Em primeiro lugar, permitam-me começar com um comentário cínico: não houve outra merdinha para mandar abaixo nestes últimos anos? É que a televisão massacrou-nos com horror de ver aquelas duas bestas de betão armado desabar sobre Nova Iorque e a dantesca nuvem de poeira que engoliu a cidade e se alimentou do medo daqueles que lhe fugiam, desejando estar a viver um pesadelo.
Passada a infantilidade, é difícil escrever sobre o 11 de Setembro, principalmente com os anos a afastarem-nos da primeira emoção que sentimos quando os aviões bateram nas Torres Gémeas: eu lembro-me de onde estava nesse dia, e de me sentir incrédulo perante o que se passava. POucas vezes na vida etsive genuinamente arrepiado com algo, assustado mesmo; mesmo tendo gravado umas brincadeiras com os amigos (triste coincidência desse 11 de Setembro) nesse dia, algo que marcáramos previamente, parte de mim estava a pensar em tudo aquilo.
Passados 5 anos, o que me sobra? Primeiro, a sensação de que o mundo mudou, para pior, muito pior. Se antes tínhamos fanáticos religiosos a lutar numa jihad, agora temos neo-cons a lutar por qualquer coisa que por muitas voltas que dê, nunca deixará de me soar a algo sinistro e sociopata; em segundo, a desconfiança, lançada por teorias da conspiração e por documentários como "Loose change", que passou da RTP (arrojo por parte da estação pública, bravo...) e que levantam muitas dúvidas sobre o que se passou nesse dia. Mais informações em www.loosechange911.com. Ninguém sabe o que é verdade; terceiro, um espectro que paira sobre todos nós, algo de sujo, algo de horrível... Uma sensação de que, após Madrid e Londres, algo de errado se passa. Como se o Ground Zero tivesse aberto um buraco para uma caixa de Pandora onde o valor da vida humana é zero e todos nós fôssemos simplesmente estatísticas.
Depois daqueles eventos, não há inocência. Só é parvo quem quer. Essa é a maior herança do 11 de Setembro: torna-se difícil de acreditar em algo de bom; e no entanto, a Humanidade pode perfeitamente vencer esse desafio. Resistir à tirania, seja ela governamental ou terrorista, e aprender a viver como deve ser.
E é por isso que neste post não há imagens: isso é diminuir as coisas, isso é transformar dores em entulho. E as dores não são entulho: quanto muito, são adubo de esperança.
terça-feira, setembro 12, 2006
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1 comentário:
Em relação ao "Loose Change", concordo contigo que é preciso congratular a estação pública pelo seu arrojo em escolher um documentário/programa/filme contra a corrente (não é o primeiro que vejo na tv portuguesa), embora ache que escolheu mal o filme. "Loose Change" é para mim uma teoria que se sustenta em vários argumentos técnicos que o telespectador não pode julgar, para além do facto que aquilo tudo parece-me muito irreal e macabro. Essa teoria que foi o próprio governo a elaborar o 11/9 surgiu logo após os ataques por um ou outro jornalista anti-bush, mas rapidamente despareceu por falta de sustentação.
Quanto ao 11/9 propriamente dito, é verdade que muita coisa piorou, mas também é verdade que há mais segurança. O que as pessoas têm em mente são atentados em Madrid e Londres, mas esquecem-se das dezenas de ataques de grande escala evitados só na Europa. É preciso lembrar que a luta (prefiro este termo a guerra) contra o terrorismo é desigual.
Outra coisa é a invasão de privacidade sobre este pretexto. Quanto a isso, acho que sempre existiu esse abuso, só que agora é mais recorrente.
O pior do 11/9: o anti-americanismo irracional na Europa (a quem digo isto ;)). Uma coisa é dizer algumas coisas más que o EUA têm, outra é porque é americano é mau.
Talvez acha mais assunto para falar depois, mas agora estou com pressa e isto já vai longo. Abraço.
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