segunda-feira, janeiro 24, 2011

The nominees are...


Penso que já há algum tempo que não olhava para uma lista de nomeados para melhor filme que fosse tão incrivelmente consistente e excitante. É um facto que só vi três dos filmes nomeados, mas o mais fraquinho dentre eles, "The town", é um belo filme; logo o nível de qualidade é altíssimo. Este é um ano excitante para o cinema americano, na minha opinião. Tenho que acreditar nisso quando Christopher Nolan, David Fincher e Darren Aronofsky vão disputar o galardão de melhor realizador.
Para não maçar os leitores com um longo discurso introdutório, e uma lista interminável, deixarei apenas as minhas apostas para as principais categorias e estas breves palavras de contexto. Todos os anos há uma ou outra surpresa e tentei precaver isso, mas é sempre difícil acertar a 100%. "The king's speech", o filme britânico de Tom Hooper, deverá sair com mais nomeações, sendo um filme de época, mas atenção a "The social network". Um ano em que Trent Reznor pode disputar o Oscar de melhor banda sonora revela vitalidade e saúde cinematográfica. Esta poderá ser, a nível de envolvimento pessoal, a cerimónia que mais prazer me dará acompanhar desde que vejo religiosamente os Óscares; e nunca pensei ver um ano em que o meu Deus e aquela que foi durante anos a minha Deusa disputam carecas dourados no mesmo ano.

Melhor filme

"The social network"
"The king's speech"
"Inception"
"Toy story 3"
"Black swan"
"The fighter"
"The kids are all right"
"True grit"
"127 hours"
"The town"
Alternativa: "Winter's bone"

Melhor realizador

Davind Fincher, "The social network"
Christopher Nolan, "Inception"
Darren Aronofsky, "Black swan"
Tom Hooper, "The king's speech"
David O. Russel, "The fighter"
Alternativa: Joel e Ethan Coen, "True grit"

Melhor actor

Colin Firth, "The king's speech"
Jesse Eisenberg, "The social network"
James Franco, "127 hours"
Jeff Bridges, "True grit"
Ryan Gosling, "Blue valentine"
Alternativa: Javier Bardem, "Biutiful"

Melhor actriz

Natalie Portman, "Black swan"
Annette Benning, "The kids are all right"
Jennifer Lawrence, "Winter's bone"
Nicole Kidman, "Rabbit hole"
Julianne Moore, "The kids are all right"
Alternativa: Michelle Williams, "Blue valentine"

Melhor actor secundário

Christian Bale, "The fighter"
Geoffrey Rush, "The king's speech"
Mark Ruffalo, "The kids are all right"
Andrew Garfield, "The social network"
Jeremy Renner, "The town"
Alternativa: Pete Postlewhaite, "The town"

Melhor actriz secundária

Melissa Leo, "The fighter"
Amy Adams, "The fighter"
Helena Bonham-Carter, "The king's speech"
Jacki Weaver, "Animal kingdom"
Haille Steinfeld, "True grit"
Alternativa: Mila Kunis, "Black swan"

Melhor documentário

"Inside job"
"Waiting for superman"
"The Tillman story"
"Exit through the gift shop"
"Restrepo"
Alternativa: "Client 9"

Melhor filme estrangeiro

"Biutiful", Mexico
"Confessions", Japão
"In a better world", Dinamarca
"Incendies", Canada
"Tambien la lluvia", Espanha

Melhor filme de animação

"Toy story 3"
"How to train your dragon"
"The ilusionist"

My beautiful new babies


Eleições e funerais


Em primeiro lugar, gostava de felicitar esta transformação das urnas de voto em urnas funerárias dos cartões de cidadão.
Em segundo lugar, num país sujeito ao choque tecnológico, e que será presidido por um robô, a necessidade de algumas pessoas em terem o velho cartão de eleitor para poderem votar é irónica e, num certo ponto de vista, poética. Afinal, falamos do mesmo país que quer ter TGV e não consegue sequer armas linhas de comboio com menos de 100 quilómetros, nem estradas de alcatrão decentes.
Em terceiro lugar, posso sublinhar o facto de que o voto em branco é, afinal, inútil? Temos um problema grave de falta de alternativas, mas também é verdade que o voto em branco só funciona como grito se houver alguém em cujo efeito se verifique. Um ouvido que rebente quando o grito é alto. Mas a classe política portuguesa, parece-me, tem-nos como garantidos. O povo revolta-se, mas só berra. E enquanto assim for, é deixá-los andar, não é?
Em quarto, desde quando é que Cavaco ganhou o direito de se transformar em mártir político? Se há homem que tem feito dos portugueses mártires no últimos 25 anos, esse homem é Cavaco!
Em quinto, era previsível a quantidade de votos do Coelho originário do arquipélago que me acolhe este ano. Quando Portugal é um circo, os palhaços estão sempre em destaque; e toda a gente adora palhaços que colocam os dedos nos olhos de quem manda.
Em sexto, será que estamos condenados a décadas de política profissional?
Em sétimo e último, gostei da pose de estadista de Cavaco no seu discurso de vitória. Conciliador, apelando ao sonho. Retive particularmente o "Chupem, filhos da mãe! Ganhei"

segunda-feira, janeiro 17, 2011

No entretanto, a 50 metros da civilização...

Ideas are bulletproof


Aparentemente, estas serão as primeiras eleições em que não poderei votar desde que me recenseei. Uns dirão "Que interessa isso?". De facto, o que interessa, perante o estado do país e o sentimento generalizado de que a nossa vontade, assim como assim, não é traduzida correctamente pelas figuras saídas das urnas de voto. Preferia votar nos presidentes dos bancos. Assim como assim, são eles quem na realidade dirige o país.
Acho que vivemos numa era de profunda desilusão política. Noto isso nas aulas que dou ao nono ano. Quando falo dos grandes combates políticos do século XX, eles parecem incapazes de perceber porque é que as pessoas se davam ao trabalho de armar guerras e de fazer das coisas uma questão de vida e morte apenas porque derivava de uma ideia. No fundo, não percebem que numa altura da História humana, ideias e política eram sinónimos. Hoje, não há políticos idealistas: há políticos profissionais, que foram educados em ciência política e onde tudo é um jogo. Durante um tempo, Barack Obama gerou entusiasmo pela sua diferença em relação ao molde. Mas o seu choque frontal com o mundo da real politik foi brutal e desgastante, e o seu idealismo foi obrigado a dar lugar ao xadrez e à negociação, onde novas leis só serão aprovadas se convirem ao ego indivudal (de que outro modo explicar que a lei de ajudas médicas aos profissionais que contraíram doenças em virtude do seu trabalho nos destroços do WTC esteja para passar no Senado há quase dez anos?).
No seu último livro "Ill fares the land", Tony Judt, um intelectual historador de intelectuais, chama a atenção de que nós, como cidadãos, estamos a ser engolidos por princípios como a propriedade privada e a propseridade individual que ajudaram a arruinar um estado social que foi vigente durante quase 30 anos e ajudou uma Europa em ruínas a transformar-se num continente renascido e competitivo. Esse welfare state, uma das maiores proezas da história da civilização, surgiu de uma ideia de Milton Keynes e posta em práctica primeiramente por Roosevelt. Uma ideia. A política devia ser um teatri de ideias. No entanto, hoje em dia, é um jogo de autómatos. E eu evito uma piada óbvia acerca de Cavaco Silva.

Uma segunda opinião


As minhas aulas de CEF neste período (e CEF é Curso de Educação e Formação, só para o nosso leitor João Saro) têm sido sobre autoridade. E que melhor maneira do que leccionar este assunto através de filmes, misturando duas das minhas enormes paixões (que são o cinema e a preguiça)?
Foi este o pretexto que me levou a rever "The dark knight". Apesar de ter o filme em DVD, a nossa relação baseou-se na visão que tinha da caixa, pois durante este tempo todo não assisti à opus magna de Christopher, o Nolan. Depois de na última sexta ter partilhado esta potente obra com 90% dos alunos (os restantes dormiam), concluo contente que a minha primeira apreciação não estava errada: "The dark night" é uma das melhores misturas entre arte e espectáculo que o cinema criou, conseguindo ser ao mesmo tempo um muito bem montado filme de acção e um drama político e moral como poucos filmes arty conseguem ser. É eficaz nos propósitos e fá-lo com uma classe e um sentido de entretenimento (no caso, de emoção e também de adrenalina) que me faz comparar Nolan não a Kubrick, como muitas vezes acontece, mas a Spielberg.
Ah, e Ledger é muito, muito grande, mas só nesta segunda visita reparei no quanto Christian Bale e Aaron Eckhardt contribuem para que a mercurial interpretação do malogrado actor pareça ainda mais selvagem e descontrolada. O estoicismo de Batman e a mudança gradual de Dent/Two fae são o que tornam o Joker numa anarquia maior do que a vida; e Ledger entrega-se a esta anarquia e por ela é comido. Não é uma interpretação, é um jogo de faz de conta.
E posso-vos garantir que aqueles alunos acreditaram.

quarta-feira, janeiro 05, 2011

Código Morse

Há quem acredite que a vida é uma espécie de central de telecomunicações que nos envia sinais de ocasião. O objectivo simples é o de nos orientar nas nossas decisões de vida. A minha chegada à Madeira foi marcada por todo um conjunto de incidentes que seriam a minha desgraça se acreditasse nessas parvoíces. Teria, de momento, a certeza de que esta ilha não me quereria aqui, e que, se quisesse, podia enveredar pelo tipo de história que dá origem a 324 comédias românticas iguais.
Mesmo não ligando a sinais, sinto uma ponta de inveja das pessoas que se orientam e conseguem planear a vida com o mínimo de antecipação. Eu sou incapaz de saber o que farei daqui a uma semana, quanto mais colocar em pratos limpos perante mim mesmo onde vou estar daqui a um ano. Não sei, sinceramente, e talvez seja por medo ou por pura incapacidade de ser adulto, mas nunca me ocorre. É por isso que as resoluções de ano novo me fazem confusão. A vida, essa rádio emissora TSF, altera-nos tantas vezes as frequências de emissão que não gosto muito de me aventurar em futurologia.
Exhibit A: tinha planeado chegar à Madeira a uma hora, meter-me no Airbus, chegar a casa e arrumar confortavelmente as minhas coisas no meu quarto. Na realidade, cheguei duas horas depois do previsto, perdi o Airbus, partilhei o táxi com uma completa estranha até ao Funchal e estive a segundos de derrubar a porta do quarto aos pontapés. Há alguém que trabalhe em empresas de comunicações entre os leitores? Façam-me o favor de decifrar isto!