Ora bem... Dia 22 de Novembro, fez anos Scarlett Johansson. Um dia antes de um camarada de outras aventuras, el señor Juan Pedro. Como ele é, quase certamente, o grande criador teórico da ciência dos pretextos, aproveito-me dos seus ensinamentos e uso estas breves demonstrações para justificar isto
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Pronto. Já está
Cinema: mantendo uma regularidade que já não conhecia há muito, muito tempo, voltei a ir ao cinema na semana passada. Saí delá extremamente satisfeito e convencido de ter visto aquela que é, provavelmenbte, a coisa mais tresloucada cinematograficamente falando deste ano. A única concorrente de "Planet terror", de Robert Rodriguez, neste cobiçado prémio é "Shoot'em up", um delirante filme de acção de imagem real com o espírito dos cartoons da Warner, em dose ultra-violenta.
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A história, voltando ao catedrático J.P, é um mero pretexto: um desconhecido assiste uma mulher a dar à luz, enquanto despacha uns quantos tipos ao tiro. Esse bébé parece ser importante e é perseguido por um tenaz e desequilibrado capanga, que tudo faz para aniquilar o herói e a criança. O herói pede ajuda a uma prostituta com um problema hormonal que lhe permite deitar leite pelas mamas quando quer e a perseguição continua.
Estes frágeis pedaços de argumento são colados pelo que é, afinal a base e única razão de ser do filme: as cenas de acção tão over the top que são, em simultâneo, homenagem e paródia a um género que, salvo raras excepções, já é de si memso auto-paródico: o cinema de acção. Temos coreografias e situações de um absurdo estapafúrdio tal que provavelmente nunca foram tentadas no cinema pelo pouco bom senso que ainda costuma imperar no género. Neste filme, o filtro foi tirado e o bom senso fugiu para nunca mais ser encontrado. Para além do referido tiroteio enquanto uma mulher está a dar à luz, temos outro no meio de uma cena de sexo (que, temos herói, vai decorrendo no meio da troca de tiros); outra em descida de pára-quedas; outra depois de terem partido os dedos ao herói; e por aí fora...
E esqueçam lá Denzel vs Crowe: o duelo interpretativo do ano está aqui, com um Clive Owen cada vez mais a exigir um combate pelo papel de James Bond (e tendo em conta que Craig já é quase perfeito, que grande concurso seria esse!), com uma mistura de fleuma e sarcasmo nos one-liners e com incríveis tiradas que começam sempre com "Do you know what I hate?" e que acabam sempre em acções inverosímeis, como atirar um condutor fora da estrada num ciade apenas porque este não usa o pisca-pisca quando ultrapassa, ou dar palmadas no rabo de uma mãe que ameaça bater no filho num museu; e Paul Giamatti, mastigando as suas linhas de diálogo como só um verdadeiro actor de comédia ácida sabe (vejam "American Splendor", onde Giamatti interpreta Harvey Pekar, o cartoonista norte-americano, e vejam se não é verdade) e combinando num só papel o impiedoso assassino e o homem de família que tem de chegar a tempo à festa de anos do filho. Owen e Giamatti entram no espírito anárquico da fita e a coisa ganha contornos de um confronto entre Bugs Bunny, pois o Mr. Smith de Owen passa o tempo a comer cenouras (que no intermédio são usadas como armas também), e Elmer Fudd. A certa altura, Owen vira-se para Giamatti e pergunta: "What's up, doc?" É uma piscadela de olho tão óbvia que é impossível não nos deixarmos contagiar.
Em suma, há já algum tempo que não me divertia assim a ver um filme. Fez-me lembrar "Kiss kiss, bang bang", embora, claro, sem o refinamento do argumento brilhante de Shane Black, um dos cardeais do tipo de filme de acção que aqui é parodiado. Michael Davis, realizador e argumentista, é extremamente competente, principalmente no argumento (que são praticamente one-liners uns atrás dos outros), mas na realização, dei por mim a pensar no que seriam estas espectaculares coreografias através do olhar de um John Woo ou um John McTiernan, realizadores do género, mas sempre dispostos à paródia, principalmente McTiernan, que já o experimentou nessa obra-prima que é "The last action hero", onde consegue misturar Schwarzeenneger, Ingmar Bergman e Shakespeare. Não acreditam? Vejam.
E no entratanto, dêem um salto ao cinema e vejam este filme. O Mr. Smith de Clive Owen ia detestar que não o vissem. E vocês não querem definitivamente saber o que acontece quando Mr. Smith detesta alguma coisa.
P.S Monica Bellucci entra. E como em Scarlett Johansson, penso que as palavras são escusadas.
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