"Nome de código: Sintra" foi anunciado pela RTP como uma série inovadora em Portugal: com um orçamento de milhão e meio de euros, foi bastante cara para os padrões nacionais e tinha o objectivo ambicioso de entrelaçar uma intriga modera moderna, de suspenbse e mistério com outra paralela, mas passa no século XIX, e descrita na seminal obra "O mistério da estrada de Sintra", de Eça de Queirós e Ramalho Ortigão. Foram buscar aquele que, para mim, é o melhor realizador a trabalhar na TV portuguesa, Jorge Paixão da Costa, e tinham um elenco de grandes actores, emcabeçados pelos sempre estimáveis Margarida Marinho, Fernando Luís, Adriano Luz e José Wallenstein. No entanto, a série espalha-se em toda a linha, e por uma razão muito simples: por detrás do chamariz da inovação, estão todos os defeitos que enchem a ficção portuguesa de há iuns anos para cá.
O primeiro dos falhanços vai dar sempre ao argumento: a tentativa de crirar uma coisa moderna e escorreita é louvável, mas quando não se tem unhas para arquitectar duas histórias separadas, ainda por cima em épocas distintas, mais vale ficarmo-nos por uma. Compreende-se que existe um paralelo importante para o enredo, mas a repetição exaustiva de flashbakcs e a falta de interesse que tanto uma intriga como outra acabam por ter estraga tudo. A história demora a avnçar e os personagens tê, na sua maioria, a espesura de uma filha de papel. NUma cena em que uma personagem feminina está deitada no sofá e relembra uma troca de beijos com um namorado com quem acabou, a música melosa indica-nos que é suposto sentirmos pena. Até sentíamos... se nos arranjassem maneira de termos investido emocionalmenmte nos personagens. Acho que esse é o problema dos argumentistas portugueses: não percebem que não são as situações que criam que vão fazer-nos tyrocer pelos personagens, mas sim a nossa relação com as próprias personagens. Isso é o mais importante. Pequenos pormenores.
A segunda razão vai dar á realização. Paixão da Costa é o homem por detrás da melhor série de TV de smepre em Portugal, "Polícias", e aí estava como peixe na água. No entanto, aqui, ele e o director de fotografia ocupam-se de belos planos de paisagens sintrenses e das faces dos personagens; no entanto, quando a acção enrijece e há uma ou outra perseguição ou explosão, adopta-se o grande plano e acabou. Claramente, Paixão da Costa não tem visto televisão nos últimos 7 an os e não sabe da existência de steadycam alpicada ao médium televisivo, como acontece em "24" e "Lost".
Terceiro, os actores. Há boas interpretações e até revelações (Diana Costa e Silva é um exemplo), mas quando se passa dos veteranos para os mais novos, a diferença é tão abissal que certas cenas, supostamente dramáticas, se transformam em momentos involuntários de riso. Há bons actores jovens em Portugal e alguns nem são muito difíceis de encontrar.
Em suma, louva-se a intenção, mas o resultado fica bastante aquém das expctativas: tiques habituais, como cenas de sexo a despropósito, diálogos inverosímeis e pontos de narrativa que vão dar a lado algum já podiam acabar. Para quando ficção televisiva à séria em Portugal?
sábado, fevereiro 03, 2007
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3 comentários:
Epá, eu posso não perceber muito de cinema e representação, mas acho o Fernando Luiz um mau actor. Epá, o gajo só consegue fazer um tipo de expressão e muito forçado, o papel de de moralista ou o gajo sério que tem razão, não sei bem dizer, mas aquele tipo de polícia que bem com moralismos para cima do criminoso. Sinceramente, não consigo distinguir as personagens dele, desde o Médico de Família até Código Sintra.
De facto, a vontade não chega e compreendo que, para quem vê o produto acabado, muitas das críticas aqui feitas sejam naturais e pertinentes. Como mero espectador, eu provavelmente faria as mesmas. Como parte activa nesta produção, tenho um insight que me permite ver a injustiça de algumas delas. É que nem sempre se consegue fazer o que se quer. Seja porque a produção/realização não consegue rodar todas as cenas, algumas das quais imprescindíveis para o desenrolar compreensível da narrativa e para a construção das personagens (para que tenham mais que "a espessura de uma folha de papel"), optando-se por substituí-las por flashbacks inócuos. Seja porque o realizador "não tem visto televisão nos últimos 7 anos" ou porque optou por reescrever, de forma ruinosa, grande parte do que lhe foi dado a realizar. Seja porque "cenas de sexo a despropósito" assim pareçam, porque foram montadas noutro episódio que não aquele para o qual tinham sido escritas (e onde faziam sentido). Seja por alguns erros de casting gritantes. Seja simplesmente porque foi tudo feito num prazo demasiado curto. De facto, é pena. Mas, para haver "ficção televisiva à séria em Portugal", é preciso, antes de mais nada, mudar métodos de trabalho. E talvez começar a questionar se JPC será mesmo "o melhor realizador a trabalhar na TV portuguesa"... Não será ele o único responsável pela esquizofrenia desta série, mas que teve um papel crucial, disso não restem dúvidas...
A minha crítica em relação à qualidade da série não pretende ser uma descasca em que nela trabalhou, que de certo se esforçou para que tudo saísse bem. E de facto, o problema, como bem diz, não é específico desta série: é antes de mais estrutural. No entanto, nunca percebi muito bem, e isto, como mais entendido em produções televisivas que eu, pode talvez explicar-me, como é que o modelo de série longa e por temporadas (como vejo não só nos EUA, mas também em boa parte das televsões europeias) raramente é aplicado em Portugal. Talvez essa explicação passe pelas justificações que dá; e nesse caso, como poderá o nosso país chegar ao patamar mais elevado da ficção televisiva? Não é por haver um deserto de ideias lusitano, certamente...
Quando ao comentário relativo a JPC... eu não conheço muitos realizadores de televisão portugueses. Adoraria ver, talvez gente que até já experimentou o telefilme (lembro-me de repente de Tiago Guedes e Frederico Serra, em "Alta fidelidade") a dedicar-se a uma série a tempo inteiro. Seria curioso. Acho que a nova geração portuguesa, que vem da escola da publicidade e do videoclip, poderia, pelo menos, dar outro ritmo aos produtos portugueses. É uma opinião.
P.S: Partilhoo seu desagrado quanto a reescritas a despropósito. Eu prórpio, que ambiciono tornar-me argumentista e, quiçá, realizador, tenho pesadelos com isso.
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