sábado, abril 22, 2006

Aniversário

Fez ontem 1 ano que morreu a minha avó. Podia ter escrito sobre isto precisamente ontem, mas não estava com muita disposição. A morte, normalmente, não me faz mossa, e no caso dela, embora sinta saudade, consigo viver com o facto de ela já não estar a caminhar sobre este chão. O que mais me chateia é ter-lhe prometido tanta coisa que não cumprir. Isso ainda me pesa na consciência: é que gosto de cumprir as promessas que faço ou os pedidos que as pessoas me fazem. No caso dela, são logo uma série de coisas: ela não foi ao meu casamento, nunca me viu na televisão, não se recuperou da doneça que lhe trouxe a morte... Assim, só de cabeça, temos algmas das coisas que discutíamos, algumas sérias, outras parvas, todas prometidas.
Quando vou co cemitério visitar a campa dela (que é coisa que não gosto, pois sempre que vou ao cemitério, apanho sempre com uma senhora de preto a chorar a morte dos dois filhos, a três campas da minha avó, e é um espectáculo que me deixa desconfortável), penso sempre nisto, a olhar para a fotografia dela, enquanto ri. Fico tão triste por ela como por mim. Acho que o que mais custa na morte das pessoas não é o acto em si, o do falecimento: a assombração permanente que é a memória delas é bem mais doloroso.
NO cemitério, tento não pensar muito nisso. Distraio-me por vezes até, procurando qual a campa mais antiga, ou as de pessoas que faleceram e que eu conhecia. No entanto, despeço-me sempre da mesma maneira: coloco um beijo na mão e coloco-o na fotografia. É estranho como um agnóstico ficou tão apegado ao culto de ícones.

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