domingo, outubro 13, 2013

Inventar o que já é mentira por si mesmo



A minha máquina de viajar no tempo é a tua fotografia. É muito simples a mecânica quântica de quanto acelero em direcção ao passado quando a olho. Sem botões, mas desabotoando o stress, a memória pára e recua, atrás até ao momento onde o teu escorrega em forma de sorriso ficou parado num pequeno cartão de plástico, talvez a pairar até que este se decidisse que tinha pelo menos alguma capacidade de reter tudo o que teu sorriso pode conter. O que é muito para o pouco do cartão, mas talvez pouco para o muito que desejo vê-lo novamente, e de certeza demasiado para o que sou. Como é que dentes alinhados, como soldados que te guardam a boca onde quero inserir a minha língua até eu próprio viajar para outra dimensão, me tremem a certeza, e arrancam de mim coisas que não pensava sequer entender? São dentes, é marfim, nem sequer sente, e no entanto, arranca o que sinto em palavras de esplendor iluminado que ainda conseguem deixar na sombra que não esqueço o teu sorriso, e que não te esqueço, e que num qualquer canto do passado, onde o futuro ficou debaixo de uma pedra, estamos nós, talvez à espera de sermos presentes um do outro. Um dia destes. 

O tempo é contínuo, mas continuo a tempo de ti. Não sei, talvez. Tenho a certeza de duvidá-lo, e de que viajar no tempo é tão ficção quanto estas palavras são reais e verdadeiras. Porque a memória mente,e o engano é afinal tudo aquilo que temos quando a verdade da vida é pouco mais do que uma aula de física teórica dada por um disléxico.

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