segunda-feira, janeiro 05, 2009

Ho, ho, ho, now I have a machine gun...


Ontem celebrei o Natal com a minha provável futura mulher. Ela sabe que tenho uma aversão à época natalícia apenas comparável à de Gilles Bynia pelo bom futebol, mas nunca tinha descoberto o porquê ou o como. Sabendo que o meu avô fora um antigo pescador de bacalhau na Noruega e morrera de ataque cardíaco quando um dos peixes por ele sacados ao mar lhe começara a cantar a "Playback" de Carlos Paião, enquanto batia palmas com as barbatanas e envergava um barrete da claque do Beira-Mar. A verdadeira história por detrás da minha fobia não era, no entanto, tão normal assim.
Como quem conta uma história aos netos, lá lhe desevendei o mistério do natal passado, defronte da lareira. Claro que isso implicou três copos de vodka, uma estranha mistura de algo parecido com LSD numa sandes de perú e aquilo que alguns cientistas suecos designam de "rapidinha ao lado do quarto dos pais dela", mas eu quebrei. O que não é fácil, adiante-se, principalmente quando é sabido que sou o maior jogador de peixinho do meu bairro.
Tive de recuar alguns anos, bem antes de começar qualquer coisa com a Sofia, até à altura em que ficava em estado licantrópico só por ouvir respirar uma determinada rapariga de Braga. O nome dela era Marta, ou então Adefadrebia, torna-se difícil recordar. Mas uma coisa era certa: desde pequena que queria matar o Pai Natal. Sim, sim, quem não tinha esse desejo, devem ter pensado. No entanto, enquanto que nós, os normais, querem aniquilar o barbudo por causa do brutal trenó que conduz (sem dúvida, a melhor viatura do mundo, arredores do mundo e periferias do mundo), ela elaborara a teoria de que o Pai Natal era um demónio que chicoteava as crianças, ao invés de ofertar prendas.
As razões pelas quais me começara a relacionar com uma pessoa com distúrbios mentais evidentes são óbvias: eu não queria, mas a minha pila sim; e a minha pila nunca ligou muito ao Natal. É muito mais uma criatura dos fins de ano, quando chega o momento das boas entradas. No entanto, não posso descarregar a culpa nela. Eu não sou cego, e havia nela um je ne sais quoi... OK, um recheio de soutiens que o pintor Rafael não desdenharia ter imortalizado num dos seus quadros. Estávamos, portanto, em pleno manicómio do desejo sexual.
Só isso pode explicar que, numa noite 24 de Dezembro de má memória, eu tivesse aceite acompanhá-la num passeio. Passear não tem mal nenhum, mas passear com uma rapariga que já fumara uma substância desconhecida (que mais tarde vim a saber ser Omo misturado com Persil), com um desejo de morte natalício e uma espingarda de canos cerrados capaz de fazer reduzir de Chuck Norris ao estado de Cláudio Ramos é justificação de internamento no Miguel Bombarda. Quando questionada acerca da origem da arma, ela resumiu uma história qualquer que envolvia skinheads e elders numa conspiração louca para tornar Massamá independente. À socapa, subimos à torre da Universidade de Coimbra e quando chegámos ao topo, ao invés da minha segurança, o meu primeiro pensamento foique poderia ser o primeiro a pôr-me em cima de duas cabras sem ser acusado de bestialismo.
E ali ficámos, duas horas à espera do Pai Natal. O velhote não aparecia. Ela fumegava e no seu estado delirante, começava a ver-me com mais 100 quilos e um saco de serapilheira às costas. Tentei convencê-la que não, que não me chamava Nicolau, mas de súbito, uma aranha começou a dar uma de Neil Armstrong na minha púbis, e isso levou-me a pronunciar uns "ho ho ho" de surpresa e dor, que ela confundiu com uma saudação natalícia. No cinco segundos seguintes, apaguei, à medida em que o meu corpo tocava em percussão de degraus a obra completa dos Stomp em 2 minutos, até chegar ao sopé da Cabra. Quando a polícia chegou e deu comigo feito numa obra do período cubista de Picasso, a minha companheira tinha fugido, sem deixar rasto e embora no dia seguinte os jornais tenham noticiado que o presépio dos bombeiros fora feito refém por uma tresloucada que envergava uma caçadeira e tentara violar o S. José de barbas, ninguém, excepto eu, fez a ligação entre os dois factos.
Quanto a mim, a polícia levou-me ao hospital, onde fui diagnosticado por um médico vestido de Pai Natal, que me explicou que tudo aquilo era resultado das minhas acções e nunca por nunca deveria tentar algo do género no futuro.
E foi aí que passei a odiar o Pai Natal tanto como a outra gaja. Odeio pessoal vingativo.

4 comentários:

Post-It disse...

:D
Tiveste graça, rapazinho.
Podes continuar.

Anónimo disse...

Nem sei o que te diga, essa Marta parece-me familiar... porque será??

susana disse...

:)surrealmente engraçado:P keep going.

Ela disse...

Futura mulher?!
Vê lá se me convidas para o casamento!eh, eh!