Aparentemente, estas serão as primeiras eleições em que não poderei votar desde que me recenseei. Uns dirão "Que interessa isso?". De facto, o que interessa, perante o estado do país e o sentimento generalizado de que a nossa vontade, assim como assim, não é traduzida correctamente pelas figuras saídas das urnas de voto. Preferia votar nos presidentes dos bancos. Assim como assim, são eles quem na realidade dirige o país.
Acho que vivemos numa era de profunda desilusão política. Noto isso nas aulas que dou ao nono ano. Quando falo dos grandes combates políticos do século XX, eles parecem incapazes de perceber porque é que as pessoas se davam ao trabalho de armar guerras e de fazer das coisas uma questão de vida e morte apenas porque derivava de uma ideia. No fundo, não percebem que numa altura da História humana, ideias e política eram sinónimos. Hoje, não há políticos idealistas: há políticos profissionais, que foram educados em ciência política e onde tudo é um jogo. Durante um tempo, Barack Obama gerou entusiasmo pela sua diferença em relação ao molde. Mas o seu choque frontal com o mundo da real politik foi brutal e desgastante, e o seu idealismo foi obrigado a dar lugar ao xadrez e à negociação, onde novas leis só serão aprovadas se convirem ao ego indivudal (de que outro modo explicar que a lei de ajudas médicas aos profissionais que contraíram doenças em virtude do seu trabalho nos destroços do WTC esteja para passar no Senado há quase dez anos?).
No seu último livro "Ill fares the land", Tony Judt, um intelectual historador de intelectuais, chama a atenção de que nós, como cidadãos, estamos a ser engolidos por princípios como a propriedade privada e a propseridade individual que ajudaram a arruinar um estado social que foi vigente durante quase 30 anos e ajudou uma Europa em ruínas a transformar-se num continente renascido e competitivo. Esse welfare state, uma das maiores proezas da história da civilização, surgiu de uma ideia de Milton Keynes e posta em práctica primeiramente por Roosevelt. Uma ideia. A política devia ser um teatri de ideias. No entanto, hoje em dia, é um jogo de autómatos. E eu evito uma piada óbvia acerca de Cavaco Silva.
2 comentários:
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sugestão de leitura decorrente da leitura deste post
http://www.fnac.pt/Um-Tratado-Sobre-os-Nossos-Actuais-Descontentamentos-Tony-Judt/a327843?PID=5&Mn=-1&Mu=-13&Ra=-1&To=0&Nu=1&Fr=0
Junto esta como complemento ;)
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