Não tenho tido grande vontade de abordar o assunto, mas o debate de anteontem, na RTP, que envolveu diversos convidados (entre os quais José Hermano Saraiva e Luís Reis Torgal, professor de História na minha Universidade, a de Coimbra, dois antagonistas naturais pela área de estudo do segundo, o Estado Novo), de vários quadrantes culturais, diversas filiações políticas e perspectivas do assunto. Se uns encaravam com uma seriedade granítica que, confesso me assustou (Joana Amaral Dias, deputada do Bloco de Esquerda, para além de só consentir que o seu grande português fosse uma ela, chegou a lançar um clima de crise de indentidade nacional caso Salazar fosse o Grande Português), outros levavam a coisa com ligeireza, o que, tendo em conta o carácter especulativo desta eleição, é o mais correcto.
No minha opinião, este concurso não será, obviamente, para ser levado a sério. É um concurso e um jogo, nada mais. Como qualquer eleição, cada um tem a sua opinião, e se mesmo um Mourinho, um Cristiano Ronaldo ou um Herman José aparerecerem com os Grandes Portugueses, ninguém se deve chocar. É a opinião pública. Claro que tudo isto vem, pelo menos, fazer crescer o interesse pelas grandes figuras da nossa História, o que é bom, por um lado, mas mau por outro, pois os percursos históricos nacionais não são apenas feitos de heróis e grandes figuras: o cidadão anónimo também faz parte desse movimento histórico e centrarmo-nos apenas em heróis fará surgir uma espécie de mitologia civil que exagera o papel das figuras e quase as santifica, não permitindo uma investgação parcial da suas vidas.
Paleio de Teoria da História à parte (salvé, Dr. Catroga), eu digo já que não consigo votar em ninuém, porque acho impossível definir o maior português de todos os tempos. Mesmo um dream team se torna tarefa espinhosa... A discussão que se gera está, pelo menos, a levar a saudáveis debates sobre perídos da nossa história que raramente discutimos e a redescobrir figuras que achávamos esquecidas. Ainda assim, alguns amigos meus têm-me pressionado, pelo menos, a revelar hipóteses que eu poderia eventualmente escolher. Para esses, deixo alguns nomes: a ser rei, D. Afonso Henriques, D. João I e D. João II; da área da cultura: Camões, Fernando Pessoa (ok, sãoi por demais óbvios estes dois), Sophia de Mello Breyner e Eça de Queiroz (não é estranho que quando queremos citar alguma grande figura cultural portuguesa, sejam os escritores quem nos vem em primeiro à memória?); politicamente, Afonso Costa e Humberto Delgado(qualquer político pós-25 de Abril não me permite o chamado distanciamento emocional); e de resto, porque não Aristides de Sousa Mendes, ou mesmo Vasco da Gama (o Pedro Álvares de Cabral teve sorte), ou mesmo... Vêem como tudo isto é inútil?
Para curiosidade, noutros países os resultados não são menos abespinhados: em Inglaterra, ganhou Churchill, com a princesa Diana a ficar à frente de Darwin, Newton e Shakespeare (!); nos EUA, Ronald Reagan foi considerado melhor que Abraham Lincoln, Martin Luther King e George Washington; e George W. Bush ficou em 5º, o que não deverá espantar num país tão jovem...; em França, Charles de Gaulle (os franceses têm quem merecem, não é?); e na Alemanha, Konrad Adenuaer. Fala-se que o concurso está em fase de produção na China. Na prática, é uma anedota: o que chamar a um top ten onde todos os concorrentes se chamam Mao Tsé-Tung? (OU então, mudam para as várias grafias, e há dez nomes diferente!)
sexta-feira, outubro 27, 2006
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1 comentário:
Sinceramente, acho que esta discussão não vai levar-nos a lado nenhum... Um português? Como é possivel escolher um? E de que área deveria ser? Um rei, um escritor, um desportista, um "o quê"?
Podiam fazer era documentários sobre muitas das figuras emblemáticas de Portugal em vez deste tipo de discussão.
Aquilo que até agora este concurso revelou foi que o fantasma do Salazar ainda não foi esquecido pelos portugueses. Pena para nós ainda vivermos sobre a sombra daqueles 48 anos...
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