segunda-feira, agosto 04, 2014

Não ser


Quase todos os textos que leio acerca de separações são pirosos que doem. Em primeiro, porque são mal escritos, e isso é compreensível: é difícil escrever bem quando o coração nos entope tudo porque cresceu demasiado. Nem é uma crítica, mas sim a empatia de quem já se viu tão assoberbado pelo que sente que apetece tantas vezes sumir, morrer um pouco, talvez uns dias, e voltar apenas quanto todos foram embora e podemos ficar ali com aquela dor cristalizada ainda ardente, num prazer perverso de nos encontrarmos na miséria, e mesmo assim sermos ricos em vida que flui e mesmo moendo, produz ouro.

Em segundo, porque revelam tantas vezes uma sentimentalidade piegas e superficial, atirando palavras para enterrar a tristeza passageira que se cura uns dias depois, quando se conhece X ou Y e o carrossel volta a girar, até virar novamente carros de choque. É como se quisessem rebentar de sentimento, e encontrassem apenas teias de aranha no sótão do ventrículo superior esquerdo. À falta de sangue fervente e vulcânico, inventa-se uma erupção, que soa a falsa por ser demasiado lúcida, que é aquilo que a dor não oferece nem é. Doer é tantas vezes não perceber sequer que temos algo que realmente não temos, mas vem aí. Apanha-nos por tabela e às três tabelas encesta-nos. Sem espinhas.

Em terceiro, porque não são verdadeiramente textos de separação. São de intervalo. Existe algures nas entrelinhas a esperança de regresso, e nenhum ponto é final: apenas parágrafo. Algures na dança das palavras, existe um compasso de espera, que disfarça o desespero, e caminha um trilho onde os sinais se confundem, mas se segue sempre em frente. Nem que seja até à falésia. Lá em baixo, um mar ruge e grunhe, mas é transparente, e por isso, à falta de chão, salta-se, e o mergulho desconhece-se. Nunca mais se ouve falar de quem tenta, excepto algum tempo depois, quando algo dá à costa e não se reconhece. Aparenta ser o que pensou que era. Mas já não é. Já foi com as marés e não volta.

Não irei por aqui, portanto. O que existe, guardo para quem de mim não se separa, e para o meu único amparo, que sou eu. Há tanta, tanta dor em mim, com tudo o que me cai e tudo o que me tiram, e que se calhar me tiro, que começo a perder o poder de transparecer para vós o quão vazio me sinto. Não quero escrever mal, não quero soar piegas e não tenho esperança. Está fora de mim conseguir dar-vos o que merecem, e o que vos conforta ou sobressalta. Não vos consigo dar isso, e por isso me desculpo. Desta vez, faltam-me palavras e faltam-me frases. Só existem sinais de pontuações, e todos eles mal aplicados. Sinto que fui mal redigido, e preciso de uma correcção.

Por isso, peço perdão. Farei uma revisão e quando acabar, prometo, pelo menos estrutura e texto. Prometo-me, para mal dos vossos pecados e das minhas virtudes.

1 comentário:

Unknown disse...

Tu não consegues escrever mal, Bruno! Um abraço apertado!