O Les Paul morreu, e até inventou a guittarra eléctrica. Cheira-me a algo de importância. No entanto, o homem não me dizia nada pessoalmente, ao contrário de outros dois defuntos da semana anterior, que fizeram o favor de quinar quando eu estava afastado do mundo, possibilitando-me apanhar com dois ganchos de direita no meio dos queixos quando cheguei a casa.
A primeira e imediata e a de Raul Solnado. Depois de turbilhão de elogios e frases feitas, eu chego-me à frente para dizer o simples seguinte: tenho a impressão que o Raul foi um dos meus primeiros ídolos de infância. Eu fui criado em grande parte pelos meus avós, que eram adultos feitos no zénite da popularidade de Solnado. Logo, via coisas deles (sou do tempo da sitcom"Lá em casa, tudo bem") e achava uma tremenda graça ao homem. Embora não tivesse a verdadeira noção do que é talento ou do que constitui comédia, ria a bom rir com a forma como ele falava, e aquele aspecto bonacheirão de anão que poderia irritar-se a qualquer minuto, mas de forma calma. Quando cresci, apercebi-me do real génio do homem, de como um actor revisteiro e aparentemente talhado para o humor fácil que polvilha a carreira de outros alunos dessa escola, como Camilo de Oliveira, conseguiu evoluir para um estranho cruzamento entre Woody Allen e os Monty Python. Textos seus como o de "A Guerra de 1908" podiam muito bem caber num "Without feathers" do nova-iorquino. Era um homem que não é vergonha nenhuma admirar, e em Portugal, um oásis,proque valia a pena admirá-lo. Um homem de comédia e drama. Um actor completo.
A segunda, que passoi mais despercebida, foi a de John Hughes, um dos realizadores decisivos da década de 80. Hughes fez carreira a mapear a adolescência, num conjunto de pequenas obras de grande interesse, como "Pretty in pink", "16 candles" e aqueleque será porventura o seu filme mais emblemático, "The breakfast club". Hughes, que faleceu com 59 anos vítima de ataque cardíaco, construía preciosamente personagens de adolescentes a partir de tipos, insuflando-os com uma estranha e particular humanidade que nos atraía a eles, como se os conhecessemos; e conhecíamos até, com outros nomes. nas nossas escolas. Quando Hughes saiu da sua redoma de filmes de adolescente (designação redutora, tendo em conta a obra em questão), com "Ferris Bueller's day off" (ou em português, "O rei dos gazeteiros"), foi para realizar "Plains, trains and automobiles", onde emparelharia Steve Martin com outra das suas revelações: o grande John Candy. No início da década de 90, escreveu "Home alone" para Chris Columbus realizar e saiu do mapa. Rico, disse-se farto de Hollywood. Comprou um rancho e passou o resto dos seus anos com a família. Precisamente porque era genuíno e o negócio não tinha nada a ver com ele. Um dos seus personagens em "The breakfast club"diz a certa altura "When you grow up, your heart dies". John Hughes refugiou-se no seu mundo privadopara evitar isso, mas o coração acabou mesmo por traí-lo.
domingo, agosto 16, 2009
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