terça-feira, janeiro 24, 2006

Road to the Oscars: "Good night and good luck"



O ponto de partida: George Clooney decide realizar sobre um filme que conta a epopeia de um jornalista norte-americano, que num tempo em que o Governo do seu país condiciona subtilmente a liberdade de imprensa, denuncia a perseguição generalizada a uma minoria ideológica por entidades governamentais e também a errada actuação das mesmas. Já agora, contextualizo, para que não haja confusões: o filme passa-se na década de 50...
"Good night, and good luck", a segunda experiência de Clooney atrás das câmaras, retrata essa luta, travada por Edward R. Murrow, apresentador de um programa jornalístico da CBS, contra os abusos do Macartismo, cuja figura de proa era o senador Joe Mcarthy, figura anedótica que calcorreou a América em busca de comunistas e inquiriu dezenas de pessoas em nome da erradicação dos "vermelhos (ou "pinkos", na versão americana), transformando os EUA, a chamada pátria da democracia e da liberdade de expressão, num país em que se podia ser despedido ou ter a vida condenada ao fracasso simplesmente por se tere leves simpatias esquerdistas.
Esta luta, épica, é filmada por Clooney num irrepreensível modo minimalista, nunca deixando uma história que se dá ao chavão "maior que a vida" sair da esfera humana, restrita aos homens da CBS nela envolvidos, nomeadamente Murrow, o seu produtor Fred Friendly e o director Bill Paley, passando pelos vários jornalistas que de uma forma ou de outra foram tocados pela polémica. O filme é muito eficaz nesta denúncia, que apesar de se centrar nos anos 50, não deixa de lançar o debate sobre o actual estado do jornalismo norte-americano, e talvez mundial, principalmente nas palavras e monólogos da personagem de Murrow. Onde acaba por falhar em certa medida é na construção de personagens para lá desse círculo, sendo que algumas sub-intrigas (nomeadamente o casamento oculto entre o personagem de Patricia Clarkson e o de Robert Downey Jr.) a não serem mais que metáforas para a mensagem que se quer transmitir, o que provavelmente acaba por se ajustar nos objectivos de Clooney, ao comprometendo por isso a sua visão de realizador. Incrível ver um homem que é símbolo do satr system hollywoodesco a querer ser um auteur de uma forma tão determinada.

No elenco, há vários nomes conhecidos: desde Clooney a Frank Langella, passando pelos já referidos Clarkson e Downey Jr, e acabando em Jeff Daniels e Ray Wise, mas o destaque vai obviamente para a composição da figura de Murrow efectuada por David Strathairn, o sempre subestimado actor fetiche de John Sayles e um dos segredos mais bem guardados do cinema independente norte-americano. Fisicamente, está perfeito, na pose, no olhar e na voz; e interiormente, aparenta a calma rochosa tradicional de Murrow e uma obstinação que se nota em pequenos pormenores de expressão facial, gestos ou voz, num minimalismo de quem percebe mesmo do assunto. É incrível.

Em suma, um filme que de certeza está lá nessa noite. Clooney é o homem do ano para a Academia e este ano é para os filmes denúncia. resta saber o que limpará. Strathainr, a não ser nomeado pelo menos, será um roubo. De qualquer forma, os meus parabéns ao doutor Ross!

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