quinta-feira, março 23, 2006

Cinema: "V - for Vendetta"



"V - for Vendetta" é um filme potencialmente perigoso e, em certa medida, um teste psicológico: obriga-nos, como seres humanos podenrados e esclarecidos que somos, a vê-lo e a sair da sala de cinema com as respostas certas. Isto, num filme em que o herói é um terrorista chamado V, cujo objectivo é dinamitar literalmente a sociedade, encaixando pelo meio um plano pessoal de vingança, será à partida desprezarmos tal personagem e reprovarmos as suas acções. Pois bem, sou um ser humano que não é nem ponderado, nem esclarecido: se V viesse a minha casa e me pedise para colaborar nas suas acções, fá-lo-ia com todo o gosto.
Contextualização, em primeiro: no filme, vive-se num estado britânico fascista, que muito deve ao Orwelliano "1984", em que o clima de medo, delação e vigilância está em alta e a discriminação sexual é rainha e a liberdade de expressão é um mero conjunto de palavras. Junte-se a isto um líder conservador fanático, com ideias de grandeza, um chefe da polícia scereta sem qualquer tipo de escrúpulos, padres pedófilos, manipulação de informação e um mundo desgraçado devido às atitudes belicistas de uma país que não vou aqui nomear (tem 3 palavras, cuja sigla é EUA e mais não digo) e temos aqui festa.
"V - for Vendetta" vem rotulado de agitador e moralmente ambíguo, mas acaba por não defender o terrorismo a toda a linha: convenhamos que se vivessemos em tal nação, estes métodos não me pareceriam descabidos, e em certa medida o filme acab por parecer incrivelmente perigoso porque vivemos num mundo com algums destas características, nomeadamente na reinvenção dos acontecimentos históricos pelos Media (um dia, falaremos aqui da verdadeira história por detrád da guerra na ex-Jugoslávia...) e num Estado que cada vez mais quer controlar os cidadãos. Utlimamente, a toada conservadoara que varre o mundo tem tentado desvalorizar os actos de violência que construíram as nossas liberdades. Por isso é que, há dois anos, um governo PSD quis transformar a Revolução de 25 de Abril em Evolução, retirando-lhe o carácter de luta, segundo eles porque não se dveia politizar a data. Se não se pode politizar essa data, em que mundo vivemos? Parece exagero e péssimo dizer isto, mas às vezes, a violência pode ser o único método de mudar as coisas. Não gosto da ideia, mas é um facto. Não quer dizer que seja um factor purificador e que resolverá tudo, mas temos casos ao longo da HIstória onde a luta pelos direitos das pessoas só foi possível através desse método. É o mais correcto? É aqui que entram a noss aponderação e o nosso esclarecimento? No filme, o próprio V não é glorificado, ou elevado ao estatuto de santo, apenas de herói, e hoje em dia o estatuto de herói pode ser incrivelmente ambíguo.
Portanto, longe de ser uma glorificação do terrorismo ou um cocktail explosivo de ideias anarquistas, o filme é corajoso, arrojado, mas só até certo ponto: não se compara à alegria libertária e de "soco na cara" que é, por exemplo, "Fight club". Evey, a personagem desempanhada por Natalie Portman, representa-nos, como iniciados no trilho da verdade, mas acaba por fazer apenas isso no filme: percorrer o caminho que libertará a sua mente. É V, homem sem cara que simboliza uma ideia maior que ele, que realmente faz a diferença e pode mudar o mundo. Como ele diz a certa altura, "as ideias são à prova de bala"; e acaba por ter razão, para o bem e para o mal: quanta gente não está disposta a morrer por uma ideia nos dias de hoje?
O grande destaque do filme vai, claramente, para Hugo Weaving, como V: apesar de nunca lhe vermos a cara, sentimo-lo e transmitir tudo apenas através da voz, é de excelência. A sua modulação de voz e manipulação do discurso é quase musical, carregando na sílabas das palavras no momento certo, dominando as suas falas com grande mestria. Nartalie POrtman, que vai bem no filme, mas sem uma interpretação do outro mundo, era falada através da cena em que corta o cabelo; e não, não é gratuita. Somboliza algoi mais do que marketing do filme. O realizador James McTeigue não vai mal, é competente, mas dei por mim a pensar no final, que se os mesmos homens que escreveram o filme o realizassem, a obra podia dar o salto que lhe falta de pssar do bom para o Excelente: os manos Wachowsky. O seu argumento faz-nos perdoar as alarvidades que foram as sequelas de "Matrix", pois está completamente à Wachowsky: uma intriga que seguimos com prazer, questões pertinentes sobre o nosso mundo e frases deliciosamente citáveis como "O povo não devia ter medo do seu governo, o govenro é que devia ter medmo do sue povo." A adaptação da BD de Alan Moore e David Lloyd é fiel, mas com os Wachowky e a sua mística, por vezes de cópia descarada, na realização podia ter elevado esta fita.

Aconselho "V - for Vendetta" a quem não tenha medo de enfrentar o lado libertino e anarca que existe dentro de nbós e que olha para este mundo e se questiona de como chegámos até aqui. No entanto, camos com calma: o filme não é nada de assim tão explosivo, porque num mundo onde estar do contra acaba por ser, afinal, uma marca comercial, este filme é um reflexo disso mesmo, tal como o foram alguns nomeados dos Óscares deste ano ou o ´labum "American idiot", dos Green Day. Aliás, falanod dos nomeados, quando reflectia sobre este filme, recordei-me de "Munique": se o filme de Spielberg coloca terroristas e agentes sceretos no memso prato da balança, "V - for Vendetta" equipara o heroísmo de um terrorista com outros personagens que admiramos por os combaterem. Mais do que as suas ideias libertárias, é a tradição de relativismo moral que este filme continua e que poderá confundir os mais susceptíevis que transforma "V - for Vendetta" e V em algo de incontornável neste ano de 2006 e numa actualidade em que se comparam Bin Laden e o presidente do chamaod Mundo livre em termos semelhantes.

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