quinta-feira, janeiro 25, 2007

Road to Oscars 2007: "Little mis sunshine"


Como já fiz, há algum tempo, a review de "The departed", "Little miss sunshine" não abre a minha oscar season de análise dos nomeados. No entanto, a saga oscariana continua.
Tentando ser conciso, "Little miss sunshine" (LMS) é um, vá lá, melodrama bizarro sobre uma família disfuncional aind amais bizarra. Vindo do mundo da criação independente, e distribuído pela divisão indie dos estúdios Fox, a Fox Searchlight, tem assim uma temática particular ao sugénero independente do cinema dos EUA, com personagens estranhas, ligadas familiarmemte entre si e que mostram no ecrã uma atmosfera familiar fora do comum. Embora não parecendo, o ponto de partida é um cliché. A pedra de toque do filme é um concurso de beleza infantil, em que participa a mais nova do clã, Olive (Abigail Breslin), sendo que a restante família se decide, a bem ou a mal, a acompanhá-la. Por isso, um pai demasiado obcecado com o sucesso e com a dicotomia vencedor/perdedor (Greg Kinnear), uma mãe que tenta segurar a família, como quase todas a mães tentam (Toni Collette), um filho mais velho que se recusa a falar e lê Nietzsche (Paul Dano), um avó cocainómano e com um boca suja (Alan Arkin) e um tio gay e suicida (Steve Carell) embarcam numa carrinha Volkswagen amarela, e a cair aos bocados,e decidem encetar a viagem de Albuquerque até à Califórnia.
Realizado por Jonathan Dayton e Valerie Faris, é aquilo a que se pode chamar um filmaço. Primeiro, porque o argumento de Michael Arndt é em si uma pequena pérola. Não nos atira com moralismos à cara, apresenta-nos personagens que nunca nos soam a arquétipos, por isso são-nos reais, e com uma análise dos conceitos de família e normalidade incrivelmente directa, mas nunca com ar de quem quer dar uma lição. Enche tudo de pequenos pormenores (desde os problemas da carrinha até aos pequenos problemas que cada personagem enfrenta). Além disso, executa a escalpelização definitiva da obsessão americana com concursos de beleza. O casal de realizador, vindos do videoclip ("Tonight, tonight", dos Smashing Pumpkins", é deles, tentam não se meter no meio do argumento, e conseguem-no, o que já é muito. Há pormenores particularmente deliciosos, embora no geral a realização seja apenas boa.
LMS tem a sorte de contar com excelentes intérpretes, onde se destacam, naturalmente, Abigail Breslin, como uma menina de que é impossível nao gostar, e Steve Carelll, um dos grandes esquecidos dos Óscares deste ano. A sua interpretação é superior à de Alan Arkin, que foi nomeado, em tudo: a sua performance, por vezes de levar às lágrimas do riso, é assombrada pelos seus olhos, melancólicos, por onde passa uma tristeza imensa, fazendo lembrar Bill Murray nos seus tempos recentes.
Gostei mesmo deste filme. Aliás, um filme que inclui Sufjan Stevens na sua banda sonora é à partida uma coisa com gosto. E quantas fitas viram nos últimos anos que vos fazem querer, na sequência final do filme, aplaudir de gozo completo perante uma das redenções mais estranhas de personagens jamais vistas? Vale a pena descobrir o nosso inner freak.

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