Sentar numa cadeira de sete pernas que nunca encontrara. Ler "A Ilíada" em grego e sorrir a cada linha, mesmo que nunca se tenha aprendido grego na vida. Fazer um mapa do meu corpo, e mesmo assim perder-me em atalhos no teu. Pensar no amanhã, mas preferir viver hoje quando estás a pensar no anteontem. Ser atropelado e sofrer três fracturas expostas, todas elas nos ventrículos. Levantar a relva, e plantar os pés firmes com raízes no teu cabelo. Semear ventos e colher a tua tempestade. Não arriscar, mas andar em cima de uma corda bamba no teu umbigo. Saltar à corda, tropeçar no chão e estatelar-me em ti cheio de arranhões de delícia. Não raciocinar e afundar-me guloso, em vez disso. Enlamear-me de ti, e escolher estar sujo. Escutar-te e pensar que é Einaudi. Folhear dicionários e sentir-me com a primeira classe. Passear no campo, sentir a relva nas mãos, mas saber que és uma planície com Everestes. Degustar, mas num tasco. Jogar como o Aimar, a abrir o livro, perfume divino a cada toque no esférico, magia a cada movimento, 3000 suspiros em cada remate, oferecer golos desprendidos, numa relação embeiçada com o que se conduz. Mirar-te como se leiloa um Miró às escondidas. Atribuir um Óscar de melhor guarda-roupa por seres quem melhor ma guarda. Valer tudo, mas proibir-te um prazo de validade. Debitar palavras, e ter um crédito infinito de acções. Rebentar num beijo e apanhar os cacos num abraço que nos reúne.
Acabei o esboço, e engelhei o nariz: é a ponta do icebergue. Volto a guardar e espero-te, como quem não sabe cruzar as pernas quando a impaciência é um parente afastado do regozijo. Na árvore genealógica onde fazemos a nossa casa, a distância é a nossa madrasta malvada.
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