domingo, janeiro 20, 2008

Tripla e rápida review


"Charlie wilson's war"

Mike Nichols é uma especialista em sátira política e de costumes: "Catch 22", "Primary colors" ou mesmo, se quisermos ser picuinhas, "Birdcage", estão no seu currículo para o comprovar. Neste filme, quando toda a gente se vira para o terrorismo e para a presença actual dos EUA no Iraque, Nichols teve a clarividência de começar a escavar em redor da raiz do problema e regressar aos anos 80. Protagonista? O congressista norte-americano Charlie Wilson, bon-vivant, mulherengo e manate da boda vida, características que não associamos a políticos, apenas a Santana Lopes. A situação? O fornecimento de armas aos mujahedinnes afegãos, na sua luta contra os invasores soviéticos. Como personagens mais secundários, temos Joanne Herring, milionária texana a quem Charlie Wilson obedece sem pestanejar, e Gust Avrakopoulos, um dos 4 homens da CIA encarregues de tratar da questão afegã.
O filme decorre com fluidez, graças ao argumento bem estruturado de Aaron Sorkin, e sem nunca ressoar a moralista, graças à carismática (e diga-se, muito boa) interpretação de Tom Hanks como Wilson: um homem é inteligente, mas gosta ao mesmo tempo das coisas boas da vida. Ser político parece-lhe uma boa ocupação...
Todo o processo de fornecimento de armas, que Wilson urde praticamente às escuras do Congresso, envolvendo outros países do Médio Oriente em complicado equilíbrio diplomático, e faz aprovar porque é tarde demais para voltar atrás, é retratado com humor e está claro que faz com que os afegãos ganhem a guerra. O problema é o que vão os EUA fazer a seguir a essa vitória, conseguida num país estrangeiro, por métodos subterrâneos. Quando se chega à conclusão que o orçamento da operação Afeganistão foi de 500 milhões, Wilson pensa quem um milhão a mais para construir escolas não será problema, e pede-o. É-lhe negado, porque afinao trabalhod os americanos acabou. Wilson diz sabiamente: "Andamos pelo mundo, espalhamos os valores americanos, e dpeois vimo-nos embora como se tivéssemos cumprido a nossa missão." Touché! Interessante, um bom filme para quem está farto de abordar a política externa americana no cinema de forma pesada, mas longe de ser um filme incontornável deste ano. Destaque também para Philip Seymour Hoffman.


"Juno"

O "indie darling" deste ano vem das mãos de Jason Reitman, filho de Ivan, e autor do irreverente "thank you for smoking", filme de 2005 sobre a indústria tabaqueira, com argumento chico esperto e muitos truques visuais na manga. Em "Juno", Reitman abranda a parafernália, até porque a história não é tão delirante: Juno McGuff, um nome que, ela faz questão de firsar, não é alcunha, engravida depois de uma noite de sexo com um amigo. Embora ainda considere abortar, desiste de o fazer e arranja um casal que lhe parece perfeito, a quem dará o bébé para adopção quando este nascer. O filme retrata o percurso de gravidez da jovem.
Em primeiro, destaque para o palavroso e saboroso argumento de Diablo Cody, que é rico em diálogos e faz os seus personagens adolescentes falarem como se tgivessem nascido a meio de aulas de espírito. Já para não falar na personagem de Juno, que é uma criação bastante diferente da condição feminina adolescente, por um pequeno pormenor: soa a real e ao mesmo tempo a irreal. Claro que o poder da personagem é amplificado pela magnífica e personalizada interpretação de Ellen Page, que me fez esquecer, durante hora e meia, da sua personagem em "Hard candy" e acreditemk que é diferente, se não viram o filme). No fim, é impossível dissociar a actriz do personagem. É raor haver um filme assim, contado a partir das perspectivas de duas mulheres: a personagem de Page, que é a mão natural da criança, e a da futura mãoe adoptiva, uma executiva que quer engravidar e não consegue, numa interpretação de Jennifer Garner. Isto sem nos soar a girl movie durante 90% do tempo.
Uma boa pérola, uma comédia excelentemente escrita (outra raridade), que se aconselha a quem acha que não se podem faezr filmes sobre a questão do direito à vida que não se levem demasiado a sério.



"No country for old men"

O filme de que se fala quando o assunto é Óscares: a crítica adora-o, conseguiu se ro filme mais bem sucedido da carreira dos Coen, facturando acima dos 50 milhões de dólares e tem sido apontado como o principal candidato ao careca dourado. E é justificado?
Sim, é. Não é, na minha opinião, o melhor filme do ano. Mas é um grande filme. A história conta-se em poucas palavras: Lewellyn é um rancheiro texano que encontra, nas suas deambulações, uma maa com dinheiro. Embora desconfiando, e com razão, que se tratab de dinheiro ligado ao tráfico de drogas, fica com ele. Mas os verdadeiros donos do dinheiro querem recuperá-lo e mandam no seu encalço Anton Chigurh, um assassino que faz Átila, o Huno, parecer o nosso avôzinho querido. Enquanto Chigurh persegue Lewellyn, o xerife Ed Tom Bell persegue-os a ambos.
Os Coen sempre mostraram ser muito bons quando decide dirigir filmes secos, que parecem quase desprovidos de qualquer emoção, com personagens tão ressequidas como o deserto, seja ele gélido ou nevado, que habitam. Por isso os recordamos por "Blood simple" ou "Fargo", e não "The ladykillers" ou "Intolerable cruelty". As únicas excepções aplicadas serão, talvez, "The big Lebowsky" e "Arizona Jr.", mas estamos a falar de dois filmes anormais. "No country for old men" é um filme tão seco que nem tem banda sonora, e é um thriller. Ainda assim, funciona de forma diabólica, devendo-se isso a uma cirúrgico trabalho de montagem, de uma precisão sem falhas. É também um filme que depende, decorrente disto, das interpretações para que nos consiga chegar. Josh Brolin e Tommy Lee Jones estão muito bem, como duas faces do duro texano: Brolin, como Lewellyn, é aquele que se recusa a ser ajudado e pensa que se pode desenvencilhar de todos os problemas, confiando no seu desembaraço, um homem que ainda pensa que é muito bom. De facto, apenas quandom se deixa afastar do sue objectivo é que falha; Tommy Lee como o xerife Tom Bell, é a experiência, alguém curtido pela vida, e que apesar de a tradição de xerife lhe correr na família e ele ser um polícia natural, o mundo em que vive ultrapassou-o em termos de maldade, de sede de sangue e de crime. É um país no qual não se inclui.
Mas por muito que os Coen realizem e escrevam bem este filme e este tenha estas duas boas interpretações, "No country for old men" não resultaria sem Anton Chigurh, ou seja, Javier Bardem. Um portentosa interpretação, que com grande probabilidade lhe valerá o Óscar de actor secundário. Chigurh é o mal: gosta de matar, e pronto. Varre o filme como um cavaleiro do Apocalipse que não quer deixar nada com vida. Inflitra-se na vida de pessoas honestas e más, tocando-lhes e tornando-as corruptas. Não tem piedade, é objectivo e é implacável. Não precisa de razões para matar, e a única coisa que o pode impedir de o fazer é a sorte do virar de uma moeda. Matança aleatória: o derradeiro vilão. Bardem nunca se preocupa com tornar o vilão gostável: interpreta-o como alguém normal, que nem sequer justifica o que está a fazer como certo. É um turbilhão no ecrã que nos perturba. Claramente, ele substitui a banda sonora do filme no criar de sobressaltos.
Um dos filmes do ano, com um dos finais mais enigmáticos do cinema recente. Vejam-no e dpeois falem comigo.

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