segunda-feira, junho 25, 2007

A persistência da memória

Conta César Menotti, treinador de futebol argentino, que numa tarde de tertúlia de futebol numa esplanada de praia, bebendo uma cerveja com amigos, Amadeo Carrizo, velho guarda-redes do River Plate que também lá estava, virou-se para ele e perguntou-lhe:
- Flaco, lembras-te daquele golo que me fizeste um dia em Rosário e que vocês ganharam?
- Qual...? não me recordo –respondeu Menotti
- Aquele, em que remataste muito forte que quase rompia as redes.
- Ah, sim, sim –disse Menotti
- Sabes porque o fizeste? –perguntou Carrizo e seguiu sem esperar resposta - porque me cheguei demasiado perto de ti. Aos tipos que chutam tão forte como tu, não há que se aproximar demais, pois assim fica-se sem tempo de levar as mãos à bola. Tinha que ter ficado atrás, para a poder desviar.
Esse golo de que falava já acontecera há 20 ou 25 anos, mas ele continuava dando voltas à cabeça para descobrir como o evitar. Era uma dívida que tinha com o seu orgulho. No imaginário, Carrizo nunca deixara de jogar. Continuava a fazer defesas, mas era impossível travar o tempo.

1 comentário:

ni disse...

porque por vezes transformamos os nossos erros em obsessões...