sexta-feira, março 21, 2008
La mala educacion
Não sei qual o ângulo pelo qual devo abordar o caso da professora "brutalizada." Normalmente, quando escrevo neste blog sobre casos da vida real a sério, retorço-os um bocado, acabando por dar um toque de humor negro à coisa. O problema é que toda esta situação é um desfile de anedotices pegadas.
Quando leio a palavra brutalizada, espero algo de violento. Imaginei a professora a levar estalos, ou a ser deitada ao chão. Isso sou eu, que tenho sempre expectativas altas. Em vez disso, ela anda de um lado para o outro, como uma aluna a tiracolo, a gritar agarrada ao telemóvel e a berrar como se tivesse 2 anos e quisesse o biberão, só que utilizando vocabulário extremo que, nem mesmo nos dias de hoje, crianças de 2 anos conhecem. Claro que o verbo "brutalizar" fica sempre bem na venda de uma notícia, principalmente quando somos o "Expresso".
Não estou aqui a desdramatizar o caso: a miúda não merecia um par de estalos, merecia que a Inquisição Espanhola aparecesse e a levasse por uns minutos. Na verdade, toda a turma merece isso. O rapaz que filma o acontecimento com um telemóvel (o que dá um tom irónico à situação) ri-se, comenta alarvemente o que se passa, chama "gorda" e "estúpida" a duas colegas que se colocam à frente da câmara, apenas porque querem afastar a colega da docente... Enfim, um festival.
A DREN (Direcção Regional de Educação do Norte) parece não ter Internet, ou saber o que é o Youtube, pois disse não ter conhecimento da situação até hoje de manhã, quando uma cidadã enviou um e-mail à instituição. O próprio Conselho Executivo da escola Carolina Michaelis no Porto (que ou muito me engano, ou ficou classificada no último top das dez melhores escolas públicas do país, caindo assim o velho mito que estas situações só se dão em bairros de delinquentes ou estabelecimentos de ensino perdidos no meio de lugares onde a civilização não chegou) só teve conhecimento através da própria DREN, o que deixará os professores da escola extremamente descansados. E pelos comentários que li ao vídeo no Youtube, vamos ter aqui grandes discussões sobre a forma como educamos as nossas crianças, mas pelos caminhos errados: em vez de abordarmos o laxismo com que se trata a avaliação dos alunos; e o falhanço do sistema de ensino como forma de integrá-los a todos de maneira semelhante; e a formação deficiente e teórica dos docentes; e a própria acção dos pais junto dos filhos; em vez disso, grita-se que nunca deviam ter sido retirados crucifixos das escolas, e que as penas físicas deviam voltar.
Peço desculpa: tentei não anedotizar isto, mas eu avisei que seria impossível.
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