quinta-feira, agosto 22, 2013
Lapso
O tempo é o que nos impele, e o nosso maior adversário. Medi-lo já foi uma obsessão, e as unidades em que tentámos encaixá-lo para fingirmos a compreensão nos escapa como ele próprio são apenas tentativas de desespero na sua fuga. O filósofo Antífono dizia que o tempo não é uma realidade, mas sim um conceito, ou até uma medida. É uma ilusão, e já o poeta Auden alertava que não se pode conquistar o Tempo, pois este é uma ilusão. Há uma marca sobre nós, a que chamamos tempo, mas nada mais é do que o compasso da decadência. A melhor maneira de enfrentar isso a que chamamos Tempo não é a fuga, ou o movimento: é sim a pausa. O momento em que decidimos parar e enfrentar o Tempo com a única coisa que ele não pode fazer, que é tomar conta de si mesmo.
Decidi sentar-me e com os meus olhos, orbitar duplamente. Agarrei em dois lençóis de tempo, assentei o meu eterno rabo neles e contemplei a cerúlea cúpula sobre mim, espaçada aqui e ali por farrapos de algodão em forma de gás, e lançando-me, nos ouvidos, numa auto-estrada em direcção ao prazer sob a forma de Ludovico Einaudi. Para muito, caches são plásticos. Para outros, aventura. Para mim, uma cache boa fica no cimo da montanha e se as condições estiverem mesmo perfeitas, são a oportunidade para me libertar desta frágil e patética carcaça em direcção a um mundo que existe sobre mim e em que a minha vida é muito melhor, pois sou eu que a invento sem amarras. Segundo a máxima hermética, tanto em cima, como em baixo; mas aqui, o que está em cima vale tanto, tanto que é tontice pensar que o de baixo se pode comparar.
No topo da montanha, existo eu e a música. Há também ecos de um mundo melhor, mas não existe Tempo: só um lapso onde me encontro, com o meu batimento cardíaco e a minha respiração.
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1 comentário:
No topo da montanha são os chamados tempos fora do tempo. Os melhores. :)
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