quarta-feira, fevereiro 19, 2014

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Eu já entro no carro com o meu sorriso a sangrar, mas não mostro. A tua tristeza  preenche todos os espaços vazios no interior, e por isso, enquanto conduzo, é meu dever não te mostrar que estou como tu, desejoso de inverter a marcha, mas sabendo que o caminho é não dar voltas ao tempo. Passou em linha e chegou ali. Sabíamos que chegaria, e dois dias passam depressa, embora saibamos transformar minutos em meses através da alquimia dos abraços. Tem sido assim, quando nos encontramos, e a realidade da distância não esbate a ilusão de termos conhecido alguém que faz valer cinco dias de espera, e que os torna banais sem nunca nos banalizar.

Sou do contra, e quero que todos os dias sejam segunda., Quero que todos os dias comecem no sítio onde este acaba, e quero receber-te e recolher o meu prémio de segunda de manhã, e que segunda e terça sejam como a primeira. Quero que continues a esconder palavras no meu ouvido, e que me recolhas à procedência do teu coração balancé e que empurres até que eu perca a noção do salto de fé. Quando só temos dois dias, é um salto em comprimento contínuo. Mete-se um ponto final parágrafo que parecem dois pontos, e as interrogações culminam numa exclamação. A exclamação de ser do contra, e de ver a semana reduzida a ti.

Nos outros dias, volto a regular e a ser eu. Deixo de ser quem vês na segunda e na terça, e respondo à pergunta se alguém pode ser quem não é: não, não pode. Embora ande a brincar a ser Bruno durante 5 dias por semana, parece que só consigo sê-lo em dois dias, nas segundas e nas terças em que és a primeira, e me metes a quinta a fundo numa quarta no masculino. Sou eu, porque nos outros dias não sei sê-lo, e é estranho porque me sinto sempre eu. Apenas não quero existir como tal, e em dúvida, não sei nem respondo: invento-me outro, até que o comboio te traz e faz descarrilar os disfarces.

Estou atrás da linha amarela, enquanto saltamos à corda com as nossas línguas. Entras na carruagem 4 e a tua mão faz qualquer coisa que parece um aceno, mas que interpreto como "Estás na palma da minha mão". E estou. É a pura verdade, e tu também estás na minha. A diferença é que tu tens um berlinde na tua, e eu um mundo inteiro em expansão dentro de mim.

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