segunda-feira, março 26, 2007

O meu sono continua a ser o mesmo


Ontem, enquanto esperava que o meu irmão acabsse de jogar PES 6 no meu portátil para me deixar morrer mais um pouco enquanto escrevo a malfadada série, pus-me a ver televisão. Comecei a fazer zapping após o Gato Fedorento e descobri que, na RTP1, se iria desenrolar, dentro de momentos, a final dos "Grandes portugueses". Nunca liguei muito ao concurso, confesso. Já aqui exprimi a minha opinião sobre o mesmo e por isso não estava para aí virado. Mas surgiu Maria Elisa no ecrã, e por detrás dela, uns manequins vestidos como os candidatos ao prémio de Grande português. Decidi-me então por ver, aquilo tinha mesmo aspecto de programa sério.
E nos minutos seguintes, as minhas expectativas não foram defraudadas: Maria Elisa foi apresentando os concorrentes e seus defensores, tendo sempre 2 ou 3 aspectos positivos e negativos a apontar sobre os mesmos. Gostei do facto de o aspecto negativo de Cunhal ser, por exemplo, a sua admiração por regimes totalitários de Leste, ou o de Salazar ter usado a repressão durante a sua carreira política. No entanto, justificar que Camões era mau por ser brigão, ou Fernando Pessoa por afogar a sua depressão no álcool (Meu Deus, não sabia que os artistas se refugiavam nesse tipo de coisas!), mostra a parcialidade do programa: uns são os maiores, os outros parecem meninos de coro.
Mesmo assim, não perdi a esperança: Paulo Portas e Odete Santos estavam juntos, na mesma sala, a poucos metros um do outro. Quando este raro fenómeno natural se dá, temos a garantia de um finíssimo programa de humor. Não sei se isto se sucedeu durante a parte que não vi, visto que o meu irmão lá acabou por ganha a Taça Reebok e eu submeti-me ao meu triste destino. Mas algumas horas depois, fiz uma pausa e lá regressei. Apanhei mesmo Odete Santos numa diatribe contra os sinais dos fins dos tempos, nomeadamente o capitalismo e a direita. Imprevisível como um cão na época do cio, a nossa Odete. Lembrei-me então de, algures na Bíblia, um dos Cavaleiros do Apocalipse ser vermelho. O cabelo de Odete, nesse noite, estava tão encarnado, que pensei, com o tom do discurso, ser ela também um dos sinais do fim dos tempos. Mas isso não se sucedeu: afinal, Odete não declamou nenhum poema.
Soube hoje de manhã que o vencedor foi Oliveira Salazar, o que é cá uma surpresa! Algures no país, haverá gente chateada com isto. É deixá-los. Se acreditam que o fascismo vai voltar, percam vocês o sono, que eu continuarei bem descansado. Vistas bem as coisas, num tempo em que as figuras políticas parecem fracas e volúveis, e em que a menção de Salazar ou da época fascista é motivo de piada, admira a alguém que Salazar tenha ganho por esmagadora maioria? Num país que frequentemente esquece os seus heróis, não surpreende que, num voto popular, se celebrem os vilões. Eu posso ter o sono pesado, mas não vi bandeiras hasteadas, foguetes, paradas, coretjos, nada que celebrasse esta vitória. Na verdade, ter D. João II ou Aristides de Sousa Mendes nos dez finalistas foi, para mim, um sinal de esperança no meio do meu pessimismo relativamente aos mecanismos de memória nacional.
Para mais, não somos nós o povo que tem o ditado "Quanto mais me bates, mais eu gosto de ti"? Somos, não somos? Por isso, parabéns ao homem!

1 comentário:

João Santiago disse...

Pior que a 'vitória' do salazar (faço questão de escrever com letra minúscula), foi terem criado o programa.

Sinal bem negativo para a RTP, que a meu ver é o canal 'aberto' com melhores conteúdos.

Este programa tem o mesmo nível de um Big Brother, só que como este ainda me ri em algumas ocasiões da 1ª edição.