sábado, agosto 23, 2014
Só mais isto
Gostava de deixar uma palavra ao público deste cantinho de deboche literário onde escrevo, e que tem alguma dificuldade em encarar alguns textos que tenho escrito ultimamente. Bem sei que preferem os momentos de pura estupidez e debalde onde destilo veneno e me mostro portentoso em cascar no que é alheio. Asseguro-vos que não perdi isso. Aliás, como perder com tanta coisa a acontecer no mundo e que merece açoite (guerras religiosas; leis da propriedade intelectual que favorecem tanto as artes como a eliminação da homossexualidade; o desafio do balde de belo pelos costados abaixo; Cristiano Ronaldo como bitola dos interesses da nação; o BES, sem piada que só o nome já é suficiente; Manuel Machado a transformar Coimbra numa cidade saída do mundo "TRON", mas com menos sentido)? Permitam, ainda assim, que vos explique porque virei de repente uma cópia barata de Paulo Coelho cruzado Nicholas Sparks, com a menopausa da Danielle Steel.
Os dois maiores medo que possuo na vida não são tão estranhos como a minha personalidade poderia fazer antever: a morte/decadência e a solidão. Simples, não? Ver um parente vosso enfrentar e sucumbir ao primeiro não me sossegou um pouco. Tal como sentir o meu interior sucumbir a brutal apocalipse provocado por uma arma de destruição maciça com duas pernas não contribuiu muito para me esquecer do segundo. Os pormenores de ambos são meus, e já divulguei mais do que devia num espaço público que se tornou confessional pelos simples facto de sentir que ajuda outros com problemas semelhantes. Não sei se consigo ser exemplo para alguém, mas se no meio desta derrocada conseguir pelo menos, fornecer pedras para construir um mundo melhor, não se perde tudo. Honro a memória de ambas as pessoas que perdi, uma de forma mais definitiva do que outra. Isso é muito importante para mim. A dor ressuscita os medos, mas também pode ajudar, se a trabalharmos bem, a ser algo mais do que dor: a ser progresso. Sem progresso, a dor é apenas uma bola escura de alcatrão derretido que nos envolve, sem piedade e sem sentido.
Não posso, ainda assim, mentir e dar a ideia de que não ando a ver o mundo com óculos escuros. Ando. Há dias de enorme desesperança e desencanto, de não ver sentido, de achar que isto não leva a lado algum, e que se leva, qual é o sentido? Ser apanhado de surpresa e ver tudo ruir, desde o que se fez ao que se quer fazer? Sempre tive esse medo da morte, porque me pareceu o anti-clímax mais idiota de todos. Caminhar para um buraco. De que adianta caminhar então? Não sei. Adorava ter um discurso optimista, mas nunca foi meu tom... E o medo e trauma que a morte me causa amplia os terríveis momentos de solidão onde uma pequenina linha separa uma ida para o trabalho da simples posição fetal na cama de olhar perdido na parede. Isto de se viver é o que é, e não há muito mais do que ir aproveitando os dias, mesmo que não apeteça nada e que a maior vontade seja a de desaparecer. É a ambiguidade de estar um: estar só como fuga ao mundo, e também como o caminho mais certo para a infelicidade. É isto que me ocupa agora, é isto que vivo.
Por isso, caros fãs do ácido, peço paciência. Estou mais desarranjado do que o costume, e vai demorar. Não sei bem que terceira via existe para fugir a dois becos sem saída, mas ela aparecerá. É possível. Talvez provável. Está no horizonte. Distante, ainda assim, mas na linha da vida na palma da mão que se tenta agarrar a algo.
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