terça-feira, julho 10, 2007

Filmes que tenho visto nos últimos dias I


"Transformers" - Sou defensor de que, uma vez por ano, devemos ir ver ao cinema um filme que saibamos à partida que não vamos gostar. Acho que um pouco de trash nos faz apreciar o bom cinema que vemos nos outros dias do ano, e dar-lhe valor. Por outro lado, acredito num sentido de equilíbrio no mundo de cinema: por cada grande realizador que gostamos e amamos, há-de haver outro que tem, quase diria, o prazer de estragar as prodições em que se vê envolvido, com relativo gozo, e na cara do espectador. E se há semanas fui ver "Zodiac", de Fincher, esta semana, entrei numa sala de cinema para engolir "Transformers", de Michael Bay.
Confesso desde já um ódio de estimação por Bay, o homem cujo nome do meio é certamente "Porra, vocês viram bem aquela explosão de 300 carros que acabei mesmo agora de provocar?". No entanto, e ninguém pode negar, ele pode ser cxlassificado um "auteur", pela definição dada pelos Cahiers du cinema: um homem cujas marcas estilísticas são perfeitamente reconhecíveis em cada obra e que usa a câmara de filmar como o escritor usa uma caneta, usando os recursos da indústria do cinema para impôr a sua visão. A sua obra, desde "Bad Boys" até "The island" possui um fio condutor, que alcança em "Transformers" um apogeu orgíaco.
Negros cujo único objectivo de existir é tranformar, através de uma frase calão, conceitos difíceis que estão a ser explicados, apenas para que o espectador se ria? Checked!
Personagens femininas com a espessura de uma folha de papel? Checked!
Mulheres bonitas ao pontapé em cargos que habitualmente não seriam encontradas (neste caso, uma especialista em informática? Checked!
Aparição de um actor, em intenso over-acting (aqui, John Turturro), que interpreta um personagem bizarro e que, pelo meio, consegue-nos faezr esquecer de que estamos a ver um filme horrível? Checked.
Explosões, correria, demolições, explosões, correria, demolições? Checked.
Planos de câmara que surgem sem outra razão aparente que não seja "olhem como eu vos estou a dar um ponto de vista que vocês nunca tinham pensado"? Checked.
Uma tentativa de esquemtizar um romance que não nos vai interessar durante a história toda por causa de tanta explosão? Checked!

Tirando as marcas autorias de Bay, ficam os robôs (a ILM excedeu-se: 20 em 10) e uma ou outra cena que mostra no que poderia ter-se transformado este filme se Bay se controlasse: um jogo de escondidas eenvolvendo 5 Autobots, uma casa e os pais do personagem principal, um rato subtil por entre uma manada de elefantes descontrolados. E Optimus Prime está muito, muito bem. Eu admito.
Mas pronto: se estiverem interessados numa história que tenha uma ordem aparente (e quando vou ver um blockbuster, já vou preparado para histórias incoerentes, por isso...), esqueçam "Transformers". A não ser que sejam fãs dos robots. E mesmo assim, tendo em conta o falhanço de Bay em estabelecer uma empatia entre o espectador e 85% das máquinas (para não dizer relegá-las completamente para segundo plano), tenham cuidado...


"Die Hard 4" - Li em muita crítica que "Die Hard" é John McClane. Para mim, "Die Hard" envolve outro John, McTiernan, o realizador dos primeiro e terceiro filmes da série, sendo que, para mim, no terceiro ele consegue igualar o primeiro, e por vezes superá-lo. Este é um auteur de acção à séria (o homem que está também por trás de "Predador", "The last action hero" e "The Thomas Crown affair"). Não esteve no segundo "Die Hard", que é, sejamos sérios, um deserto de coolness.
Este "Die Hard 4" tenta fazer regressar o tom mais durão de McClane, um homem a quem a vida nunca corre bem, que está sempre no sítio errado à hora errada e anda lixado com tudo e com todos. O protótipo do personagem auto-destrutivo, que se colou à pele de Willis de tal maneira que os polícias que interpretou na sua carreira são variações do seminal personagem. No entanto, a dureza que se tenta impôr nunca é completa, porque está enredada pelas malhas do politicamente correcto. Temos explosões, pancada com fartura (e parece que o parkour é a nova moda dos filmes de acção) e os tradicionais one-liners de "Die Hard" (que não são assim tão bons), mas o travão que põem nas asneiras não ajuda a que esqueçamos que esté um McClane mudado, e que tem de se conter, porque enfrenta os seus piores inimigos: os censores. Len Wiseman, o escolhido para comandar este 4º capítulo, prova que sabe filmar cenas de acção, mas insiste, por tudo e por nada, em colocar uns filtros azuis despropositados que tiram o ar de acção naturalista que caracteriza a série. Pelo menos para mim.
Destaque para Justin Long, um excelente comic-relief, e Timothy Olyphant, o vilão que mantém uma coolness interessante, embora tenha dado por mim, nalguns momentos, a suspirar por Jeremy Irons e, especialmente, Alan Rickman, um actor que podia passar um filme todo a ler a lista telefónica que ninguém despregeria os olhos do ecrã.

2 comentários:

LupinLongo disse...

transformers gostei... apesar de estar a espera de um filme mais parecido com os bonecos animados e de discordar com o k fizeram com o bumblebee, gostava tanto do velhinho carocha. abr

Dieubussy disse...

Todos sabemos que até o Michael Bay consegue um pouco melhor do que Transformers. E ninguém me contradiga: normalmente, estamos habituados a ver um maior numero de grandes presenças no cast, o que neste filme se ficam pelo Voigt e pelo Turturro... o resto dos personagens são interpretados por novas caras.

Mas o que podemos pedir de um filme que quer poupar na qualidade dos actores - logo das actuações - e que investe a fundo nos FX?

Achei que a história de amor entre os dois personagens é ridícula, e tornarem o bumble-bee num super-carro tipo general Lee é vergonhoso! Ficámos todos com a impressão de que virá uma sequela, certo?!