sexta-feira, outubro 26, 2007

O que tenho andado a ver


"House"

Entrando na sua 4ª tempoarada, e ainda sem dar sinal de "Jump the shark", calão do entertainment aplicado a séries que estão a chegar ao ponto do cancelamento ou final abrupto, a irreverente criação de David Shore regressa ao território que tão bem domina: o da sátira velada ao drama hospitalar. Após uma terceira temporada que tentava levar a série para os terrenos que precisamente parodia, a 4ª abriu com o doutor sarcástico e cínico (identificação pessoal instantânea) sozinho e a trocar teorias com um empregado de limpeza. No segundo episódio, já está a recrutar novos doutores num esquema estilo "Survivor", com direito a spoofs ao reality show e tudo. É nisto que a série faz a diferença, e é por isso que Gregory House é uma das mais fascinantes personagens televisivas dos últimos anos, tendo direito já a ser capa de livros que não têm nada a ver com ele. Um pouco como as palavras "o código da Vinci".
A melhor coisa desta 4ª temporada, no entanto, é mais tempo de antena para a interação emtre House e o seu amigo Wilson, com Hugh Laurie e Robert Sean Leonard a provarem porque são a melhor buddy relationship do actual médium televisivo. Se juntarmos a isto os decotes de Cuddy e frases como a que House usa quando reencontra uma Cameron loura ("The blonde hair makes you look like a hooker. I like it."), temos aí uma coisa que ainda nos vai entreter durante mais algumas semanas.


"Dexter"

É um crime ainda não me ter demorado no blog nesta excelente série, provavelmente a melhor da colheita 2006/2007. "Dexter" tem um surreal personagem principal homónimo, que trabalha como especialista em manchas de sangue na polícia de Miami; tem uma namorada loura e com dois filhos de uma anterior relação; é respeitado pelos colegas; e tem uma irmã que o adora. Existe apenas um pequenino defeito na sua personalidade: sofre da compulsão de matar, tal como alguns de nós têm vontade de roer as unhas ou estalar os dedos. Dexter foi adoptado pelo pai, que cedo lhe descobriu essa falha e a tentou combater incutando no rapaz um código de honra: apenas mataria pessoas que merecessem, ensinando-lhe também todos os truques para não ser descoberto pela polícia. Quando um novo serial-killer, o Icetruck Killer, surge na cidade, Dexter encontrou um adversário à altura.
Isto é televisão de primeira água em tudo, desde a brilhante escrita de argumento, à impecável realização; mas a razão pela qual "Dexter" resulta é a interpretação pouco menos que genial de Michael C.Hall, que retrata Dexter como um criança mal-comportada, que sabe que é mal comportada, mas não tem sentimentos para sequer pensar em ter remorsos. O seu desprendimento relativamente à sua própria humanidade permite-lhe ver o nosso mundo normal com os olhos de um extraterrestre, fazendo-nos pensar nos pormenores quotidianos e reacções humanas que fazem pouco sentido quando analisadas friamente. Por isso simpatizamos com ele: ele não é um freak tal como o entendemos. Na verdade, em muitas vezes, as suas acções soam-nos justificadas e ele parece estar certo nos seus julgamentos.
A segunda temporada, a que ando a ver agora, começa com problemas na rotina assassina de Dexter, pois este terá descoberto, no final da primeira temporada, o sue pior inimigo, aquele que nunca esperaria jamais encontrar: os seus sentimentos. Até agora, o nível continua altíssimo e meter um tipo viciado em matar num programa de narcóticos anónimos é o tipo de coisa pelo qual as pessoas que escrevem séries deviam ser pagas principescamente.


"Californication"

"Californication", de Tom Kapinos, surge numa das modas actuais da televisão norte-americana: meter personagens principais moralmente questionáveis e por quem às vezes é difícil torcer. O Hank Moody de David Duchovny é apenas mais um numa linhagem onde podemos incluir Gregory House, Sebastian Shark, Tommy Gavin ou mesmo o James "Sawyer" Ford de "Lost". Moody é incrivelmente desbocado, egocêntrico e tem uma libido capaz de fazer corar Zézé Camarinha de vergonha. A série faz com que Los Angeles se assemelhe a um McDonalds de mulheres, onde basta alguém chegar e se servir sem fazer perguntas do produto disponivel. Moody vive uma relação tensa com a ex-companheira, mãe da sua única filha, e secretamente tenta ganhá-la de volta, enquanto afoga os falhanços desse desejo em amis mulheres e bebida. Pelo meio, tem o ofício de escritor, mas está bloqueado, após ter escrito um livro brilhante e niilista, que foi adaptado ao cinema como uma comédia romântica com Tom Cruise e Katie Holmes.
Hank Mood só podia ser interpretado por David Duchovny, que vive o personagem em absoluto. Na verdade, Moody é Fox Mulder, mas sem a paranóia por OVNI e um assumir absoluo da libertinbagem interior inerente ao personagem. A série tem bastante coisas boas: a pequena actirz que faz de filha de Moody, Madeline Martin, é um pequeno assombro; a químca entre Duchovny e Natasha Mchelone, a sua ex-companheira, é visível; e as pequenas manias dos fúteis da Costa Oeste abordadas por um sarcástico nova-iorquino são extraordinárias, com especial menção ao sexo. No entanto, parece faltar à série um história mais profunda, que derive de "Ela vai casar-se com o outro, vou fodendo aqui umas gajas enquanto espero a minha oportunidade", e as personagens secundárias parecem-me desparoveitadas, em detrimento de mais "Hank Moody" show. No entanto, é uma boa séria para quem gosta de comédias com um travo amargo, e descobrir como é que alguém moralmente tão retorcido pode na verdade dar um excelente pai e até um bom marido.

Sem comentários: