sábado, abril 07, 2007
Clássico II
A premissa é simples: num futuro pós-apocalíptico não muito distante, a Humanidade luta pela sua sobrevivência contra uma estranha raça de seres monstruosos denominados de Anjos, que são virtualmente indestrutíveis. A única esperança surge incorporada numa organização chamada NERV, que construiu 3 máquinas robóticas gigantescas e que apenas pdoem ser pilotadas por crianças específicas, designadas de Escolhidos. DE copmbate em combate, o destino de todos nós é jogado nessa arena. Ah, e é uma série de animação japonesa. Parece uma coisa dispensável e básica, não é?
Resposta errada.
"Neon genesis Evangelion" é,m porventura, um dos clássicos supremos em termos de animação japonesa, um brutal enigma metafísico e uma história sobre a procura da identidade como resposta absoluta na busca da felicidade, tudo isto disfarçado na premissa atrás referida. Embora cada personagem tenha o seu espaço, "Evangelion" centra-se em Shinji Ikari, um jovem de 14 anos que parece ter nascido para pilotar um dos robôs (?) e, portanto, salvar o mundo, mas para além de achar que não vale nada (literalmente), tem graves problemas com o pai, Gendo Ikari, que é o mentor do projecto EVA e o abandonou em criança. Shinji tem graves problemas em comunicar com as pessoas, pois teme ser ferido por elas como foi pelo seu pai, e não deixa ninguém entrar no sue mundo, onde ele julga não se poder aleijar. Na verdade, as suas duas outras colegas na pilotagem, Ayanami Rei e Asuka Langley, têm também que se lhe diga: Rei não sabe quem é (e não é só não saber o nome ou a terra em que nasceu, não sabe mesmo quem, ou o que, é, e à nossa vista, não parece nada humana, de tão estóica que aparenta ser) e Asuka esconde por detrás de um falso à-vontade um desejo em não ser criança e passar imediatamente à fase adulta, devido a traumas passados relacionados com a mãe. E isto são só 3 personagens, e a ponta do iceberg dos seus problemas...
Misto de ficção científica com imagética religiosa e profecias de variados credos, "Evangelion tem a sua força na maneira como consegue misturar todas as suas influências, sem nunca perder de vista o principal drama da série, que é a aceitação que Ikari tem de fazer dos seus problemas, de modo a ultrapassá-los. Claro que pelo meio há pancada de criar bicho para animar aqueles para quem a palavra metafísico nada mais é que um eco. Mas em última instância, "Evangelion" é a filha dolorosa de Hideaki Anno, o seu criador, que aquando da feitura da série, se encontrava clinicamente deprimido: um manula de como ultrapassar estados de alma incrivelmente negros e encontrar nas agruras da realidade não virtual luz e motivos para sorrir e para seguir em frente. Esta é a leitura que eu faço da série, mas apenas uma entre muitas. Por isso é um clássico: daqui a 100 anos, as pessoas terão os mesmos problemas existenciais e tirarão deste "Evangelion" outra interpretação. É uma série tipo-cebola, com camadas.
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