quarta-feira, agosto 06, 2008

"The dark knight"


Estive várias semanas sem escrever coisas a sério para os clientes deste blog, porque, pronto, há preguiça e um segundo buraco no meu rabo, o que lido assim desta maneira faz com que eu pareça saído do filme "O expresso da meia-noite". Mas não. Foi mesmo um bisturi que o fez. No entanto, prometi a mim mesmo que regressaria mal visse "The dark knight". Isto porque desconfiava que seria, vou usar a minha expressão geek para quando gosto mesmo de uma obra cinematográfica, uma puta de filme. E é. Não é uma puta de filme de super-heróis; ou a puta de um blockbuster. É uma puta de Filme. Assim mesmo, com F maiúsculo, que é como o referirei ao longo desta review, e para afastar de vez preconceitos generalizados.
"The dark knight" não é uma sequela directa do filme anterior. Fora um pequeno cameo que não revelarei, não há ligação directa com a história de "Batman begins". Basicamente, Batman conseguiu cumprir o que desejava: quebrar o domínio da Mafia, inspirar medo nos criminosos e criar uma reacção na apatia das pessoas, reacção essa que surge simbolizada por Harvey Dent, procurador-geral de Gotham que usa a filosofia "doa a quem doer" e consegue ser esse oxímoro que é o advogado idealista. Este envolve-se com Rachel Dawes, a ex do alter-ego de Batman, o milionário Bruce Wayne, agora mais habituado ao seu disfarce de playboy internacional. No entanto, o desbaratar da Mafia deixou um vazio no submundo criminoso. É aqui que entra o Joker, indivíduo misterioso cujo vestuário parece saído de uma produção de Filipe la Féria, e com um tempramento que, acredito, o lendário encenador não desdenharia.
É aqui que entra o bizarro, porque falamos de um blockbuster, ainda por cima um que envolve heróis de BD. A referência mais louvável que tenho nesse campo é, obviamente, "Batman returns", um dos grandes filmes dos anos 90, uma obra que trasncende o género de "filme de BD" para se transformar numa reflexão sobre anormais. Enfim, um género em si mesmo, o género de Tim Burton. Sempre soube que um filme deste tipo podia ser uma metáfora para problemas existenciais e pessoais. O que não sabia, e me apanhou de surpresa neste "The dark knight", é que os filmes de BD podem ser uma reflexão sobre filosofia, política e moral. Porque em última instância, o fiulme é tudo isto, e é isso que me fascina. Para além de ser um filho das dores existenciais pós-11 de Setembro, "The dark knight"coloca questões incómodas, sobre a natureza do bem e do mal, o que é humanidade e sobre o que está assente a sociedade em que vivemos, ou, noutras palavras, até onde é que as pessoas aguentam ser civilizadas, qual o momento a partir do qual vale tudo. Qual o momento em que o Joker passa a ser o símbolo do comportamento... Pelo meio, e como se isto já não bastasse, entretém-se a dissecar a natureza do heroísmo e a validade de lutarmos por causas. Tudo isto em duas horas e meia, embrulhado por entre belas sequências de acção e personagens que são arquétipos dos valores em choque do filme, como qualquer uma das boas histórias e eopepias mítico-mitológicas antigas, que ainda hoje nos fascinam. No fundo, os personagens são complexos, mas ressoam naquilo que representam: Batman é um herói, cujo desrespeito pelas leis é necessártio, mas não será isso condenável e até fascista?; o Joker como a Anarquia e Coas em abstracto, o elemento que puxa o herói até ao limite, que não pode ser derrotado pela força bruta, porque tira tanto gozo da destruição que provoca como da destruição que provocam nele; Harvey Dent como o verdadeiro herói trágico deste filme. E vamos ficar por aqui no paleio sério que já pareço João Lopes. E acreditem: por muito que respeite o homem, ele não nasceu para gostar de blockbuster snorte-americanos. A não ser que Spielberg os realize.
Christopher Nolan excede-se na realização do filme. Embora, a certa altura, pareça não conseguir aguentar todo o arcaboiço do filme, resiste e leva três histórias que davam cada uma um filme num todo razoavelmente coeso. Melhrou mesmo na execução e filmagem das cenas de acção, aumentando a sua dimensão e filmando a Chicago que é Gotham como uma personagem integrante do filme. É lamentável que ainda não tenha aprendido a filmar cenas de luta: fá-las da mesma maneira, e sempre mal. Mas realmente, para quem escolhe actores como ele, isso é um pormenor de somenos: falar de Heath Ledger é reduzir o que ele faz no ecrã. Na sala em que vi o filme, o público estava completamente preso a Ledger, e este é o único elogio que me vão ouvir dizer. Tudo o resto já ouviram por aí. Aaaron Eckhardt ainda não é uma estrela nbão sei como, porque ele consegue representar com igual eficácia as duas, digamos, faces de Harvey Dent. A meu ver, a representação mais esquecida do filme (tirando o apagamento brilhante de Gary Oldman na personagem de Gordon) é Christian Bale. Soturno, sorumbático, lacónico, ele é o o que aguenta o filme, por entre os verdadeiros murros do estômago que vamos recebendo. Não se deixem enganar: apesar do enorme sucesso que está a ter, não estamos em território do feel good movie. A única luz que vemos ao fundo do túnel, por vezes, é a abnegação de Batman, ver até onde ele está disposto a ir para defender Gotham, e a decência, mesmo quando o mais indicado seria fazer o contrário. Bale representa tudo isto de forma brilhante.

Para não alongar m uito a coisa, vão ver. Quanto mais não seja, para se unirem a todo um conjunto de críticos em Portugal que está a deitar abaixo um filme que tem sido universalmente louvado. E sim, eu tenho de dizer isto rque é merecido: obrigado, Heath Ledger.

3 comentários:

Anónimo disse...

Olá, desejo as sinceras melhoras ao teu "ass hole" (atenção, que não estou a dirigir um insulto à tua pessoa!!) e que recuperes depressa. bjs da prima aqui de baixo

João Santiago disse...

gostei, 'tá bem feito, mas longe de o considerar uma 'puta de filme'. epá..e não consegui ler o post até ao fim..está imenso.

Post-It disse...

"O que não nos mata, torna-nos mais esquisitos...".
Pois é.
No geral,também gostei...