terça-feira, janeiro 15, 2008

"Control"


Tomei a decisão de ir ver "Control" logo após ver o trailer. Não sou fã de Joy Division, ou da figura de Ian Curtis, simplesmente porque não conheço muito. Como qualquer pessoa que consegue distinguir os U2 dos 2Unlimited, sei da existência de "Love will tear us apart" e que Ian Curtis se matou. O meu conhecimento acaba aí. O que me levou a ver o filme foi a magnífica fotografia a preto e branco, a possibilidade de ver um excelente fotógrafo a fazer um filme (o que seduz, de imediato, o fascínio que tenho pela composição de planos num filme) e, pronto, a identificação óbvia com um tipo que passa a vida deprimido, julga que todos o odeiam e pensa que não tem qualquer talento, apesar de lhe dizerem o contrário.
O filme aborda principalmente a figura de Ian Curtis e a sua relação com a mulher Deborah, a que não será alheio o envolvimento desta como produtora de "Control". Acaba por ficar assim um pouco de lado a própria história dos Joy Division como banda, o que, na minha opinião, acaba por melhorar o filme, pois transforma-o num interessante estudo da pessoa de Curtis. O realizador aproveita, por isso, para se centrar na pessoa e não no mito. Tendo em conta que boa parte dos potenciais espectadores do filme são precisamente pessoas que endeusam Curtis, não deixa de ser uma decisão corajosa. Ao aplicar isto, Corbijn dá a que não conhece Joy Division a mesma oportunidade para gostar do filme: estamos a ver uma história, a evolução de uma personagem. Isto é o básico de um filme, seja ele qual for.
O suicídio de Ian Curtis é o corolário de tudo o que nos é mostrado e torna-se portanto tentador que o filme arranje uma explicação para o mesmo. Apesar de nos dar pistas, não os faz, o que obriga o espectador a ter em atenção os pequenos pormenores de Curtis e a arranjar a sua própria explicação. Curtis evolui de jovem com 16 anos extremamente auto-confiante, crente de que vai ser uma grande figura e seguro de si o suficiente para casar bem cedo para um homem despedaçado, cheio de dúvidas, egoísta, incapaz de tomar decisões, com um enorme medo de morrer (o que é paradoxal, visto que sabemos que ele se suicidará) e a temer o sucesso. Como é que um homem passa por isto e se trona num cobarde? Saltando fases de crescimento, talvez. O mito "Ian Curtis" tem os mesmos problemas que eu, o Zé, o Manel, o Vitó, a Maria e a Ana. De súbito, é um tipo como nós, apenas num nível muito mais elevado artisticamente. Mais do que a música que ele fazia, foi precisamente isso que me manteve o interesse nele. Curtis foge de um lado para o outro, não se sabe bem de quê, talvez da responsabilidade; e quando foge para a música, toca nas pessoas, transcende-se e sem o querer, transforma a vida dos outros. É o clássico exemplo do artista torturado, algo a que Corbijn foge habilmente: se Ian Curtis não fosse músico e o filme existisse na mesma, sentiríamos o mesmo. Esse é o grande trunfo do filme. No entanto, por vezes, Corbijn não resiste e joga com as nossas expectativas. numca cena em que Bernard Summer, o guitarrista dos Joy Division, hipnotiza Curtis, este, em estado de transe, relembra alguns dos diálogos que já ouvimosdurante o filme, e pelo meio, subliminarmente, Corbijn não resiste a enfiar duas imagens de uma corda de roupa. O mito do suicida cruza-se com um momento intimista que não rpecisava de todo disso. Por aquela altura, acho que qualquer espectador inteligente conseguira entender o estado de espírito de Curtis.
A destacar está, claramente, o desempenho de Sam Riley, muito credível como personagem, e, como constatei mais tarde, um imitador perfeito de Curtis na performances em palco. Riley, que não é actor, caracteriza o ar frenético do vocalista dos Joy Division e tem o desafio de mostrar quase uma carcaça vazia de emoção, algo que sabemos não ser verdade, porque quem escreve as músicas que ele escreveu, devia sentir alguma coisa. Essa dualidade é transmitida por Riley na perfeição. No entanto, é Samantha Morton, que tem sido pouco destacada, que agudiza toda a situação que Curtis vive. O facto de nos apercebermos, enquanto o filme decorre, que Deborah é o contrário daquilo que Curtis quer, e ao mesmo tempo não cedermos à tentação de a vilanizarmos por iss e compreendermos até o sue drama, é completamente mérito de Morton, que nos faz entender Deborah Curtis, sem que tenhamos necessariamente que torcer por ela. Destaque também para a bela Alexandra Maria Lara como a amante de Curtis, ingénua e consciente ao mesmo tempo e com medo de se apaixonar. Haja alguém que confesse esse medo... A realização de Corbijn é a de um fotógrafo: planos muito lindos, semelhantes a fotografias e um trinfo nas ecenações de palco, mas ainda assim, parece faltar qualquer coisa de ritmo ao filme. No entanto, é a sua primeira obra, e louvável por isso.

Um filme para espectadores que gostem de filmes que se demoram nos seus intentos, mas claramente, uma experiência muiot mais gratificante para quem já gosta de Joy Division e tem interesse em Ian Curtis. É uma boa obra, embora não chegue a ser excelente, que é uma das biografias musicais mais interesantes dos últimos anos.

2 comentários:

Vítor H. Silva disse...

Por muito que me esforçasse, não diria melhor!

Spot on, spot on, my dear sir!

Anónimo disse...

apoiado. um filme que parece uma fotografia.