quinta-feira, novembro 01, 2007
"Pushing daisies"
Apesar de ver muitas séries e de gostar de um número razoável delas, não é muito fácil ser conquistado de chofre por uma. É como quando me apaixono por uma rapariga: há um período em que vou ficando embruxado, não me lembro de alguma vez ter visto uma miúda e imediatamente me ter apaixonado por ela. Por isso não acredito em amor à primeira vista. Já com séries, lembro-me que aconteceu apenas 3 vezes: "Lost", "Millennium" e, óbvio em alguém que é vidrado em fenómenos paranormais, "The X-Files.
Aconteceu novamente esta semana. Não a coisa das miúdas, mas uma série: "Pushing daisies", um OVNI (ainda a remeter para "The X-Files") no meio televisivo actual, o que tendo em conta o eclectismo actual, que vai desde a mais normal "Greys anatomy" à bizarria de "Lost", do esquematismo de "House" ao ulta-realismo de "The Wire", é dizer bastante. O ponto de partida não é novidade: Ned é um miúdo descobre que tem o poder de, com um toque, ressuscitar o que está morto; no entanto, se os ressuscitados alguma vez lhe voltarem a tocar, morrem instantaneamente. Já adulto, e dono de uma loja de tartes, ele usa este poder, algo a contra-gosto, para ajudar um detective privado a resolver homicídios falando com as testemunhas mais fiáveis: as próprias vítimas, que um minuto depois de Ned lhes tocar, voltam á sua condição. Esse minuto é importante, porque se Ned não os devolver À sua condição defunta, alguém nas proximidades morre.
Entretanto, uma das vítimas é o amor de infância de Ned, Chuck (é mulher), e Ned não resiste: ao invés de a reverter à sua situação, mantém-na viva, meesmo sabendo que nunca mais se poderão tocar. Tendo em conta que bastam cinco segundos para o espectador se aperceber que entre Ned e Chuck existe voltagem suficiente para iluminar todo o Parque das Nações durante meses, temos aqui um engraçado imbróglio romântico. A série podia ficar-se por aqui, que um romântico sensível como eu já a seguiria até ao final. Mas não: todo o tom é uma fusão entre "O fabuloso destino de Amélie" e o design da fábrica de Willie Wonka de "Charlie e a fábrica de chocolate". Numa época em que se louvam os grandes dramas pela carga profunda de análise psico-analítica que trazem, sabe bem ver uma série pelo simples prazer de vermos contar uma história que apela ao lado mais soft que há em nós. E todos temos um...
Que isto venha de um dos argumentistas de uma série mediana como é "Heroes", surpreende. Um dos produtores executivos é Barry Sonenfeld e a série é um mimo visual e o contraponto ideal para as agruras do nosso dia-a-dia. Apenas uma preocupação: duvido que os próximos episódios mantenham o altíssimo nível do primeiro. Mas estarei cá para confirmá-lo. Gulosamente.
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