quinta-feira, março 01, 2007

O capitão


Sentado no sofá, ontem à noite, via eu o Sporting-Académica, quando uma jogada leva o perigo à área dos lagartos: uma bola, cruzada por Vítor Vinha provoca um desentendimento entre Ricardo, o keeper leonino, e Anderson Polga, o Corcovado da defesa sportinguista, mas o brasileiro consegue resolver a situação cortandom para fora. O comentador justifica a situação: "Polga não terá ouvido Ricardo."
Isto leva-nos a um dos maiores problemas do futebol moderno: a voz do capitão de equipa. Na ausência de Custódio, era Ricardo quem desempenhava esta função no Sporting no jogo de ontem; e sinceramente, é uma péssima escolha para sub-capitão. Quem já ouviu a voz de Ricardo, algures entre a falta de ar de um tuberculoso e o esganiçar de uma peixeira do Mercado sabe do que falO: torna-se impossível imaginar 10 jogadores de uma equipa a respeitarem aquela vozinha de melro.
Todos os grandes capitães de equipa que conhecemos têm vozes decentes. Com a devia excepção de Cristiano Ronaldo (e o seu problema em transformar os "s" em "sh", como qualquer jogador de futebol tipo), a nossa selecção sempre se pôde orgulhar de cumprir esse critério vocal de liderança: Fernando Couto, Figo, Pauleta, mesmo o queniano Costinha... todos têm uma voz de respeito, um berro que coloca todos em sentido, que impele as tropas a remexerem dentro de si mesmas, a darem a vida pela equipa, a deixarem a pele em campo; e se formos a pensar em todas as grandes equipas europeias, facilmente chegamos à conclusão que o goloden boy do Montijo está claramente deslocado: alguém imagina John Terry a berra como se alguém lhe estivesse a apertar os tintins? Ou Puyol, do Barcelona? Ou Maldini, do Milan?Claro que não!
Por isso, Polga nunc a podia ter ouvido Ricardo naquele lance: pensou, e justificadamente, que aquele "É minha!" fosse de algum garoto na bancada, a faezr um choradinho para a mãe. Ricardo é o melhor capitão do mundo apenas numa situação: amordaçado, sem luvas e a defender penaltis de ingleses.

2 comentários:

Rita disse...

há aqui uma subreptícia (ou não) crítica maldosa às masculindades não hegemónicas...não? :P

luminary disse...

ninguém contestou a masculinidade de ninguém; apenas o respeito que uma voz grossa, ao longo do tempo, faz granjear entre as tropas. Pensando bem, isso até acaba por ser uma masculinidade hegemónica, essa história do vozeirão... :)