sexta-feira, julho 07, 2006

O último grande herói



Na semana passada, o presidente dos EUA George W. Bush pediu ao Congresso norte-americano que lhe desse o poder de veto. Sim, esse poder que vocês estão a pensar. Eu compreendo agora porque é que ele se autno-intitula como defensor da liberdade: de facto, ele quer manter todos os norte-americanos bem longe dele, provavelmente com medo de a deslustrar.
Curiosamente, leio esta notícia num período em que divido o meu tempo entre trabalho académico e a 5ª temporada de "24", e digo desde já que é a melhor season de "24" até agora: um thriller político de contornos quase shakesperianos, dividido entre uma cúpula presidencial, a política e a familiar, encabeçada por um presidente com perfil de Ricardo III; uma história de amor envolvendo Bauer e outra personagem quase de Romeu e Julieta; e o próprio Bauer, com dilemas existenciais dignos de um Hamlet. Transformar o próprio Commander in chief no grande vilão desta season revela um grande par de tomates e apenas vem agudizar o paradoxo que é esta série: se por um lado Jack Bauer encerra em si os defeitos que não queremos ver num homem que tem de lidar com terrorismo e guerras várias (desde impulsividade excessiva até várias violações graves dos direitos humanos através do seu método preferido de extrair informação, a dor), por outro não hesita em deitar abaixo os seus líderes se provar que estes traíram a confiança da população. Em suma, ele é a PIDE e Salgueiro Maia numa só pessoa.
Pensando outra vez, os criadores de "24" não têm o esforço suplementar de nos convencer de que um Presidente norte-americano pode trair o seu país. Como disse Edgar Allen Poe, muitas vezes a ficção imita a realidade.

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