sábado, janeiro 31, 2009

quarta-feira, janeiro 28, 2009

Alerta


Uma amiga minha, há uns dias, dizia que só sabia falar mal do que é português. Por isso, em penitência, deixo aqui a notícia de que "Juventude em marcha", de Pedro Costa, um dos grandes cineastas portugueses, transgressor e experimentalista verdeiramente, ficou em segundo na votação de melhor filme do ano entre os críticos do prestigiado "Cahiers du cinema". O ecumenismo das escolhas está à vista quando o primeiro lugar é ocupado por "Redacted", um objecto curiosamente bizarro de Brian de Palma, e em terceiro o hypado "Cloverfield", de Matt Reeves, filme catástrofe de boa cepa norte-americana, onde há espaço para o que de bom se faz agora na televisão daquele país. É tão lindo quando se pode gostar de todo o cinema sem preconceitos...

terça-feira, janeiro 27, 2009

Memento morti


Continuando a provar a minha teoria de que os bons andam mesmo todos a morrer (e que por cada bom que morre, Camilo de Oliveira suga mais um ano para poder continuar a empestar este planeta), acordei para ser esmurrado pela morte de um dos meus realizadores preferidos: Kim Manners. PerguntarãOo: mas oh Bruno, que filmes fez ele? Que nomeações ao Óscar detem este homem? Quando é que o seu nome apareceu numa Palma de Ouro em Cannes? E eu respondo: não, este homem não realizou filmes. No seu tempo de vida, Manners dedicou-se a elevar a realização televisiva a algo mais do que tarefa banal. O homem injectou arte e engenho nas séries de televisão, bem antes da era dourada das ditas (normalmente considerada como sendo 200-2004). Ele foi um dos produtores de "The X-Files" e um dos maiores responsáveis pelo sucesso da série. Foi dele o tríptico de transição da 2ª para a 3ª temporada ("Anasazi", "The blessing way", "Paper clip"), o excelente "Clyde Bruckman's final repose", o divertidíssimo e rashomoniano "Bad blood", o aterrorizador "Syzygy"... Estava aqui um post inteiro a recordar alguns dos meus episódios preferidos da série que mais me influenciou. Por arrasto, sei que fui influenciado por ele.
Claro que isto pode ser paleio de um x-phile devoto e núcleo duro. Até podia, mas aqui há uns tempos, o que penso foi credibilizado por Alain Resnais, talvez o mais cineasta francês vivo, que quando questionado acerca dos cineastas actuais que mais apreciava e que o influenciavam, deu nomes normais: Wong-Kar Wai, Hou Hsiao-Hsien, David Lynch, Armauld Desplechin... E timidamente, acrescentou: "Eespero que no meu trabalho se note também a influência de Kim Manners. Ele realizou uns 50 episódios para a série "The X-Files" e o seu virtuosismo técnico, juntamente com a maneira como dirige os actores impressionaram-me bastante". Que um dos chamados grandes mestres vivos diga isto de um "mero" realizador de televisão quer dizer alguma coisa acerca da potência deste médium na revolução do audiovisual, e é também um testamento definitivo do talento de Kim Manners. Corrijo: o testamento definitivo do talento de Kim Manners está em cenas como a exibida em baixo. R.I.P.

quinta-feira, janeiro 22, 2009

Reacções


Sinto-me dividido. Por um lado, nunca esperei, no meu espaço de vida, ler "Filme de David Fincher tem o maior número de nomeações para os Oscars", mas aparentemente, ainda há momentos de impossibilidade na banalidade do nosso quotidiano. São logo 13, e 5 delas em categorias principais (filme, realizador, actor, actriz secundária e argumento adaptado). Continuo a achar um crime Cate Blanchett não ter sido nomeada, mas está bem. "Slumdog millionaire" vem a seguir, com 10 e a luta é entre estes dois, parece-me. Ver Danny Boyle e David Fincher, dois dos realizadores mais inconformistas e trabalhar na indústria, como grandes favoritos aos Oscar é algo que deve alegrar qualquer fã do bom cinema. Para mais, Meryl Streep alcançou Katharine Hepburn como a actirz mais nomeada de sempre (14 nomeações). É aquele vício...
Por outro lado, deixar "The dark knight" de fora é doentio. Ainda por cima, trocando-o por mais um melodrama do Holocausto, "The reader". Stephen Daldry, o seu realizador, deve ter um pacto com o Diabo (ou a Academia), pois até agora fez três filmes e foi nomeado por todos eles. Acho que é um caso único. Clint Eastwood acabou de fora, contra todas as previsões, e as nomeações este ano acabaram por mostrar pouco arrojo comparativamente a anos recentes. Se noutros anos noear independente mostraria coragem, este nomear blockbusters (The dark knight e Wall-E) era mais que louvável e necessário.
Enfim, é este o jogo e há que aceitá-lo. O truque é não nos importarmos.

quarta-feira, janeiro 21, 2009

Óscares: sim, é verdade, mais...


Ora chegou aquela altura do ano em que este blog fica impróprio para pessoas normais e passa a ser dedicada a maníacos do careca dourado. Para facilitar a coisa, deixo aqui as nomeações e quem quiser pesquisar um pouco mais, há www.a-sequela-do-remake.blogspot.com. Lá estão razões, motivos e todo o tipo de parvoíces que fazem parte deste jogo dos Óscares. Ficam as nomeações nas principais categorias. Quanta a outras, é deslocarem-se à morada acima mencionada.

MELHOR FILME

Slumdog millionaire
The curious case of Benjamin Button
Milk
Frost/Nixon
The dark knight

MELHOR ACTOR

Sean Penn - "Milk"
Mickey Rourke - "The wrestler"
Frank Langella - "Frost/Nixon"
Clint Eastwood - "Gran Torino"
BradPitt - "The curious case of Benjamin Button"

MELHOR ACTRIZ

Kate Winslet - "Revolutionary road"
Meryl Streep - "Doubt"
Anne Hathaway - "Rachel getting married"
Angelina Jolie - "The changeling"
Sally Hawkins - "Happy-go lucky"

MELHOR ACTOR SECUNDÁRIO

Heath Ledger - The dark knight
Robert Downey Jr. - Tropic Tunder
Philip Seymour Hoffman - Doubt
Josh Brolin - Milk
Dev Patel - Slumdog millionaire

MELHOR ACTRIZ SECUNDÁRIA

Penelope Cruz - Vicky Christina Barcelona
Kate Winslet - The reader
Viola Davis - Doubt
Marisa Tomei - The wrestler
Taraji P. Henson - The curious case of Benjamin Button

MELHOR REALIZADOR

Danny Boyle - Slumdog millionaire
David Fincher - The curious case of Benjamin Button
Gus van Sant - Milk
Ron Howard - Frost/Nixon
Christopher Nolan - The dark knight

Hoje lá; amanhã, no meu computador: o regresso!

terça-feira, janeiro 20, 2009

segunda-feira, janeiro 19, 2009

Outro parvo no lugar dele

Fui apanhado hoje de manhã de surpresa pela morte de João Aguardela, vocalista da extinta banda Sitiados e mentor de dois interessantes projectos no cruzamento da música tradicional portuguesa e da pop: Megafone, em solitário, e Naifa, com Luís Varatojo e Mitó. O homem tinha 39 anos e morre de cancro. Só isto já é triste, mas o mais triste é ele andar por aí, algo despercebido, a fazer a música portuguesa andar para a frente (antecipando o ressurgir do tradicional nno mainstream musical e a publicação de álbuns à revelia das editoras) e ser preciso morrer para que me lembrasse disso.
A sua música mais conhecida talvez seja "Vida de marinheiro", quando os Sitiados queriam imitar os Pogues, mas foi quando este grupo atingiu a sua maturidade musical, seguindo a velha regra musical de acabar após tê-la encontrado, que acho que Aguardela começou a ficar realmente interessante do ponot de vista artístico. Fica aqui, em jeito de homenagem, o tema "Outro parvo no meu lugar", que, nem de propósito, é uma das minhas canções portuguesa preferidas.

domingo, janeiro 18, 2009

"The curious case of Benjamin Button"


Chega uma altura, quando nos pomos a tentar descrever filmes, em que colidimos com algo que não pode ser medido com palavras. O que nos faz sentir, o que provoca dentro de nós é demasiado puro para isso. Agora que penso bem, de entre tudo o que vou escrever a seguir, esta é a verdade mais primária que vos posso transmitir acerca de "The curious case of Benjamin Button". Análises técnicas, dissertações filosóficas, pormenores triviais... Tudo isso é supérfluo quando se fala desta obra-prima de David Fincher acerca de um homem, Benjamin Button, que nasce velho em corpo, mas com mente de criança, e vive o seu percurso vivencial ao contrário, chegando aos 80 e tal anos com os aspecto de um recém-nascido. O filme parte de um gimmick engenhoso e catchy e analisa não só a vivência de Benjamin Button com esta anomalia, mas acima de tudo o que ela provoca nas pessoas com quem contacta, especialmente Daisy, a mulher que ele ama.

Tendo um argumento escrito por Eric Roth, autor de "Forrest gump" (com quem se têm tecido alguns paralelismos) e tendo um ponto de partida tão fabuloso, no sentido de fábula, este filme estava em condições de descambar. O facto de se apresentar com a ambição de ser um tratado sobre a vida, a existência, o amor e a condição humana vista por um aparente ingénuo era meio caminho para a tradicional injecção de sacarina, o "tenho tão pouco tempo para viver contigo, mais vale aproveitarmos, porque não sei viver sem ti", o arrastar para um sentimentalismo doentio de que muito realizadores abusariam. No entanto, com David Fincher ao leme, tornou-se impossível entrar por aqui. Um dos grandes cínicos do cinema actual, Fincher é a razão pela qual este filme funciona plenamente, pois a sua sensibilidade transforma Benjamin num personagem real, coloca a história em termos que, mesmo que no meio do fantástico, lidáveis para o epsectador comum e acima de tudo, nunca transforma a história de amor entre Benjamin e Daisy numa balada da co-dependência, das duas metades que não se podem separar, da necessidade doentia de outra pessoa sem a qual a vida não faz sentido. Fincher encara o amor como uma relação entre duas pessoas, que embora não necessitem uma da outra para poderem continuar a viver, saber que a sua vida será um bocadinho melhor enquanto estiverem uma com a outra; e honestamente, esta é a definição de amor com a qual me sinto mais confortável, e a que corresponde à realidade. Benjamin e Daisy não são amantes perdidos no rasto das estrelas, nem duas pessoas que o destino escolheu emparelhar: têm uma ligaçãoq ue evolui logicamente e se concretiza na altura certa, e é isso que torna especial e mágica, na sua maneira. É nestes pormenores que o filme se assemelha à vida e é um espelho desta. Benjamin Button, o personagem é um observador passivo, movimentado pela sua curiosidade e pelo facto de saber, à partida, que o seu tempo está contado e que a melhor forma de viver é aproveitando cada momento em que se respira. O facto de começar a sua vida tendo como amigos idosos, já com experiência de vida, e não crianças, ignorantes como ele, talvez seja importante. Ao contrário de ver a sua condição como uma maldição ou uma partida do destino, ele dá graças por estar vivo e por aproveitar o tempo que lhe foi concedido, aprendendo com as pessoas que vai conhecendo. Benjamin Button, andando para trás, é a nossa urgência de viver, é o tempo que nos persegue. O tempo é, na verdade, o principal personagem deste filme, e Benjamin, destinado a ver morrer praticamente todas as pessoas que conhece, é o sombrio, e no entanto positivo, quadro que vemos e sentimos dentro de nós.

Claro que este filme não resultaria se não fosse a impressionante consistência técnica que o envolve: Claudio Miranda, habitual colaborador de Fincher, mas que tem aqui o seu primeiro trabalho como director de fotografia, faz de cada cena um belíssimo quadro e ficam na retina momentos como quando Daisy dança para Benjamin ou um outro, perto do final, já com Daisy idosa e Benjamin bébé. Toda a equipa de guarda-roupa e production design faz um trabalho minucioso de recriação, mas o destaque óbvio, num filme desta natureza, tem de ser dado à caracterização e efeitos visuais. Arriscava-me a dizer que pela perfeição, estamos perante um trabalho revolucionário na área do digital, onde se superimpõe a face de um intérprete noutro corpo sem que a sua expressão facial perca com isso e sem que a interpretação se ressinta. O passar da idade pelos personagens de Brad Pitt e Cate Blanchett dá-se na sua inteira crença de que eles têm a idade que pretendem ter e o resultado pode ser comparado, em termos de evolução, ao aparecimento dos dinossauros em "Jurassic Park". Pitt e Blanchett têm duas excelentes interpretações (sem esquecer as secundárias Taraji P. Henson, irreverente e generosa como mãeadoptiva de Button, e Tilda Swinton, uma mulher seca pela vida e que a volta a ganhar ao encontrar Button), embora diferentes. Blanchett é expansiva, é jovial e extrovertida, indo dos 23 anos aos 90 e tal, cada inflexão, cada expressão correspondendo à idade que representa, num espantoso trabalho de composição. Pitt tem o arrojo de seguir o caminho mais difícil e interpreta Button como alguém passivo, que vê a vida de fora. Não é histriónico, é generoso para com o filme e a sua actuação é exactamente o que este precisa para se tornar em algo de marcante. Mas é impossível falar deste filme e não destacar o trabalho de David Fincher, cada vez mais a afirmar-se como um dos grandes cineastas contemporâneos. Se "Zodiac", filme de "2007", foi a sua afirmação de maturidade, "The curious case of Benjamin Button é a confirmação de que Fincher pode realmente fazer o que quiser. Este é o seu primeiro filme universal, que pode chegar a toda a gente. Estranhamente, marca um percurso circular que começa com "se7en", onde afirma a falência do mundo e da sociedade e acaba aqui, onde a luz entra finalmente no mundo de Fincher. Se bem que pareça estranho associar este filme ao realizador, é minha opinião de que "Fight club" é bem mais luminoso do que parece e acaba por chegar a conclusões semelhantes às de "Button". Mas isso é assunto para outras teorizações. O filme é o que é graças à minúci e perfeição de Fincher e da sua própria personalidade, uma história de amor vista por um cínico, e é ele o principal responsável pela obra-prima a que assisti. Estará nos Óscares, e isso só peca por atraso.

E é isto, o máximo a que posso reduzir esta experiência de ver "The curious case of Benjamin Button", um filme que me abanou e continua a abanar, um ponto de partida para começar a ver a vida de forma diferente. Ou se quiserem, apenas uma obra-prima do cinema que verdadeiramente interessa, oq ue nos confronta com a vida e nos obriga a sentir alguma coisa a sério.

sábado, janeiro 17, 2009

sexta-feira, janeiro 16, 2009

Abismado


Acabei de ver "The curious case of Benjamin Button" há quase uma hora e ainda assim, não estou em condições de condensar aquilo que tenho a dizer sobre o filme num texto user-friendly para quem lê este blog. Neste momento, se começo a escrever, corro o risco de não parar. Por isso, enquanto não me recomponho, e para que não cometam o erro de não verem, digo-vos isto: daqui a 100 anos, quando David Fincher estiver morto, quando Brad Pitt e Cate Blanchett estiverem mortos, quando eu próprio estiver morto, cinéfilos anónimos vão olhar para o passado e fazer a lista de melhor filmes da primeira década do século XXI; e este não só vai estar nos primeiros cinco, como vai banalizar o uso da expressão "obra-prima." É o quão bom ele é. A review vem mais tarde...

quinta-feira, janeiro 15, 2009

Uma Igreja de amor e compreensão

D. José Policarpo, numa tertúlia:

"Cautela com os amores. Pensem duas vezes em casar com um muçulmano, pensem muito seriamente, é meter-se num monte de sarilhos que nem Alá sabe onde acabam."

Toda a gente sabe que os muçulmanos é que batem nas mulheres, e são intratáveis, e obrigam as esposas a fazerem coisas indignas, e maltratam e oprimem os filhos pelas suas escolhas. Um cristão nunca faz isso. Raparigas de educação cristão, boas católicas, casem só com malta cristã, daquelas séria. Nada de Alás, porra!

É impressão minha ou tomando a pulso a escolha de Ratzinger para Papa, D. José Policarpo está a fazer o tirocínio para ser o próximo pontífice? Com esta, ganhou o cred. da linha dura.

Ah, e este post é parocinado pela monarquia europeia. Vocês sabem, conjunto de tipos de coroa na cabeça, encarnação dos valores católicos na vida civil. Tipos como Henrique VIII, Ivan, o Terrível, D.Pedro I de Portugal... Gajos que não eram muçulmanos.

Olha, é hoje que estreia...

quarta-feira, janeiro 14, 2009

FIFA World player


Alguns blogueiros mostram desdém pelo prémio entregue anteontem a Cristiano Ronaldo. Que o homem é burgesso, é arrogante, é mulherengo, tem o português como quarta língua. Na verdade, acho merecido; e acho que o prémio não recompensa a qualidade futebolística e carreira em 2007/2008. Mostra solidariedade para com o madeirense, pelo facto de não ser responsável por ter nascido da mãe que tem. Aquilo sim, é um atentado ao futebol.

terça-feira, janeiro 13, 2009

O Homem e a Mulher


O título deste post não é meu, é roubado. Admiti. Pertence a uma publicação que todas as semanas aparece aqui por casa e que apesar de conteúdo sério e beatífico, é na verdade umas das maiores contribuições para o humor nacional. Falo de "O amigo do povo", lendária tiragem quase centenária, que tem o apoio da diocese de Coimbra. São quatro páginas de uma folha A3 dobrada, mas contêm algumas tiradas de genial recorte e que não têm o direito a celebração mediática. Quem, como eu, tem a sorte de receber este jornal saboreia agora a memória de "Ao calor da fogueira", herdeira da antiga "À sombra do castanheiro" (o que nos faz pensar que devido às alterações climáticas, é melhor fazer este tipo de rubricas no interior de uma casa, não vá o tempo pregar partidas), que se desenrola numa aldeia do interior,onde um velhinho bem sábio, e um jovem de 30 e tal anos, saudavelmente cristão, iluminado sobre a vida, mas com espaço suficiente para encaixar as teorias do velhinho acerca da vida em geral e dos malefícios das políticas de esquerda e do liberalismo moral em particular, conversam e transmitem sapiência; o "Notícias de toda a parte", onde a actualidade é tratada com o olhar imparcial que só um comentário como "Veçhinha assaltada. É por isso que este país não avança" pode oferecer; os editoriais, agora a cargo do padre Manuel Pinto, que concluem que o Papa é mais eficaz que o Batman e que todos nós somos Jokers a fazer pouco dele, uns malandros; e obviamente, a secção recreativa, com adivinha, charada combinada e piadinha dignas de oura publicação eclesiástica, o "Clarim". Ah, sim, o "Clarim...
Todo um mundo que fascina. A edição desta semana atingiu patamares de humor reservados à segunda série dos Monty Python, 4ª série de Seinfeld e alguns discursos de Manuel Monteiro. Em primeira página, um poema, com o título deste post, de um autor chamado Victor Hugo. O leitor fica sem saber se estamos perante algo do famoso escritor de "Os miseráveis" ou se será o senhor de uma mercearia da Adémia, que conseguiu ter alguns momentos de clarividência após uma noitada a fazer as contas da loja. O poema consiste no esquema "O Homem é isto, a Mulher é aquilo; por isso..." e tem tiradas que quero compartilhar com todos vós que, como eu, adoram um bom naco de literatura.

- "O Homem é a mais elevada das criaturas; a Mulher é o mais sublime dos ideais" - Começa bem. O Homem, uma criatura, um animal, mas elevado. Um pouco como se um chimpanzé conseguisse ler a tabela periódica. A Mulher é um ideal. Tudo bem, mas neste caso tenho de perguntar: Manuela Ferreira Leite pode ser considerada mulher então?

- "O Homem é o cérebro, a Mulher, o coração. O cérebro produz a luz; o coração, amor. A luz fecunda; o amor ressuscita." - Porque todos sabemos que a mulher não pensa, eis que o poeta, fugindo à confrontação, opta por fugir à confrontação com esse pormenor incómodo e pimba, a Mulher é o coração. Isto porque, está inscrito na carta geral dos direitos do Homem, um Homem não sente. Assim, cada uma se pode completar, porque se não tivermos alguém, não somos ninguém. Só assim a luz pode fecundar, o que me faz ter segundos pensamentos acerca da utilidade do meu pénis na reprodução humana. E se o amor ressuscita, que não tiver o amor de uma mulher, está morto. Agora que penso, no outro dia um amigo meu virou-separa mim e disse "Estás pálido, pá!"

- "O Homem é forte pela razão; a Mulher é invencível pela lágrima... A razão convence e a lágrima comove"- Conheço um antigo trolha, que está agora a cumprir pena na penitenciária de Coimbra, que me confirmou que isto é quase verdade. A lágrima da Mulher comove, é verdade, e ele uma vez quando estava a bater na mulher, o choro dela comoveu-o o suficiente para repetir a dose. No entanto, ele garante-me que tem a direita e a esquerda e não possui uma terceira mão. No entanto, ele parece que rezava muito e ficou muito contente com este poema. O capelão gosta dele e da mulher, porque ainda não se divorciaram.

- "O Homem é capaz de todos os heroísmos; a Mulher, de todos os martírios... O heroísmo enobrece, o martírio sublima..." - A forma como o poeta reduziu séculos de relação entre homens e mulheres a uma só frase é absolutamente genial.

- E porque isto está a ficar comprido, le grand finale: "Enfim, o Homem está colocado onde termina a Terra; a mulher onde começa o Céu!" - A mulher é a porta para o Paraíso! Helas, Helas! O Homem fica a guardar a Terra, que é como quem diz a casa, enquanto a mulher vai passear e dar uma volta. Quem diz que a Igreja favorece os tradicionais estereótipos sexuais, é parvo.

segunda-feira, janeiro 12, 2009

Entreténs

Nestes tempos frios de Inverno, ficar em casa é cada vez mais uma opção. Ficam aqui 3 sugestões de séries levezinhas para o entretenimento caseiro dos leitores. Foram, ahm, adquiridas por este que vos escreve, e que deixa uma opinião pouco avalizada e especializada.

BURN NOTICE

Michael Westen é um agente especial do governo dos EUA, habituado aos piores cenários de guerra e que é muito bom naquilo que faz. Um dia, inesperadamente, é despedido; só que quando se é agente especial, não se é despedido como normalmente: recebe-se um burn notice e é-se enviado para uma cidade da qual não se pode sair. No caso de Westen, essa cidade é Miami. Enquanto tenta descobrir quem o tramou, Westen, abandonado, vê-se obrigado a confiar nas pocuas pessoas que lhe aparecem pela frente: amigos que o espiam para o FBI, uma ex-namorada irlandesa de tendências psicóticas e um gosto orgásmico por explosões, e, quando estiver mesmo desesperado, na família, nomeadamente uma mãe neurótica e um irmão que só faz asneiras.
"Burn notice" envolve a trama de Michael Westen e a sua investigação com o "procedural" de tratar de pequenos casos, como se fosse um detective privado, em Miami, usando os truques que ganhou enquanto trabalhava para o governo norte-americano. Esta série é uma fusão das habilidades tresloucadas de Macgyver e o estilo cool dos filmes de agentes secretos, com nenhum outro objectivo que não seja mostrar-se boa onda. Para isso contribui Miami, sempre solarenga, o carisma de Jeffery Donovan como Westen (carisma ou um lado granítico do seu estilo de representação que encaixa bem neste personagem) e um elenco de secundários com Gabrielle Anwar e o sempre confiável e mítico Bill Campbell, num papel que poderíamos descrever como Ash na reforma. Satisfatoriamente escrita e com uma realização adequada, é um programa de domingo à tarde para quem anseia pelo Verão e tem saudades de Angus Macgyver a fazer um carro com duas laranjas e um rolo de sisal.


LEVERAGE

"Leverage" parte de um dos princípios mais eficazes de popularidade entre os espectadores: o princípio Robin Hood, onde pessoas fazem coisas más por razões nobres. No caso, é um grupo de larápios que rouba aos ricos, poderosos e mauzinhos para ajudar gente como eu e tu, que se vê enrolada nas maquinações dos sistema. Tendo em conta a actual crise económica e o capachinho levantado aos bancos e demais instituições económicas pelo seu papel principal na derrocada financeira, é a feel good series do ano.
Nathan Ford, o líder da trupe, já trabalhou para uma insituição de seguros, e era mesmo muito bom no que fazia, mas quando o seu empregador negou pagar um tratamento experimental para o filho, que acabou por morrer de cancro, Nathan demitiu-se, passou pelo habitual abismo da insónia e do álcool por uns meses e quando voltou à acção, foi para reunir um grupo de experts bandidos e dar uma de Robin Hood. Os membros, todos mavericks e solitários de início, são escolhidos a dedo (Elliot, um Bruce Lee ocidental que dá sempre jeito ter à mão; Hardison, um negro com aparência de jogador de basquetebol, mas que é tão geek quanto Bill Gates é rico; Parker, enfant terrible, lourinha querida e especialista em assalto e intromissão com muito pouco de juízo restante na cabeça; Sophie Devereaux, a Meryl Streep do banditismo, com tendência a representar melhor quando envolvida em actividades criminosas do que em palcos a sério).
A série é entretenimento puro, sem grande preocupação cerebral, com o ocasional problemazinho de personagem para garantir que estas não se tornam protótipos. No entanto, com as voltas e reviravoltas de cada argumento, o nosso apetite por aventuras improváveis fica satisfeito. O destaque vai para o grande e muito subaproveitado pelo entretnimento em geral Timothy Hutton, que só com o seu talento e carisma suporta metade da série e faz com que os restantes companheiros de elenco pareçam 10 vezes melhores. Seguindo a recente moda televisiva, convida-se um grande actor e a série, mesmo não sendo brilhante, funciona automaticamente. É o que se passa com "Leverage", que se aconselha vivamente a quem gostou da saga "Ocean's, avisando-se desde já que Clooney, Pitt e Damon foram passar férias.



THE MENTALIST

A televisão actual está cheia dessa praga que são as séries de investigação de crimes. Por isso, começamo-nos a perguntar se precisamos realmente de outra. Vendo praticamente metade da primeira temporada desta nova série, a resposta é: sim, precisamos. Pelo menos desta. Porquê? Simples: ao contrário dos CSI, de "Medium", de "Mentes criminosas" e outros sucedâneos, onde as provas forenses e os perfis criminais são o motivo da festa, em "The mentalist"reduz-se a investigação ao mais básico e óbvio - a observação do comportamento humano.
A série, criada por Bruno Heller (também conhecido como o extraordinário criativo por detrás da magnífica "Rome", e que aqui se vira para o mainstream), tem como protagonista Patrick Jane, um antigo charlatão, que se fazia passar por psíquico, e que após a família ser morta por um serial-killer chamado Red John, que ele tinha feito o favor de insultar, tem uma, vá lá, crise de fé, e dcide pôr ao serviço da polícia o seu real talento, que é o de reparar e interpretar as mínimas acções das pessoas, estudando o seu comportamento para descobrir quem é culpado de um crime. A série podia não ter que contar e passar-nos ao lado, mas o facto é que Simon Baker, como Patrick Jane, encarna um princípio (o de saber ler os outros) que outro personagem televisivo conhecido tem (Gregory House), mas com um comportamento diferente: Jane é levemente arrogante, mas sedutor, convincente confiável, o que, em si, mostra o quanto o personagem é bom na análise do nosso comportamento enquanto humanos. Quase sempre com um sorriso nos lábios, ele arranca às pessoas aquilo que quer. Esta é uma série formulaica, sem grande complexidade, mas vale por ser quase um CSI antropológico, sem nódoas de sangue e DNA; mas com algo quase indelével, que é a nossa essência humana.
E se daqui a uns tempos ouvirem esta premissa mas com personagem diferentes, não estranhem: "Lie to me", com Tim Roth, sobre um especialista em detectar mentiras no comportamento das pessoas, está prestes a estrear na Fox.

2008 nalguns cartoons






sábado, janeiro 10, 2009

Quinta-feira: his body is a cage

Sequel

Ao que parece, antes de "O Hobbitt", de Guillermo del Toro, a New Line vai testar a populariudade da saga "O senhor dos anéis", com alguns pequenos filmes que cruzam este imaginário e o de outros filmes mais conhecidos. Ficam aqui as próximas estreias.





terça-feira, janeiro 06, 2009

segunda-feira, janeiro 05, 2009

Ho, ho, ho, now I have a machine gun...


Ontem celebrei o Natal com a minha provável futura mulher. Ela sabe que tenho uma aversão à época natalícia apenas comparável à de Gilles Bynia pelo bom futebol, mas nunca tinha descoberto o porquê ou o como. Sabendo que o meu avô fora um antigo pescador de bacalhau na Noruega e morrera de ataque cardíaco quando um dos peixes por ele sacados ao mar lhe começara a cantar a "Playback" de Carlos Paião, enquanto batia palmas com as barbatanas e envergava um barrete da claque do Beira-Mar. A verdadeira história por detrás da minha fobia não era, no entanto, tão normal assim.
Como quem conta uma história aos netos, lá lhe desevendei o mistério do natal passado, defronte da lareira. Claro que isso implicou três copos de vodka, uma estranha mistura de algo parecido com LSD numa sandes de perú e aquilo que alguns cientistas suecos designam de "rapidinha ao lado do quarto dos pais dela", mas eu quebrei. O que não é fácil, adiante-se, principalmente quando é sabido que sou o maior jogador de peixinho do meu bairro.
Tive de recuar alguns anos, bem antes de começar qualquer coisa com a Sofia, até à altura em que ficava em estado licantrópico só por ouvir respirar uma determinada rapariga de Braga. O nome dela era Marta, ou então Adefadrebia, torna-se difícil recordar. Mas uma coisa era certa: desde pequena que queria matar o Pai Natal. Sim, sim, quem não tinha esse desejo, devem ter pensado. No entanto, enquanto que nós, os normais, querem aniquilar o barbudo por causa do brutal trenó que conduz (sem dúvida, a melhor viatura do mundo, arredores do mundo e periferias do mundo), ela elaborara a teoria de que o Pai Natal era um demónio que chicoteava as crianças, ao invés de ofertar prendas.
As razões pelas quais me começara a relacionar com uma pessoa com distúrbios mentais evidentes são óbvias: eu não queria, mas a minha pila sim; e a minha pila nunca ligou muito ao Natal. É muito mais uma criatura dos fins de ano, quando chega o momento das boas entradas. No entanto, não posso descarregar a culpa nela. Eu não sou cego, e havia nela um je ne sais quoi... OK, um recheio de soutiens que o pintor Rafael não desdenharia ter imortalizado num dos seus quadros. Estávamos, portanto, em pleno manicómio do desejo sexual.
Só isso pode explicar que, numa noite 24 de Dezembro de má memória, eu tivesse aceite acompanhá-la num passeio. Passear não tem mal nenhum, mas passear com uma rapariga que já fumara uma substância desconhecida (que mais tarde vim a saber ser Omo misturado com Persil), com um desejo de morte natalício e uma espingarda de canos cerrados capaz de fazer reduzir de Chuck Norris ao estado de Cláudio Ramos é justificação de internamento no Miguel Bombarda. Quando questionada acerca da origem da arma, ela resumiu uma história qualquer que envolvia skinheads e elders numa conspiração louca para tornar Massamá independente. À socapa, subimos à torre da Universidade de Coimbra e quando chegámos ao topo, ao invés da minha segurança, o meu primeiro pensamento foique poderia ser o primeiro a pôr-me em cima de duas cabras sem ser acusado de bestialismo.
E ali ficámos, duas horas à espera do Pai Natal. O velhote não aparecia. Ela fumegava e no seu estado delirante, começava a ver-me com mais 100 quilos e um saco de serapilheira às costas. Tentei convencê-la que não, que não me chamava Nicolau, mas de súbito, uma aranha começou a dar uma de Neil Armstrong na minha púbis, e isso levou-me a pronunciar uns "ho ho ho" de surpresa e dor, que ela confundiu com uma saudação natalícia. No cinco segundos seguintes, apaguei, à medida em que o meu corpo tocava em percussão de degraus a obra completa dos Stomp em 2 minutos, até chegar ao sopé da Cabra. Quando a polícia chegou e deu comigo feito numa obra do período cubista de Picasso, a minha companheira tinha fugido, sem deixar rasto e embora no dia seguinte os jornais tenham noticiado que o presépio dos bombeiros fora feito refém por uma tresloucada que envergava uma caçadeira e tentara violar o S. José de barbas, ninguém, excepto eu, fez a ligação entre os dois factos.
Quanto a mim, a polícia levou-me ao hospital, onde fui diagnosticado por um médico vestido de Pai Natal, que me explicou que tudo aquilo era resultado das minhas acções e nunca por nunca deveria tentar algo do género no futuro.
E foi aí que passei a odiar o Pai Natal tanto como a outra gaja. Odeio pessoal vingativo.

sexta-feira, janeiro 02, 2009

Crash

Be kind, rewind


Antes de mais, sei que vai atrasado, mas bom 2009, ble, ble, ble, klan klan klan, yada yada yada.

O final de um ano e passagem para outro levam-me sempre a duas reacções que acabam por convergir numa espécie de nevoeiro deprimente que me envolve o cérebro durante o resto do ano: reflectir sobre o que foi o ano que passou e o que será o próximo. As conclusões são todos os anos as mesmas, o que me faz concluir que ou não sei mesmo saborear a vida ou então ando a conhecer pessoas problemáticas, o que, tendo em conta que estou na direcção desse clube (embora, sosseguem, não como presidente). 2008 provou as duas fazem overlapping, em acontecimentos infelizes e contraditórios.
O ano passado colocou-me frente a frente com peripécias que nunca me tinham acontecido, onde valores que tenho como sagrados e queridos saíram da toca do idealismo e se viram confrontados com a realidade, sendo rechaçados com uma brutalidade digna de John Matrix no filme "Commando". É um desalento quando julgamos que o nosso coração está colocado no lugar certo, que fazemos a coisa mais correcta, apenas para descobrir que em certas confrontações, o nosso adversário não funciona na mesma linha lógica pela qual nos regemos e que, infelizmente, não há isso da coisa mais correcta. Há apenas... confusão, alguma raiva e mesquinhez; e mesmo quando passo por cima de tudo o que de mau me move e tento deixar as coisas minimamente bem (ah, velhos hábitos de criança que não morrem...), a vida e as pessoas não são nada como deviam ser. É tudo apenas um acumular de... nós górdios e de atitudes que devem mais a histórias de faca e alguidar e teoria de pacotilha de "O sexo e a cidade" e afins do que à, muitas vezes me leram aqui esta palavra, lógica. Porque apesar de tudo, acredito que há uma lógica neste mundo. Apesar de encontrar várias pessoas ilógicas que neles habitam.
2008 não foi um ano de completa descrença nas pessoas. Conheceram-me umas novas (que valeram a pena), redescobriram-se outras (o que é sempre benvindo) e reafirmou-se a nossa lealdade para com umas poucas restantes. Bem pesado, isso compensou as desilusões que o mês de Dezembro em particular me trouxe, em vários campos e frentes; e 2009, para já, arranca com saldo negativo. Isto é mais derrotista quando o ano devia ter começado precisamente ao contrário. Mas enfim, já me devia ter habituado a estas coisas. Não adianta muito andar positivo, a assobiar, a acreditar que a mudança está aí ao virar da esquina e que sim, que vale a pena mudarmos. A realidade é que quando dermos a volta ao quarteirão, vai aparecer o segurança de uma discoteca que mais parece um armário de carvalho com pernas e nos dá um encontrão que nos projecta para uma poça de lama com o tamanho do lago Ness.
José Sócrates avisou-me: 2009 é um ano de crise. Tantas vezes desdenhei este sábio homem apenas para confirmar que ele faz previsões acertadas. No entanto, como em tudo, a crise não atinge todas as áreas, e tantas vezes, em alturas de crise, este blog se mostrou pujante e vivo. A crise faz bem aqui ao pasquim. Nem tudo se perde nestas desgraças. É por isso que, mesmo com pessoas um bocadinho descontroladas (que têm a minha solidariedade e compreensão, porque também sou uma delas), bloqueios de estrada e inesperados furúnculos em locais humilhantes, ainda tenho suficiente resistência em mim para não desistir da vida. Há promessas a serem cumpridas e coisas boas em 2009 à minha espera. Quanto mais não seja, dia 15, com o senhor Button, e dia 21, com uns gajos perdidos numa ilha.
Esse é o truque para não desistir da vida: compreender o grande quadro, concentrar-me nos pormenores e estar de volta a casa antes da meia-noite.