sexta-feira, junho 08, 2007

Um verdadeiro drama


Apesar do boom recente da televisão norte-americana, em que a percentagem de qualidade média das séries de ficção é elevadíssimo, velhos hábitos continuam a permanecer, minando essa mesma carapaça da qualidade. E o pior desses hábitos é o de sempre, aquele que, no fim de contas, acaba por afectar a relação entre o espectador e o m+édium televisivio: a dependência de audiências.
Nos Estados Unidos, a produção televisiva funciona de forma diferente da Europa. Obedecendo aos princípios de produção em série, cada canal escolhe de uma pilha de argumentos quais serão produzidos, mas apenas um episódio verá a luz do dia. Dessa escolha já de si específica, far-se-á outra ainda mais redutora, quando o episódio for exibido, baseada na suas audiências. Se satisfizerem, encomendam-se mais alguins episódios. Se falharem, a história fica por ali. No entanto, o processo não acaba aqui. Durante a sua exibição, a série pode ser cancelada por falta de espectadores (pelo menos, para os padrões da estação)e quer seja o modelo de 13 episódios ou o de 23, os mais comuns nos EUA, tudo pode acabar sem explicação; ou, numa sentença menos definitiva, mas igualmente prejudicial para o espectador, encurtada abruptamente. Aconteceu com a série "Homicide: life on the street", de que falei há algum tempo neste blog. A primeira season tem 9 episódios, o que é espantoso, e a segunda apenas 4... No entanto, a terceira série tem já 23. Na verdade, apenas o apoio crítico (a série era tão evidentemente boa que foi elevada ao estatuto de clássico logo na sua primeira season) e o facto de ser exibida na NBC, que normalmente apoia os critical darlings, impediu que fosse cancelada logo na sua season inicial. Passa-se o mesmo com "The wire", série de excelência que sobrevive por isso mesmo: ninguém pode negar que aquilo é, em absoluto, a hora da televisão actual com mais qualidade, mesmo que não a considere a melhor série. A HBO, que é um cana de TV por cabo, não deseja eliminá-la da programação, porque sabe que a razão pela qual o público não adere em massa é devido ao carácrter lento, detalhado e cínico do programa. Por muito bom que ele seja, não é o tipo de fenómeno de massas que habitualmente atrai espectadores. Para além disso, o seu contundente comentário social, acerca da evolução (no caso da série, involução) de Baltimore tem servido para lançar a discussão acerca do planeamento urbano e da crmiminalidade nas cidades da Costa Este dos EUA. A relevância social tem também ajudado a salvar a série.



No entanto, nos últimos anos, surgiu uma outra via de salvação para séries que vêem o fim demasiado próximo. O caso de "Firefly", um western desenrolado no espaço, vindo da mente brilhante de Joss Whedon, teve 14 episódios e foi ao ar. A Fox esperava mais e cancelou o programa. Whedon ficou furioso e jurou nunca mais trabalhar com a estação. Acabou por obter a sua vingança, quando as vendas da série em DVD foram demasiado colossais para serem ignoradas, graças a uma mobilização de fidelidade canina entre os fãs, que se auto-denominavam "Browncoats", termo retirado da série, defendendo-na com petições, convenções, sites, cartas, campanhas na Internet, compra de tudo o que se relacionasse com "Firefly"... A sua perseverança foi recompensada: a Universal comprou os direitos da série e encomendou um filme a Joss Whedon, para que pudesse fechar algumas da tramas da série deixadas em aberto.



O capítulo mais recente desta relaçao entre os espectadores e as suas séries de estimação surgiu há alguma semanas, quando a CBS, aparentemente, cancelara a segunda temporada de "Jericho", após um final de primeira temporada tão escancaradamente em aberto que seria crime não dar uma continuação, ou pelo menos, closure, à história. Os fãs pegaram na deixa de um dos personsagens, que responde "Nuts" a outro quando este lhe pede para se render, para enviarem sacas de amendoins para o edifíco da CBS. Foi então que a estação começou a repensar na sua decisão como um erro e quando se viram com 50 toneladas d amendoins nas mãos, acharam que talvez fosse melhor respeitar quem se queixava. Nina Tassler, directora de programas da CBS, anunciou antes de ontem que iriam produzir mais 7 episódios, e se as reacções fossem positivas (leia-se, espectadores), uma seaosn completa seria activada.
Só quem se dedica a uma série verdadeiramente sabe o quanto pode custar algo assim. O espectador normal faz zapping entre séries e pouco lhe importa seguir mistérios e acompanhar episódios como um todo lógico. Por isso, programas como "CSI" ou "House" são dos mais vistos no mundo inteiro: não exigem dedicação.Pelo contrário, o modelo serial, em que se inserem "Lost" ou "Jericho", para dar exemplos modernos, exige outro tratamento por parte das estações, pois os seus fãs exigem um respeito pela sua capacidade de aderir a histórias; ou no caso de "Firefly", a sua capacidade de amar personagens. Daí que a ABC tenha surpreendido toda a gente quando anunciou que "Lost acabrá daqui a 3 seasons, de 16 episódios cada, garantindo assim que os argumentisttas não serão condicionados por golpes de teatro. É uam excelente notícia para todos aqueles que, como eu, realmente amam as suas séries de televisão preferidas. Quase como se fossem pessoas.

1 comentário:

João Santiago disse...

LOST e JERICHO, aqueles que morrem por ti te saúdam!

Eu vi Jericho primeiro que o Bruno! Nha Nha Nha :P

Abraço, fica bem. Bom post!

J.