segunda-feira, novembro 12, 2007

Dívida paga


Norman Mailer morreu este fim de semana, um dos eternos membros da antecâmara do Nobel, o grupo de escritores que todos os anos vão ganhar o prémio, mas que nunca conseguem. Lobo Antunes também por lá costuma parar, uma vez por ano. Mas enquanto o português ainda pode esperar qualquer coisa, Mailer já não, por motivos que a generalidade da crítica considera imbatíveis.
Relembro Norman Mailer por razões estranhas. Embora o ache um excelente escritor, não sou um especialista ou fã acérrimo. Só li dois livros da sua lavra, "Os nus e os mortos" e "A canção do carrasco". É uma personalidade fascinante, em toda a sua misoginia, provocaçao gratuita e desafio constante das normas vigentes, para além do seu comportamento em sociedade ser pouco menos que excessivo. Fundou o "Village Voice", megafone da inteliggentsia norte-americana, e pelo caminho, tornou-se um dos clichés das décadas de 60 e 70: o judeu revoltado. Mailer, no entanto, é tudo menos um cliché: bruto como as casas, intenso, enfant terrible e genial. Talvez tenha sido por tudo isto que nunca ganhou o Nobel, e que Saramago ganhou: não discutindo os seus méritos ou deméritos artísticos, o Saramago personalidade é chato e nem o facto de estar ligado a um partido de oposição clandestino numa ditadura lhe dá uma aura carismática ou especial. É um tipo que foi viver para Espanha e de vez em quando, diz barbaridades. Figo também era assim.
Então porque estou a lembrar Mailer? Porque lho devo. Há anos que estou para acabar de ler uma obra do escritor e sinto-me mal com isso. Não falo de dois ou três anos: é um espaço intemporal vergonhosamente mais extenso, tão vergonhoso que não o vou revelar aqui. Em minha defesa, posso dizer que a obra, "O fantasma de Harlot", é um monstro com a modéstia de 1361 páginas, o que, tendo em conta que tenho mais livros para ler e costumo abocanhar vários ao mesmo tempo, é de respeito. Mailer tem uma escrita cativante, mas outros escritores também, e esses escritores são mais comedidos na extensão do que têm para contar. Logo, ando a pousar e levantar este livro num movimento perpétuo de leitor que embora não desistente, tem um déficit de atenção extremo.
Mas fica aqui prometido, em público, que o relato de Mailer da história da CIA não será esquecido na minha agenda cultural. Antes que o fatntasma de Mailer me enfie "O fantasma de Harlot" pelo olhos. O homem que esfaqueou a segunda mulher numa festa da sociedade era homenzinho para isso.

1 comentário:

Anónimo disse...

6 Casamentos, várias amantes, 8 filhos, excessos de droga e álcool, teórico da conspiração Monroe e JFK, morre aos 84.
What's not to like?

Vítor H. (CIA)