melindrar quem me quiser perguntar depois

MELHOR FILME DE ANIMAÇÃO

"The adventures of Tintin"
"Rango"
"Puss in boots"
"Cars 2"
"Kung fu Panda 2"

MELHOR DOCUMENTÁRIO

"Pina"
"Paradise Lost 3"
"Project Nim"
"Buck"
"Undefeated"

MELHOR FILME ESTRANGEIRO"

"A separation" (Irão)
"In darkness" (Polónia)
"Footnote" (Israel)
"Pina" (Alemanha)
"Monsieur Lazhar" (Canada)

MELHOR ARGUMENTO ADAPTADO

"Moneyball"
"The descendants"
"Hugo"
"The help"
"The girl with the dragon tattoo"

MELHOR ARGUMENTO ORIGINAL

"Midnight in Paris"
"The artist"
"Bridesmaids"
"50/50"
"Young adult"

MELHOR ACTRIZ SECUNDÁRIA

Octavia Spencer, "The help"
Melissa McCarthy, "Bridesmaids"
Berenice Bejo, "The artist"
Jessica Chastain, "The help" (ou "Tree of life"... Não sei porquê...)
Shaileen Woodley, "The descendants"

MELHOR ACTOR SECUNDÁRIO

Christopher Plummer, "Beginners"
Albert Brooks, "Drive"
Jonah Hill, "Moneyball"
Kenneth Branagh, "My week with Marylin"
Nick Nolte, "Warrior"

MELHOR ACTRIZ

Meryl Streep, "The iron lady"
Viola Davis, "The help"
Michelle Williams, "My week with Marylin"
Glenn Close, "Albert Nobbs"
Rooney Mara, "The girl with the dragon tattoo"

MELHOR ACTOR

George Clooney, "The descendants"
Brad Pitt, "Moneyball"
Michael Fassbender, "Shame"
Jean Dujardin, "The artist"
Gary Oldman, "Tinker Taylor Soldier Spy"

MELHOR REALIZADOR

Michel Hazanavicius, "The artist"
Woody Allen, "Midnight in Paris"
Martin Scorsese, "Hugo"
Alexander Payne, "The descendants"
David Fincher, "The girl with the dragon tattoo"

MELHOR FILME (Ninguém sabe ao certo quantos nomeados haverá, eu arrisco estes...)

"The artist"
"The help"
"Hugo"
"The descendants"
"Midnight in Paris"
"The girl with the dragon tattoo"
"Moneyball"
"War horse" ou "Tinker Taylor Soldier Spy"

sábado, janeiro 21, 2012

"The girl with the dragon tattoo"


Fui ganhando fama, durante anos, de ter uma fé inabalável em David Fincher, e nos seus poderes cinematográficos. Ainda antes de ser moda, como o é agora, gostar-se do realizador norte-americano, eu proclama alto e bom som o quão ele era bom. Defendi "Fight club" quando não era popular fazê-lo (quando alguns amigos meus o viram, alguns anos depois da estreia, pareceram saídos de uma filme completamente diferente do que pensavam ter visto) e tem-me acontecido o mesmo com "Zodiac", que começa agora a ser classificado com a excelência que nele detectei. Eo conheço a obra de Fincher seja de que ângulo e direcção for. No entanto, as semanas que antecederam a estreia de "The girl with the dragon tattoo" abanaram um pouco a crença. Embora não o admitisse publicamente, temi esta estranha escolha de projecto. Achei "The social network" o melhor filme de 2011, e numa década em que Fincher começava finalmente a sair de um certo nicho onde queriam entalá-lo, voltar a esse mesmo nicho não me parecia a melhor opção. Seja dita a verdade: não conhecia minimamente esta obra, apenas pormenores superficiais que li por aí.
Depois de ter visto o filme, posso descansar: este é um filme Fincheriano de uma ponta à outra.
A história, despida dos pormenores, é quase de Agatha Christie: um jornalista, Mikael Blomkvist, caído em desgraça, é contratado por um milionário, Henrik Vanger, para investigar o desaparecimento da sua sobrinha Harriet, um mistério com 40 anos. Quando a investigação fica algo entalada, é contratada também uma detective provada chamada Lisbeth Salander, que faz da atitude e vestuário um sonoro "Vão-se foder" para quem queira ouvir, e mesmo para quem não queira. Juntos, investigarão uma trama que envolve, segundo o milionário, um conjunto de matulões, grunhos, sádicos, o mais detestável conjunto de pessoas que ele jamais irá conhecer: a família Vanger.

A partir daqui, a investigação desenrola-se mais ou menos como o previsto, com curvas em ziguezague e revelações e alguns buracos na narrativa expectáveis. Na verdade, o filme é menos sobre este mistério e mais sobre a relação entre as duas personagens, e principalmente sobre Salander. O que tem lógica, visto que o cinema de David Fincher sempre se centrou na ligação que se estabelece entre personagens, havendo sempre uma que mora nas franjas da sociedade. Sejam os binómios Somerset/Mills, em "Se7en", Jack/Tyler Durden em Fight Club" ou Eduardo Saverin/Mark Zuckerberg em "The social network", a obra deste realizador vive disto. Salander e Blokmvist passam metade do filme separados, na sua história particular. Blomkvist investiga o desaparecimento de Harriet, enquanto Salander tem de lidar com um funcionário público, que é o seu tutor no correspondente sueco à nossa Segurança Social, que trata Salander como uma escrava sexual em troca do dinheiro que lhe é devido pelo Estado. Nessa parte, o filme envereda por algumas sequências de violência sexual quase explícita, mas filmadas com gosto e pinta por Fincher, encenando momentos de horror de forma muito estética, nunca lhe retirando o poder. Claro que, quando Salander exerce a sua vingança (e ela surge, nada temam), Fincher podia pô-la a violá-lo com um extintor, que nós aplaudiríamos na mesma.

É quando os dois se unem e partem à aventura que fica claro que num filme onde os homens odeiam as mulheres, na sua maioria, a mulher é a mais capaz e assertiva, em todos os sentidos. Salander podia ser elevada a uma espécie de anjo vingador, mas na maneira como Rooney Mara (excelente) a interpreta, é uma espécie de fantasma, que percorre o filme de pulsão em pulsão, sem nunca se prender. A vida, e tudo o mais, parecem passar-lhe ao lado, e apesar de todas as contrariedades que lhe sabemos, e de outras que apenas podemos pressupor, ela recusa-se a transformar-se numa vítima. Ora, isto já pode ser difícil de engolir para quem imagina qualquer pessoa traumatizada como um destroço humano choramingas. Quererem convencer-nos que uma mulher pode ser tão capaz como um homem... É apenas a cereja no topo do bolo; e no entanto, Fincher, em todas as cenas, faz questão de deixar claro, que Blomkvist é quem necessita de protecção. desta maneira, este é um filme de subversão de expectativas; e querem coisa mais fincheriana do que esta? Não sendo totalmente intencional, é de um humor refinado colocar Daniel Craig, ou senhor James Bond durão, a fazer de um repórter que nunca se dá bem nos seus confrontos, e precisa, até ao final, que uma rapariga o salve de todas as encrencas. Isto para não falar da complexa intimidade sexual que se estabelece entre ambos, e que reforça a ideia de que Salander e os seus desejos não dependem de ninguém: apenas da sua própria vontade. É esta independência, em vários sentidos, que torna esta personagem feminina como algo interessante e fascinante de seguir numa obra de ficção.

Um outro tema que o filme retrata bem são as aparências. Uma das taglines utilizadas para o filme, "O que está escondido pela neve é revelado na relva", é um provérbio sueco que já indiciava isto. A ideia que temos da Suécia como país organizado justo esconde um passado nazi e certas correntes de extrema-direita que estão latentes e bem preparadas para despertar. A casa daquele que se vem a saber ser o responsável pelos crimes é o perfeito retrato de um país Ikea: na superfície, uma cozinha fabulosa, móveis lindíssimos, organização perfeita e confortável; na cave, todos os instrumentos de tortura imagináveis, incluindo um CD de Enya que é posto a tocar na cena mais divertida do filme, num efeito contrário ao que a cena pediria nas mãos de um realizador normal. A Suécia é um personagem presente no filme, desde a arquitectura das suas cidades e espaços, até à própria atmosfera invernal, que escondem sempre algo debaixo da perfeição. O nosso instinto voyeur é chamado ao serviço, tentando entrever por entre a neve e a calma, o próximo jorro de macabro e grotesco.

Já referi a excelência da interpretação de Rooney Mara como Lisbeth Salander, e nunca é demais reforçar isso. Não vi a versão o original sueco, nem li o livro, mas esta Salander convenceu-me como personagem. Uma espécie de fantasma prisioneiro, que compartimentaliza a sua vida numa casa dentro da sua cabeça, e veita ao máximo que os quartos comuniquem entre si. Mara consegue ser um granito não sentimental, sem nunca nos deixar de parecer humano. Os seus olhos não deitam só fogo e enxofre. Há ali também uma qualquer faísca de emoções que se vão desvelando, lentamente, com o passar do tempo, e atingem o seu culminar numa cena final anti-climática, mas bela à sua maneira. Craig também vai bem, embora nunca se consiga desligar do ar durão que lhe associamos, mas a culpa não é dele. O filme tem também um elenco de secundários muito forte(com Plummer a aparecer com muita classe como o patriarca da família Vanger, e Stellan Skarsgard banalmente oleoso, no melhor dos sentidos). A realização de Fincher neste filme é muito segura e calculada, parecendo escolher a atmosfera em detrimento do espalhafato, e tomando as opções certas com intenções ainda mais acertadas. Não será, porventura, o mais seu potente trabalho de realização, mas é um trabalho de certeza e mestria, e que me faz pensar que de filme para filme, Fincher se está a tornar mais seguro. Espero, com isto, que Fincher não vire um Tim Burton do séulo XXI, constantemente a repetir-se, nos seus estilos e tiques. Este filme mostra que não há ninguém que trate a banalidade do mal tão bem como ele. O que quero ver ainda, como apóstolo, é o que Fincher trará a seguir, num patamar novo. Elogiem-se também a segura direcção de fotografia de Jeff Cronenweth e uma banda sonora eerie de Trent Reznor e Atticus Ross, que parecem retirar música do gelo.

Como ponto menos positivo do filme, queria destacar o final, que mesmo bem filmado como tudo, diminui a catarse da história até à potente cena final, subtil, mas certeira. Talvez tenha sido isso que me retirou do filme extremamente satisfeito, mas não maravilhado, como esperaria. No entanto, é um filme que tem crescido em mim, quanto mais penso nele. Isso só pode ser bom.
E nunca mais vou ouvir o tema "Orinoco flow" com os mesmos ouvidos...

sábado, janeiro 14, 2012

Os factos da vida


Quanto mais conheço das pessoas, mais percebo quem prefere dedicar-se a objectos inanimados.

sexta-feira, janeiro 13, 2012

terça-feira, janeiro 03, 2012

"Tinker tailor soldier spy"


Assistir a filmes com cinéfilos origina sempre piadas quase herméticas. A prova cabal deste facto é verificável quando se assiste ao trailer de "Tinker tailor soldier spy". Ouve-se, à medida que os nomes dos actores vão desfilando, a enumeração de anteriores encarnações: "Um filme com Dracula... Sherlock Holmes... Mr. Darcy... Julio César... Bane... Xerife de Nottingham... O tipo de quem o Alien sai da barriga...". Quando o riso se acaba, surge uma ideia quase adquirida. A de que o elenco deste filme é, assim de caras, a razão mais óbvia para ir vê-lo. O refugo da interpretação britânica não tem lugar aqui.
Esse é, sem dúvida, o maior trunfo de "Tinker tailor soldier spy", um drama de espionagem à antiga, e que, por muito britânico que seja o pedigree, só podia ter sido realizado por um sueco, Tomas Alfredsson (que continua a sua senda de obsessão pelos anos 70, evidenciada por "Let the right one in", um excelente filme de vampiros a evitar por Twilightómanos) vem de uma terra que criou, desde séculos anteriores, uma refinada casta de melancolia que não se encontra em mais algum lado. O filme, que é mais uma deambulação existencial e menos um thriller "whodunnit" de espionagem, deixa-se barrar por este ambiente, e nas suas melhores cenas, é precisamente o tipo de coisas que nos afecta mais pelas coisas que se não se dizem do que pelo que é dito na cara: um olhar, um trejeito, um silêncio. A Guerra é Fria por fora, mas no interior é tudo menos isso.
O romance de John Le Carré é uma reflexão sobre o desgaste que uma vida de enganos pode ter num indivíduo. Habitar num mundo de mentiras e desconfiança é essencial quando é essa a nossa profissão, mas torna a vida fora dessa esfera um deserto imenso. O filme não foge disso, e a pergunta essencial que está no seu centro (e que dá origem ao infeliz título português) remete para a descoberta de uma "toupeira", ou seja, um agente duplo na alta cúpula da espionagem britânica. A tensão criada por toda esta odisseia não é conseguida de forma barata e fácil: o filme arde lentamente em lume brando e a pouco e pouco, vai-nos sobressaltando. Quando a solução desaparece, aliás, parece quase anti-climática (e óbvia, para quem prestou real atenção aos pormenores), porque precisamente não vem embrulhada em grandes flashes. É-nos mostrada com precisão clínica. A mesma que permite que os pequenos espaços de humanidade da história, como uma pequena aventura que o personagem de Tom Hardy vive numa missão, quase como anticorpos estranhos no meio de um tecido de racionalidade. Mas é por isso mesmo que são benvindos.
Penso que a cena que melhor define aquilo que o filme transmite é protagonizada por Gary Oldman e uma cadeira. Oldman, numa interpretação prodigiosa de controlo corporal e emocional, é um centro deste filme, e na cena em questão, abre um pouco do seu mundo a um silencioso subalterno. Conta a história de como conheceu a figura maior da espionagem russa, quase por acidente. Naqueles momentos, em espaços, vemo-lo reviver algo que o agita verdadeiramente e o humaniza. É uma cena de arrasadora subtileza emocional, que representa todo o ambiente do filme. Alfredson tem ao seu dispôr actores enormes, que mesmo em pequenos papéis, dão vida a personagens que ficam connosco. A elegância com que o sueco conduz a acção mostra como ser antiquado não é, em nada um defeito, e de como a espionagem de hoje em dia não tem de ser filmada como se fosse uma corrida de Formula Um. Compreendo que, em pontos, o filme possa ser frustrante para quem é mais apressado; mas os amantes dos pormenores, como eu, retirarão o gozo da segunda e terceira vez que virem o filme.

"Tinker Taylor Soldier Spy" é, portanto, estilo e excelentes performances. Fala da capa da mentira e do quanto ela rouba o mundo em nosso redor, quando vivemos a vida toda nela; e também de como a fidelidade é importante. Não só entre pessoas, mas também a valores de bom cinema que nunca devem morrer.

Nota: 9/10

segunda-feira, janeiro 02, 2012

3 palavras para o meu 2011: Madeira


Quem me rodeia habituou-se a reconhecer palavras-chave que me identificam: cinema, Green Day, televisão, palhaço imenso. São como etiquetas que se colocam e que, num jogo de "seis graus de separação", ermitem que, por exemplo, eu e Natalie Portman estejamos à distância de uma alavra. Ah, Natalie Portman...
Mais um vocáculo entrou na arena desse jogo em 2011, o de uma zona que passou o a ser vilipendiada por tudo quanto é lado e que eu estive numa posição privilegiada para observar. A Madeira entrou no iaginário nacional como um imenso sorvedouro de dinheiros público,s mas no meu 2011, ela estará sempre como, ahm, casa? Estou mesmo a dizer isto? É que nalguns círculos, "Ceira" é outra palavra que se me cola como bandeira erguida em orgulho fervoroso (ou simplesmente piada gostosa).
A Madeira marcou o meu 2011, e a minha vida, talvez. Nunca tinha tido a experiência de morar sozinho, e a primeira vez que o faço, vou para uma ilha, bem longe de tudo o que me é confortável. Sem conhecer ninguém, o que é pormenor a reter. A solidão que passei anos a imaginar na minha cabeça tornava-se forçada e inescapável. Demorou até me reorientar, mas quando o fiz, descobri que aquela ilha reflecti muito daquilo que sou: uma ilha também. Foi o primeiro passo nas pazes que tive de fazer com esse facto, e reconhecer que a minha natureza é ser um solitário.
Madeira foi também uma experiência profissional razoavelmente gratificante, onde trabalhei com miudagem boa, e outra que merecia ser coberta de cal viva, mas não convém referir isto nos relatórios de observação. Alguns ainda me escrevem hoje, a perguntar como estão as coisas, e isto não pode ser necessariamente mau. Madeira fez-me mudar algumas coisas a nível pessoal, na mina relação com os outros. Madeira tornou-se num cofre de coisas que nunca partilharei neste blog, mas que são valores ainda sem cotação bolsista, e ainda bem. Madeira tentou, ao máximo, desprovar a minha crença de que ninguém me curte. Quase o conseguiu.
A Madeira foi, portanto, um palco de mudança, onde muita coisa permaneceu na mesma. Mas um lugar onde ao lado de fanáticos regionalistas, existe muita gente boa que tive o privilégio de conhecer e trabalhar. Um local onde pude contactar com novos extremos da contradição humana, e chocar com realidades que na minha cabeça eram patetas, e passaram a ser... bem, menos patetas, que eu sou de ideias fixas.

Madeira é uma terra a que aplico "obrigado" sem medo de exagerar. Porque o agradecimento constante passou a fazer parte de mim por causa dela.

Mas sempre que tiver oportunidade, vou zurzi-la quando merece!