quinta-feira, novembro 05, 2015

Oniris



Há muitas noites que não sonhava, como se divagar nas imaginações do que não se conhece em nós fosse morte, ou pelo menos coma. Sonhar é perguntar a nós mesmos as respostas que não ouvimos, mas reverberam em corpos com a forma de sino, badalando a meia-noite como se a vida se escondesse em órbitas simples, e não no eixo de cada esfera. Por isso andava perdido, sem respostas ou sequer sem pontos de interrogação suficientes para encerrar a dúvida se movimento perpétuo que gira de todas as vezes que penso na fraqueza que me forma, me molda, me identifica. Mas ontem, entre um voo e uma aterragem, um sonho fez check-in. Picou bilhete, recolheu bagagem e algures na cortina do palco das minhas noites, projectou-se e qual truque de magia, revelou-se em mistério, pairou à procura que lhe desse interpretação.

Sonhei ontem que era um balde de legos com olhos. A mão desencarnada do que não agarro exigiu-me os cabelos e despejou-me numa carpete: espalhei-me ao comprido e ao largo, em várias peças e dramas, actos e arcos, e por ali fiquei sem que a mão me juntasse de novo. No espaço entre tudo, um uivo gelou o ar e de repente, fiquei ainda mais afastado do que sou. Uma névoa verde é fumaça e as peças eram bocadinhos de ti, e quando as chamaste, foram comer à tua mão, em monte e magote, e quiseram sair de mim para se instalarem simplesmente nos teus dedos, no teu calor e na tua essência. Não me zanguei. Estar em ti é uma maneira mais próxima de me juntar a mim próprio. Por isso foi um sonho.

Acordei e os meus contornos crepitavam quase audíveis. A cama era a tua palma, e sentia no colhcão sangue nas veias, calor de coração, batida que se força a si própria. Os rumores da tua pele são factos nos meus lábios

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